A pandemia de coronavírus provocou mudanças na rotina das famílias. Em pouco tempo, com a necessidade de distanciamento social e de ficar mais tempo em casa, foi necessária a adaptação rápida a novos hábitos com o trabalho e o estudo acontecendo nas residências, e a convivência entre os membros do núcleo familiar se intensificando no cotidiano. Nos escritórios e fábricas, as atividades a distância ganharam projeção e mudaram a dinâmica empresarial. Para os setores imobiliário e da construção civil, essa nova realidade demandou adequações, mas abriu perspectivas e trouxe um panorama diferenciado para a concepção dos lançamentos futuros.
Como para os demais segmentos econômicos, durante esse tempo longo de pandemia, as empresas construtoras precisaram se ajustar ao novo momento. Mas diferentemente de outros setores, alguns deles bastante impactados negativamente, as transações imobiliárias continuaram acontecendo, ainda que em ritmo menor que o projetado. As obras não foram paralisadas e os empreendimentos previstos, após ajustes, continuaram saindo do papel.
“Desde o início da pandemia, o mercado imobiliário de Campinas procurou agir com cautela e muito estudo prévio. Inicialmente houve o receio de lançar os empreendimentos que já estavam aprovados pela Prefeitura, com a necessidade de implantação de um novo sistema de apresentação dos produtos e novas maneiras de recebimento e assinatura de contratos. Superado este passo, é importante frisar que os lançamentos foram feitos e que muito sucesso tiveram. Basta para isto ver a quantidade de empreendimentos na cidade em pleno desenvolvimento”, aponta a advogada Kelma Camargo, diretora Regional e de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi Campinas. “Com isso vieram também a implantação de procedimentos e cuidados com os trabalhadores da construção civil para preservar, além da saúde, o trabalho e família de todos”, explica.
Márcio Benvenutti, diretor da Regional Campinas do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon) de São Paulo, avalia que o segmento da construção civil se comportou muito bem durante a pandemia, inclusive no cuidado com os trabalhadores.
“Primeiro porque não houve paralisação em obras. Com isso a indústria da construção se condicionou a fazer todas as tratativas de segurança dentro das obras em sua mão de obra. Então os índices de problemas de Covid dentro das obras em relação ao Brasil foram muito baixos”, ressalta. Segundo relata Márcio Benvenutti, diretor do SindusCon, a reação do setor é natural. “A insegurança de venda realmente afetou os lançamentos, mas neste ano a gente vê um aquecimento principalmente das grandes cidades para as menores. São Paulo já teve um boom de lançamentos e Campinas hoje conta com muitas aprovações”.
Para o presidente da Habicamp, Francisco de Oliveira Lima Filho, Campinas, assim como as demais cidades brasileiras, enfrenta nesta fase situações difíceis nas questões de saúde pública e economia. Mas, por ter características de Interior e, ao mesmo tempo, de metrópole, o município passou a ser alvo de investimentos imobiliários.
“Com a pandemia, os limites humanos ficaram muito claros. Não é possível ter uma vida de qualidade em cidades tão grandes como São Paulo. Por isso, muitos decidem escolher cidades menores, mas com infraestruturas similares, e Campinas está em primeira opção”, avalia.
Essa mudança de foco estratégico não deve acontecer apenas com as famílias que preferem um local mais tranquilo para viver. “As empresas querem isso também. Por isso, a RMC é destaque para elas. Agora, mais do que nunca, Campinas receberá mais empresas e, assim, mais habitantes também. É uma via de mão dupla e, com certeza, fará com que a região metropolitana cresça ainda mais. Dessa forma, o aumento da empregabilidade e a busca por cidades da região para negócios e habitação fazem com que as incorporadoras comecem a investir em empreendimentos habitacionais para a localidade”, projeta o presidente da Habicamp.
