Estudo desenvolvido por pesquisadores de universidades brasileiras criou um modelo matemático capaz de estimar quando a vacinação contra a Covid-19 será concluída em cada município. O sistema utiliza dados do Governo Federal para obter o ritmo da vacinação em cada cidade e, assim, projetar a conclusão da imunização. Com a escassez atual de vacina, o ritmo é lento em todo o País. Se a situação persistir, Campinas precisará de mais 616 dias para vacinar com as duas doses toda sua população de mais de 1,2 milhão de pessoas.
Nos cálculos, é considerado o ritmo de vacinação dos últimos 30. A previsão é atualizada de acordo com a chegada de novas vacinas, o aumento ou a diminuição do ritmo e outros critérios que impactam na aplicação do imunizante.
Por conta dessas circunstâncias, o ritmo de vacinação de Campinas é inferior ao da média do País, uma vez que o programa calcula que a vacinação do Brasil será concluída em 610 dias – seis dias a menos do que sugere o compasso atual em Campinas.
Segundo o programa, a média diária em Campinas é de aplicação de 2.373 primeiras doses e 1.484 segundas. Gráficos também comparam o ritmo diário e mostram, por exemplo, picos de imunização. O recorde em Campinas foi alcançado no último dia 11, quando 4.496 campineiros tomaram a primeira dose e outros 642, a segunda.
O programa também reforça o descuido da população em relação à conclusão do ciclo vacinal. Até a última terça-feira (18), 14.921 pessoas que já deveriam ter tomado a segunda dose da Coronavac não tinham comparecido aos postos para a imunização. Do grupo imunizado com a primeira dose da AstraZeneca, 6.282 estão atrasados com a segunda dose. Até o dia 7 de agosto, 141.629 pessoas terão de tomar a segunda dose da vacina contra Covid-19 em Campinas.
Em virtude da falta de insumos para a produção de mais vacinas da CoronaVac, e também do menor intervalo entre a primeira e segunda doses, as vacinas do Butantan, que antes compunham 70% dos imunizantes usados na cidade, atualmente são minoria. Desde o final de abril, a quantidade de aplicação de imunizantes da AstraZeneca tem aumentado. No dia 11 de maio, por exemplo, foram aplicadas 4.496 doses da vacina produzida pela Fiocruz e apenas 468 da do Butantan.
Painel
O Painel de Vacinação da Covid-19 pode ser acessado em http://cemeai.icmc.usp.br/painel-vacinacao. Dentro da plataforma, o usuário só precisa selecionar o Estado e a cidade desejados e verá, além da projeção para o fim da vacinação, detalhes sobre doses aplicadas por dia, doses aplicadas com atraso, demanda diária por vacinas, vacinação precoce, abandono da vacinação e muito mais. Também é possível optar por ver os dados totais do Brasil.
Inconsistências
Os pesquisadores trabalharam para remover inconsistências nos dados oficiais. “Na base fornecida pelo governo existem milhões de dados com problemas. Há dados de vacinados que teriam nascido no século 19, recebido a segunda dose em uma data anterior à primeira, recebido mais de uma dose no mesmo dia, recebido apenas a segunda dose, recebido vacinas diferentes e recebido a vacina antes de 2021”, explica o professor Krerley Oliveira, coordenador do Laboratório de Estatística e Ciência dos Dados da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). “Nós fazemos a limpeza desses dados, de modo que as informações sejam mais próximas da realidade”, resume o pesquisador.
O Governo Federal disponibiliza os dados separados por Estado. O estudo se debruçou sobre todos eles e, a partir do arquivo relativo a cada unidade da Federação, indicou as inconsistências existentes em cada um. Os detalhes dessas anomalias também estão publicados na plataforma.
Com os dados mais limpos e apresentados de forma didática, o pesquisador acredita que Estados e municípios podem utilizá-los para combater a pandemia de forma mais adequada. “Os dados disponibilizados na plataforma podem subsidiar a tomada de decisão em políticas públicas. Com essa informação em mãos, é possível realizar campanhas de conscientização. A ferramenta pode ser importante também para moradores de cidades pequenas, por exemplo, que não têm muitas informações sobre a vacinação”, complementa.
O projeto faz parte do grupo ModCovid19, formado por pesquisadores de todo o Brasil que desenvolvem diversas pesquisas a respeito da pandemia. “Nós começamos os trabalhos com o Instituto Serrapilheira e quem deu a estrutura foi o CeMEAI (Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria). Atualmente, esse é um projeto do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), explica Tiago Pereira, professor da Universidade de São Paulo (USP) e um dos coordenadores do grupo. A plataforma foi desenvolvida pelo Laboratório de Estatística e Ciência dos Dados da UFAL.
* Com informações da Assessoria de Comunicação do CeMEAI e da Agência Fapesp.