A modelo e socorrista Thalita do Vale, 39 anos, que morreu em bombardeio na Ucrânia, fez amigos na Região Metropolitana de Campinas (RMC) ao longo de sua jornada como ativista das causas animais e voluntária em tragédias humanitárias. Idealista, recentemente juntou-se às tropas ucranianas para lutar contra o poderio militar da Rússia. Ela foi vítima de um bombardeio na cidade de Kharkiv, na última quinta-feira (30). Atiradora de elite, participava ativamente das ações em zonas de conflito e de alto risco.
Um dos amigos que encontrou em sua jornada de voluntariado foi o prefeito de Jaguariúna e presidente do Conselho da RMC, Gustavo Reis. Eles se encontraram em ações voltadas à causa animal e em esforços por ajudar vítimas de desastres ambientais. Foi o caso, por exemplo, da tragédia de Mariana (MG), em novembro de 2015, com o rompimento da barragem do Fundão. O episódio é considerado o maior desastre ambiental da história do País.
“Uma mulher de ideais, lutadora e com um coração gigantesco. Essa era Thalita do Valle, amiga que tive o prazer de estar ao seu lado em Mariana, quando, em meio à lama, trabalhamos juntos voluntariamente e cuidamos dos animais vítimas da tragédia ambiental provocada pela empresa Samarco”, recordou o prefeito de Jaguariúna.
Gustavo Reis fez um post no Instagram em que aparece com ela acariciando um cão resgatado na tragédia. Depois, publica também duas imagens mostrando a destruição provocada pela avalanche.
“Era uma querida, uma pessoa com uma história bacana”, afirmou Gustavo Reis.
Em sua página no LinkedIn, Thalita apresenta um cartão de visita direcionado ao voluntariado. Seu principal foco, definido na rede social corporativa, é “ajuda humanitária e/ saúde em áreas de conflitos pelo mundo”. E reforça que visa a “atuação em áreas remotas e de escombros”. Thalita nasceu em Ribeirão Preto, Interior de São Paulo.
“Infelizmente Thalita partiu. Ela estava em mais uma nobre missão em defesa da vida. Desta vez na Ucrânia e, assim como na cidade mineira Mariana, enfrentava bravamente mais uma dura batalha”, escreveu o amigo Gustavo. “Além de muitas boas lembranças e valorosos exemplos, ela deixa para todos nós um inconfundível legado de amor à vida e de que é possível fazer o bem, com atitude e coragem, basta querer”, finalizou o prefeito de Jaguariúna.
Thalita também participou de busca e resgate a desaparecidos em Brumadinho, após o rompimento da barragem em 2019. No LinkedIn, há fotos delas com bombeiros e resgatistas civis.
Grande perda
O deputado estadual Delegado Bruno Lima também lamentou a morte da amiga Thalita. Ele esteve com ela por várias vezes em ações da causa animal, uma de suas bases de atuação no Parlamento paulista. Lima se mostrou consternado e triste. “Era uma grande protetora, uma grande ativista. Fazia um trabalho maravilhoso em prol dos animais e das famílias em sofrimento na Ucrânia. Uma grande perda”, afirmou.
Por conta da militância de Thalita na defesa dos animais em situação vulnerável, o deputado e ela participaram inclusive de resgates e de casos de grande repercussão nacional, como foi o episódio do cachoro Manchinha, que vivia numa unidade do Carrefour em Osasco e foi envenenado e espancado por um funcionário da loja. O caso aconteceu em dezembro de 2018.
Outros brasileiros
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, três brasileiros morreram na guerra na Ucrânia, conflito que já superou quatro meses. Iniciado em fevereiro de 2022, provocou a maior onda de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, com a morte de centenas de pessoas, entre militares e civis. Não há perspectiva de solução.
Além de Thalita do Valle, o bombardeio em Kharkiv na semana passada matou o ex-militar brasileiro Douglas Búrigo, 40 anos. De acordo com combatentes, ele voltou ao bunker para resgatar Thalita quando caiu a bomba. Douglas morava em São José dos Ausentes (RS), onde tinha uma borracharia. Ele era apaixonado por rodeios e se juntou às fileiras ucranianas para prestar ajuda humanitária e atuar no front.
O governo brasileiro confirmou também a morte de André Luis Hack Bahi, 44 anos. Bahi integrava as fileiras da Legião Internacional de Defesa Territorial da Ucrânia. A morte de André ocorreu em junho em confronto em Sieverodonetsk, no Leste da Ucrânia.