Arauto quer dizer mensageiro ou porta-voz. Geralmente é associado ao conceito de evangelização. Mas, em tempos de ódio e intolerância, o arauto tem a função de propagar boas novas. Na prática, é tudo que se espera da sociedade contemporânea, mergulhada em desafios hercúleos de polarização política e incivilidade. É neste contexto que o padre Luiz Roberto Teixeira Di Lascio, da Arquidiocese de Campinas, propõe um projeto de construção de uma galeria de ícones da esperança na Praça Arautos da Paz, no Taquaral, em Campinas.
O sacerdote defende na praça pública um espaço de cultura e cidadania, onde os visitantes poderiam apreciar a galeria de personagens que tiveram ou ainda têm importância histórica no mundo.A ideia central é despertar o desejo no visitante, principalmente nas crianças e nos jovens, de se tornarem um agente multiplicador de ações em favor da cultura da paz”, acentua Di Lascio.
Ele vislumbra uma série de painéis com foto e uma pequena biografia do personagem. Essa galeria seria um espelho para a sociedade se inspirar ou pelo menos colher mais informações de personagens que são reconhecidamente ícones da esperança.
“Defendo a valorização do espaço da praça. Ir além de sua função recreativa de lazer ou entretenimento, mas para um tributo de conscientização e reflexão do ser e agir do cidadão brasileiro”, apregoa Di Lascio.
O padre se refere ao atual momento de uso público da Praça Arautos da Paz, com a sua função muito mais de abrigar praticantes de atividades físicas e recreativas, como caminhantes, skatistas e patinadores. Ele entende como legítima essa função, mas acha que a Praça Arautos da Paz pode contribuir muito mais para a sociedade.
A história da Arautos da Paz
A Praça Arautos da Paz foi construída em 2001. Ela foi concebida na esteira do apoio do então prefeito Antônio da Costa Santos (PT) e de urbanistas campineiros. Sua missão original foi abrigar o 14° Congresso Eucarístico Nacional, evento da Igreja Católica.
Para isso, a Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), em 1999, organizou um concurso entre os professores da instituição com o objetivo de criar o projeto arquitetônico do local. Após a análise dos trabalhos recebidos, professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – Joaquim Caetano de Lima Filho, Izaak Vaidengorn e José Roberto Merlin – foram os vencedores.
Ao seu redor, foram plantadas cerca de 700 espécies nativas da região como o jacarandá, ipê, córdia, jatobá e cabreúva e a área central, por sua vez, ficou livre para os eventos.
Oficialmente, a Praça Arautos da Paz foi inaugurada pela Prefeitura Municipal de Campinas, em 2004, com um Ato Ecumênico pela Paz. Com 65 mil m², a Arautos dispõe de uma grande área gramada, um palco coberto, uma passarela de acesso ao palco, dois conjuntos de sanitários públicos (hoje, em péssimas condições), cabine para comando de luz e som e uma rampa de skate
A área próxima à Lagoa do Taquaral sempre foi subutilizada. A cidade cobrava a sua revitalização. Hoje o espaço se constitui em uma das maiores áreas para o lazer da população campineira.
Com capacidade para 80 mil pessoas, a Arautos da Paz já recebeu eventos como as tradicionais festas juninas (Festa do Nhô Tonico), as comemorações natalinas da Prefeitura (Festa Magia do Natal), missas e shows como uma apresentação apoteótica da dupla Chitãozinho e Xororó.
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“As palavras arrastam e os exemplos voam”
É assim que o padre Luiz Roberto Teixeira Di Lascio resume o sentido de sua proposta, relatada ao Hora Campinas. Comunicador nato, o padre tem inúmeras contribuições para a comunicação evangelizadora, com produção de livros, artigos e projetos que valorizam a vida e a cidadania. Di Lascio é colaborador do Hora, onde contribui com artigos na editoria de Opinião.
Para ele, a galeria de ícones da paz na praça pública teria a função de “uma Tribuna Livre”, espaço que seria apropriado e vocacionado para debates, roda de conversas e apresentações culturais e artísticas, além de projetos que visem o fortalecimento da valorização da vida e a mística da não-violência.
“É preciso promover a cultura da paz. Ser um território livre na defesa das causas nobres da cidade e da nação”, reforça.
Ideia de patrocínio para a galeria
O padre Di Lascio avisa que não espera nem deseja gasto público com essa inicativa, se ela prosperar. A ideia, ressalta, é que a confecção dos painéis seria financiada com doações de organizações da sociedade civil e iniciativa privada. “Cada painel poderia ser feito de material tipo aço galvanizado ou outro material condizente com a realidade. E o patrocínio das placas seria de escolas, igrejas, universidades, colégios e entidades voltadas à causa da paz, além, obviamente, de empresários que desejem contribuir com um projeto dessa envergadura”, salienta. Em cada um desses totens, aponta o padre, poderia ter uma pequena placa informando quem foi o doador. Isso é comum em iniciativas das igrejas cristãs e também de projetos de parceria público-privada.