Comércio e custos da construção
Um impacto negativo prático que ocorreu com os negócios do setor imobiliário se relaciona ao aumento de devolução de salas comerciais na cidade. “Na Habicamp nós realizamos uma pesquisa para calcular essa taxa de desocupação de imóveis corporativos, que chega a 21%. É importante refletirmos que a maioria das empresas que está em home office continua com a mesma produtividade. Por isso, por que o empresário vai optar por maiores gastos, se ele pode não ter?”, observa Lima Filho, ressaltando, contudo, que parte dessa realidade já se reverteu. “Há um reaquecimento do mercado e maior flexibilidade com o isolamento social”.
Kelma Camargo explica que houve ligeira queda nos lançamentos até a implantação de formas mais eficientes de trabalho. “Até a adoção de sistemas mais modernos a pandemia causou uma retração de 10% a 12% nos negócios em comparação ao ano anterior, levando em consideração o volume de vendas de antes do início da pandemia”, compara.
Logo que estas barreiras foram ultrapassadas, diz a diretora do Secovi, os lançamentos e vendas surpreenderam o mercado e tiveram um avanço muito significativo.
Outro aspecto citado, que pesou para o segmento da construção civil, foi o do alto custo dos materiais. “Este período de pandemia houve uma elevação do custo de materiais de construção. Isso ocorreu durante o ano passado inteiro. O motivo é que as obras não pararam, mas as indústrias diminuíram a produção pelo efeito da pandemia e hoje elas não trabalham com estoque. Ou seja, a procura de materiais não baixou e o estoque e produção diminuíram”, afirma Benvenutti. “Apesar disso não houve diminuição de empregos durante 2020, na prática, na construção civil”, ressalta o dirigente.
Lar, trabalho e lazer
Com o maior tempo em casa, as pessoas passaram a sentir a necessidade de adaptar seus lares à nova realidade de trabalho e estudo, além de buscar mais conforto em espaços de convivência, como sala, cozinha e área de lazer. Desta forma, a pandemia realmente mudou o entendimento dos projetos residenciais e comerciais no Brasil, aponta Benvenutti. “Vai ser um novo mundo”, projeta.
“Com certeza, quando fazemos uma análise comportamental através dos números de compra/venda e aluguel de imóveis na cidade de Campinas, é possível detectar uma grande taxa de pessoas deixando apartamentos no centro da cidade e procurando por casas mais amplas em bairros nem tão populosos”, aponta o líder da Habicamp.
“A tendência comportamental é buscar ainda mais contato com a natureza e, além disso, deixar de investir em viagens e bens não tão palpáveis no momento para aplicar o dinheiro em casas que alinham conforto, espaço e ambientes diversos, que dão satisfação à família, abrigam home office e ainda oferecem qualidade de vida”, diz.
Para Kelma Camargo, no momento atual toda a família pode verificar a necessidade de novas maneiras de morar e, principalmente, ter mais qualidade de vida para todos. “Com esta necessidade, os construtores também sensíveis a este cenário evoluíram seus projetos e colocaram no mercado produtos para solucionar o que cada uma das famílias procurava. Os bancos trataram de encaminhar bem os financiamentos, com juros extremamente atrativos e desta forma o mercado evoluiu”, ressalta a diretora do Secovi.
Otimismo e cuidado
Sobre o futuro, Márcio Benvenutti, trata com precisão sobre a necessidade de manter os cuidados e as normas de segurança. “Uma coisa muito importante hoje para que a gente continue nesta nova situação de mundo perante a construção civil é que continuemos a nos cuidar com todas as proteções em obras, como estamos fazendo. Entendemos que não é só a vacina que vai proteger, mas também um novo método de trabalho com bastante segurança. É isso que a gente espera”, afirma.
Kelma explica que o Secovi divulgará novo boletim com dados regionais sobre Campinas em agosto. “Há números que apresentaremos, mas o importante é parabenizar os empresários do setor pela inteligência e competência com que rapidamente analisaram o mercado e suas necessidades para atender ao público, que respondeu eficientemente e tem feito de Campinas uma região de franco desenvolvimento e muito atrativa para bons negócios”. A diretora do Secovi adianta que muitas novas ideias e projetos serão lançados no mercado em breve.