Um dos maiores projetos de mobilidade urbana do Sudeste brasileiro, com uma complexa engenharia e uma equação complicada para acomodar todas as variáveis de seu trajeto urbano, vai aos poucos ficando mais claro. Considerado uma das “joias da coroa” do governo paulista, o Trem Intercidades (TIC) tem tudo para, se concretizado, desafogar a malha rodoviária e ordenar o fluxo de passageiros entre importantes regiões metropolitanas.
Segundo a Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos, “é, de longe”, o mais ambicioso projeto proposto pela Pasta”.
A ideia de recriar uma ligação ferroviária de qualidade passando por cidades densamente povoadas tem mais de três décadas. “Mesmo diante de uma grave crise que impacta a capacidade de investimentos, existe um ar de otimismo que poderá fazer com que este sonho saia do mundo abstrato das ideias e ganhe forma”, avalia material divulgado à imprensa pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
Neste material são detalhados temas e passos que procuram esmiuçar as dificuldades e projetar horizontes. De acordo com a CPTM, grupo de estudo montado para tocar o projeto revela que duas propostas estão sendo formuladas, em razão dos múltiplos atores envolvidos na cena. Isso é necessário em razão de parte da chamada faixa de domínio (território de exclusividade da ferrovia) pertencer ao governo federal. No trecho entre Barra Funda e Jundiaí, por exemplo, parte do trecho é de responsabilidade da MRS Logística, enquanto no trecho entre Jundiaí e Campinas o trecho já pertence à Rumo Logística.
Na semana passada, o Trem Intercidades foi debatido com vereadores de Campinas. A eles foi exposto o estágio do projeto, além de uma série de informações importantes da esfera pública. O encontro se deu no âmbito da Comissão Permanente de Assuntos da Região Metropolitana da Câmara de Campinas, presidida pelo vereador Luiz Cirilo (PSDB). Além do impacto na mobilidade, Cirilo exalta os ganhos ambientais com o TIC. “Esse benefício também se estenderá ao meio ambiente, diminuindo a emissão de carbonos contribuindo para a Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável”, diz o vereador.
O encontro virtual contou com a presença do secretário estadual de Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, técnicos e outros parlamentares campineiros (membros da comissão) como Arnaldo Salvetti (MDB), Eduardo Magoga, o Du Tapeceiro, (POD), Juscelino da Barbarense (PL) e Rodrigo da Farmadic (DEM).
A ligação São Paulo-Campinas poderá ser o trem mais moderno e eficiente do Brasil
Duração da viagem
O governo estadual projeta uma viagem no Trem Intercidades entre Barra Funda e Campinas, realizando uma parada na estação de Jundiaí, com duração de 1h05min a uma velocidade média de 100 km/h. Os trens deverão comportar até 500 passageiros por composição. Quando estiver tudo pronto e integrado, a previsão é de 50 mil passageiros/dia no TIC.
O Raio X do TIC
♦ Extensão: 101km
♦ Ligação: São Paulo-Americana
♦ Velocidade comercial: 100km/h
♦ Tempo de viagem: 1h05
♦ Intervalo: 15min (horário de pico)
♦ Estações: 3
♦ Capacidade: 500 passageiros (sentados)
♦ Demanda: 50 mil passageiros/dia
As obras
As obras do TIC serão contratadas pela iniciativa privada. O projeto é complexo e necessitará de vultuosos investimentos que serão compartilhados entre o governo do estado e a futura concessionária. No encontro, o vereador Paulo Gaspar (NOVO), de Campinas, perguntou sobre a matriz energética que será utilizada nos novos trens.
O secretário-executivo dos Transportes Metropolitanos, Paulo Galli, esclareceu a dúvida do parlamentar campineiro, respondendo que os trens que serão adquiridos pela concessionária deverão ser sustentáveis podendo utilizar o biodiesel ou até mesmo matriz elétrica. Trecho entre São Paulo e Jundiaí possui rede elétrica, sendo necessário apenas a expansão até Campinas.
O presidente da Comissão de Assuntos da RMC, vereador Luiz Henrique Cirilo, questionou o governo sobre o prazo para as obras. O secretário Galli esclareceu que, assim que o contrato de concessão for assinado, a concessionária poderá realizar a implantação do TIC dentro de um prazo de 4 anos. Cabe lembrar que o prazo é uma estimativa que está sujeita a todas as adversidades de uma obra de grande porte. O plano de investimento prevê que dentro dos 7 primeiros anos de concessão todos os investimentos já deverão ter sido realizados por parte do parceiro privado.
Outra questão importante foi a da “queda” no desempenho do projeto. O TIC originalmente previa que a maior parte da malha seria em via dupla e totalmente segregada do trecho de cargas. A velocidade dos trens poderia chegar a até 200 km/h. Segundo as explanações do secretário-executivo, o projeto teve que ser readequado dentro das limitações financeiras e do cenário atual que estamos enfrentando. O projeto buscou compatibilizar o menor investimento dentro da maior eficiência possível. Originalmente o custo do projeto do TIC era orçado em US$ 5 bilhões, o que seria equivalente a R$ 25,5 bilhões. O custo previsto atualmente é menos da metade daquele planejado em gestões passadas.
Se tudo correr bem, o projeto seria consolidado a partir de 2023 – ou seja, a operação propriamente dita, com trens rodando, em 2027.
Com informações de Jean Carlos (CPTM)