Di Lascio finaliza com um sonho: a Câmara Municipal e a Prefeitura de Campinas poderiam se engajar nesse projeto, criando uma sinergia e ajudando a mobilizar a sociedade. “Campinas poderia oferecer um projeto em prol da cultura da paz, que poder ser copiado e desenvolvido em outras cidades, estados e também aberto ao mundo”, defende.
Veja nomes que Di Lascio imagina na galeria de ícones da paz
Yitzhak Rabin
O soldado da Paz
Foi primeiro-ministro de Israel e embaixador em Washington. Em setembro de 1993, assinou com o líder da OLP, Yasser Arafat, o termo conjunto de Declaração de Princípios Israelense-Palestinos em Washington, e, em maio de 1994 o acordo de Autonomia Palestina na Faixa de Gaza e em Jericó. Recebeu o Premio Nobel da Paz em 1994.
Martin Luther King Jr
O guerreiro pacífico
Pastor negro da Igreja Batista, principal expoente e líder da não-violência nos Estados Unidos, batalhador na defesa dos direitos civis para os negros americanos. Seu sonho era a visão de uma sociedade de justiça. Sob sua liderança, milhões de negros americanos saíram do aprisionamento espiritual, do temor, da apatia, e foram para as ruas reivindicar sua liberdade. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1964. Foi assassinado em 4 de abril de 1968 em Menfis.
Madre Tereza de Calcutá
A caridade sem fronteiras
Nasceu em 27 de agosto de 1910, em Shopje, cidade albanesa de Kosovo, no batismo recebeu o nome de Inês. Durante uma viagem de trem a Darjeeling (Índia), chocada pela condição de absoluta miséria, se sente chamada a deixar a congregação religiosa para se dedicar totalmente ao serviço dos pobres e excluídos. Fundou a Congregação das Missionárias da Caridade e inaugurou centenas de obras de caridade. Foi condecorada com vários prêmios e honrarias internacionais e recebeu o Premio Nobel da Paz em 1979.
Mahatma Gandhi
O Apóstolo da Não-Violência
Mohandas Karamchand Gandhi, advogado, casado com Kasturbai e pai de quatro filhos, nasceu em 2 de outubro de 1869 em Porbandar, norte da Índia. Gandhi foi um fenômeno humano de incrível força cósmica. Libertador político da Índia. É, no verdadeiro sentido da palavra, o pai da nação indiana moderna. Gandhi escreveu mais de 90 volumes de textos de alta qualidade com ensinamentos sobre a educação para a paz. Gandhi foi um gênio da comunicação de massas, condutor de si mesmo e condutor de outros homens. Um homem de oração, jejum e sobriedade. Mahatama Gandhi foi preso várias vezes por defender a causa da verdade, da justiça e da paz. Morreu assassinado em 30 de janeiro de 1948.
Papa João Paulo II
O peregrino da paz
Karol Wojilia nasceu em 18 de maio de 1920, em Wadowicw, sul da Polônia. No dia 16 de outubro de 1978 foi eleito papa, assumindo o nome de João Paulo II. Homem de grande amor pela vida, místico, missionário e comprometido com a causa da paz universal, missionário, fez várias viagens apostólicas em mais de 100 paises, três delas no Brasil, 1980,1991 e 1997. Escreveu números documentos e vários livros. Promoveu encontros marcantes no campo do ecumenismo e do dialogo inter-religioso. Em 13 de maio de 1981, sofreu um atentado na Praça São Pedro.
Shirin Ebadi
A conciliadora do Islã
Nasceu em 1947, irariana, casada, advogada, juíza, escritora e ativista dos direitos humanos. Em 1974 foi a primeira mulher irariana a exercer o cargo de juíza, chegando a presidir o Tribunal de Teerã. É a primeira mulher muçulmana a receber o Prêmio Nobel da Paz. Criou a Associação de Apoio para os Direitos da Criança e luta pela mudança das leis de divórcio e herança no país, as quais discriminam fortemente as mulheres. Dedica a sua vida à conciliação do Islã com os direitos fundamentais da pessoa humana. Defende o direito da mulher e da criança, contra uma sociedade patriarcal que ainda hoje consagra no seu Código Penal a criança como “sendo propriedade do pai ou da família paterna”.
Padre Di Lascio também cita como candidatos à galeria projetos como o Médico Sem Fronteiras e um painel dedicado aos Arautos Anônimos da Paz, pessoas que diariamente, em todo o mundo, contribuem para a não-violência, o diálogo, a tolerância e o entendimento.