Abraços e beijinhos foram cancelados em tempos de coronavírus, dificultando a rotina do caloroso povo brasileiro. Novas regras surgiram nesse período, mas como comenta Ana Vaz, consultora, autora, docente e palestrante das áreas de imagem pessoal, estilo, moda e imagem, é possível que as coisas voltem a ser similares ao que vivíamos anteriormente. “Já tivemos algumas alterações durante o período da Sars, há alguns anos, mas tempos depois tudo voltou ao que era antes. Estamos respondendo a regras sanitárias, e não de etiqueta. É uma obrigatoriedade agora, mas acredito que em algum tempo voltaremos aos hábitos da nossa cultura”, comenta a profissional.
O gesto de beijar é conhecido por ‘la bise’ na França. Foi abolido durante a pandemia e, provavelmente, o cumprimento será esquecido de vez, como li na Veja da semana passada. “Também pretendo abolir, acho excessivo e desnecessário cumprimentar todo mundo com tanta intimidade. Você chega numa festa e tem que beijar dezenas de pessoas, acho excessivo, e a partir de agora, deselegante”, comenta Ana Cristina Sampaio, estudante de psicologia. “O brasileiro exagera nos beijos”, diz.
Nos casamentos, os convidados também devem evitar abraços e beijos depois do “sim”, quando era comum os noivos receberem os cumprimentos, já que o risco de transmissão ainda é alto.
Recomenda-se, a partir de agora, mandar mensagens, fazer homenagens nas redes sociais, escrever uma carta a mão ao casal, ou mesmo um discurso breve, nada de exageros. Os recém-casados ficarão emocionados e agradecidos.

Entre os jovens já era comum o “fist bump”: uma leve batida de punhos, cumprimento mais higiênico que o aperto de mãos. No pós-pandemia, será ainda mais usado, inclusive entre as crianças e idosos.
A consultora Ana Vaz afirma que, caso fosse escrever um novo guia de etiqueta, daria ênfase ao respeito, à diversidade e à individualidade do outro. “A etiqueta ainda é muito elitista e propagadora de padrões, ainda estimula comportamentos que silencia mulheres e pessoas menos privilegiadas”, observa. Ela é autora dos guias Pequeno Livro de Estilo – Guia Para Toda Hora, e Pequeno Livro de Etiqueta – Guia Para Toda Hora, pela Editora Verus, com mais de 70 mil cópias vendidas.

Como uma pessoa educada deve se comportar no dia a dia para respeitar o outro e a si mesma? “Uma pessoa que tem clareza sobre a dimensão do problema e dos riscos que temos neste momento e enquanto o vírus circular, deve seguir todas as orientações que preservam nossa saúde: uso de máscara, distanciamento, vacina, e não participar de atividades presenciais caso tenha qualquer sintoma”, diz Ana Vaz.
Outra questão respondida pela consultora diz respeito ao momento de luto. Como dizer ‘sinto muito’ sem invadir a dor de uma pessoa que perde um ente querido?
Segundo Ana Vaz, colocar-se à disposição para ouvir quem passa pela dor, reconhecer a dor do outro, ser respeitoso e não perguntar a causa da morte caso a pessoa não tenha deixado claro, são formas de estar emocionalmente disponível sem ultrapassar limites. “Em velórios, manter-se de máscara e não estabelecer contato físico é respeitoso. Pode não ser caloroso, mas é cuidadoso e respeitoso”, explica.

Uma dúvida comum em condomínios diz respeito ao uso de elevadores. O ideal é que pessoas da mesma família ocupem o elevador, mas se outra moradora do local já estiver usando, melhor deixá-la sozinha e apertar o botão novamente.
Nos consultórios médicos, não chegar muito antes do horário estipulado para a consulta, mas também não se atrasar, isso para não atrapalhar o horário do próximo. É preciso pensar no outro sim, e isso fica cada vez mais evidente.
Na definição da consultora de imagem e jornalista Gloria Kalil, “etiqueta é civilidade, é olhar para si mesmo, mas também olhar para o outro”.
Concordo com ela e acho uma pena que o chefe da nação não pense assim. Jair Bolsonaro é apontado como o presidente mais mal-educado que o país já teve. Nunca precisamos tanto de gentileza e boas maneiras como na atualidade, uma pena ele não ter se dado conta disso.
Janete Trevisani é jornalista – janetetrevisani@gmail.com