Era o auge da pandemia do coronavírus, ocasião em que o isolamento fazia parte do dia a dia das pessoas e as ruas estavam vazias. Em meio a um clima de desesperança, muitos buscavam alguma alternativa para acalentar a alma. Terapia para alguns, o ato de cozinhar era uma opção. E foi com uma receita da avó em mente que a bancária de Campinas Renata Carone foi à cozinha de sua casa em um daqueles dias. Não imaginava ela que a atitude singela representaria o embrião de um negócio que mudaria sua vida.
“O capelete rendeu mais do que o esperado e resolvi distribuir uma parte para amigos e vizinhos. Todos amaram e começaram a pedir mais”, conta Renata, que transformou a terapia em um meio de vida. Hoje, ela é proprietária da marca Ma.Carone e a variedade de massas que produz e vende faz tanto sucesso que a impulsiona a novos desafios. “Já vejo a necessidade de alugar um espaço.”
Renata, de 45 anos e mãe de um menino de 9, faz parte daquele grupo de mulheres que arregaça as mangas e investe em sua própria empresa. Segundo dados do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), dos 52 milhões de empreendedores existentes no País – 98% voltados ao pequeno e médio negócio -, 32 milhões são do sexo feminino. E do total de investidores que estão iniciando, 46% são mulheres.
As inscrições para o “Prêmio Sebrae Mulher de Negócios”, que incentiva o empreendedorismo feminino e acontece anualmente, se encerram no próximo dia 31.
“Virei amiga íntima do pessoal do Sebrae”, brinca Renata. Lá é incrível. Tem muitos cursos, palestras e assessorias, tudo gratuito. Fiz vários e continuo indo atrás.”
Na trajetória profissional de Renata, as circunstâncias parecem conspirar para a impulsão do seu projeto. Até o ano passado, ela conciliava o trabalho no banco com a produção e venda de massas, mas já planejava se dedicar integralmente ao negócio que começava. E no final de 2022, acabou, sem motivo aparente, dispensada do emprego.
“Decidi não voltar mais para a área bancária. Acredito que Deus põe a mão e faz as coisas acontecerem”, diz a empreendedora, que abriu seu CNPJ e foi à luta.
O começo foi só com capelete, mas hoje a Ma.Carone já produz e comercializa também tortellini, canelone, fettuccine, pappardelle, ravióli, entre outras massas, além de molhos. Renata também já participou de evento a domicílio, treina uma funcionária e conta com colaboradores, como as lojas Sabor da Natureza, Vida Leve e Comfrila. Mas o negócio está apenas no começo.
“Tenho muitas ideias na cabeça, só não tenho tantos braços”, brinca a empreendedora que, por enquanto, trabalha em sua casa.
“Para empreender, temos que estar ciente de todas as fases do processo e ter disciplina. É necessário cautela e determinação para passar por todas as fases.”
Hoje, seu lucro mensal gira em torno de R$ 5 mil, mas a pretensão é chegar a R$ 20 mil. “Quem sabe já em 2024”, diz.
Para alcançar seus objetivos, Renata não vê limites na busca do aperfeiçoamento. Formada em publicidade e propaganda, ela mesma coordena as postagens no Instagram (@ma.carone). Está também com frequência envolvida em cursos e antenada ao mercado. Sua produção, por exemplo, procura atender as mais variadas necessidades. “Tenho opções congeladas para preparo em casa, de modo a servir toda a família, mas também há porções destinadas para os consumidores que já querem tudo pronto”, diz.
A qualidade da alimentação também faz parte do seu propósito. “Meus molhos são sem aditivo químico”, garante a chef, que busca alternativas mais saudáveis para oferecer aos clientes. “Noto a necessidade de produção de massas sem glúten, mas, para isso, preciso de um novo espaço para evitar contaminação.”
Uma de suas referências é o chef Jamie Oliver, do Reino Unido. “Ele usa muitos alimentos naturais e orgânicos e faz um belo trabalho para mudar hábitos alimentares nas escolas britânicas”, justifica.
A família também é referência. Bisneta de italianos, Renata traz no DNA o talento para cozinhar. O pai, de 82 anos, produz vinho artesanal no quintal de sua casa desde 1976. E a avó Elza, falecida em 2010 aos 93 anos, é a grande inspiração.
“Todas as receitas que faço são dela. Tive um relacionamento muito bom com a minha avó, éramos muito amigas e bem próximas. Cresci vendo ela fazendo as receitas de massas.” Se dona Elza estivesse viva hoje, a empreendedora Renata sabe exatamente o que ouviria dela: “Boa hein Renatinha! Senta aqui que a vó vai te ensinar mais uma receita”.