Nesta quarta-feira (12) celebra-se o Dia das Crianças. É certo, portanto, que em algum lugar de Campinas, o apito da chaminé vai soar, anunciando a passagem do Trem da Alegria (veja programação abaixo). E o trem passa sem pressa. Gentil e charmoso, convida crianças e adultos para um passeio divertido e cheio de histórias. Sonhos e lembranças emanam de suas engrenagens e são o combustível que alimenta uma trajetória que atravessa gerações.
É em um barracão na Vila Satúrnia, região da Vila Industrial, em Campinas, que os trens ganham forma antes de seguirem seu destino. Numa oficina, entre marteladas, serralheria e muito suor, o construtor e artista Fábio Alessandro Pocelli conserva uma tradição de família. Ele nasceu em 1976, ano em que seu pai, Antônio Carlos Pocelli, fabricou o primeiro trem. A partir de então, o apito da chaminé não parou mais de soar em eventos, festas, feiras, praças e ruas.
“Meus pais, avós, tios e primos organizavam passeios pelas ruas de todos os bairros de Campinas nos anos 70 e 80 e o trem se popularizou”, lembra Fábio, enquanto trabalha no barracão, customizando carros, ônibus e caminhões que serão transformados em locomotivas. No final dos anos 90, quando o filho de Antônio Carlos assumiu de vez o negócio, o percurso do Trem da Alegria se desviou para outros caminhos e as locações para eventos fechados substituíram os passeios nos bairros. Há cerca de dois anos, no entanto, o icônico trenzinho voltou a fazer parte do dia a dia da cidade.
“São cerca de 15 bairros que atendemos, com ingresso a R$ 10 por pessoa”, conta Fábio, citando as regiões do Campo Grande e DIC, Jardim Eulina, São Marcos, Santa Mônica, além de bairros de Sumaré e Americana como os mais movimentados. As feiras noturnas também recebem a visita do trem.
“O mais gratificante nesses passeios é o contato com o público”, define o construtor. “Os mais velhos relembram os passeios antigos e hoje seus filhos estão tendo a mesma experiência.”
Remédio para crianças e velhos
Por onde passa, o Trem da Alegria provoca as mais diversas reações. Na última sexta-feira (7), Fábio recebeu o áudio de uma mãe preocupada com o filho, que viu o trem em um evento da escola. “Ele está queimando de febre querendo andar”, diz a mulher no áudio. “Traz ele aqui que vamos dar umas voltas. Sei bem como é isso”, respondeu o construtor de trens, que vê o mesmo fenômeno acontecer com pessoas idosas, como em um caso envolvendo a própria família.
“Meu tio, que era dono de circo, entrou numa depressão profunda depois que foi obrigado a se desfazer do trem que tinha”, lamenta. Mas a família encontrou o remédio, que chegou em forma de presente para o palhaço Piuí, de 70 anos. “O filho dele comprou uma Brasília e eu a transformei numa locomotiva. Fizemos uma surpresa. Depois disso, ele melhorou muito.”
Circo
Os trens da família Pocelli surgiram no embalo do circo. Antes de ser construtor, Fábio era palhaço e suas apresentações começaram quando ele tinha 18 anos. Depois de um tempo, a filha passou a ser parceira. “Eu era o Paçoca e ela, a Pipoca”, lembra.
Os shows aconteciam no Circo Liliam, que circulava por Campinas e região. O nome do circo foi uma homenagem do dono da companhia, tio de Fábio, à filha Liliam, que, aliás, protagonizou um caso hilário nos anos 80, segundo Fábio. Ela era contorcionista.
“A dupla Milionário e José Rico foi cantar no circo e o José Rico mexeu com minha prima no camarim. Meu tio viu e deu um tiro nas nádegas dele. O homem foi parar no hospital”, conta, referindo-se ao cantor, que morreu em 2015. “Antigamente, era comum as duplas sertanejas cantarem em circos.”
Tradição
O Trem da Alegria segue viagem pelo tempo e o desafio é não parar. Fábio tem seis filhos e vê no mais novo, de 6 anos, a possibilidade de manter a “lenha queimando”. “Ele ama os trens e quer ficar sempre comigo na oficina me ajudando”, conta o artista, que resume em uma palavra o sentimento proporcionado pela missão de levar alegria às crianças: “satisfação.”
SERVIÇO
O Trem da Alegria estará neste Dia das Crianças na festa da Igreja Coração de Maria. O endereço é Avenida Palestina, 221, Jardim Flamboyant, Campinas.