De um total de 66 nomeações, 22 candidatos ao cargo de Delegado de Polícia em São Paulo desistiram da carreira antes de tomar posse. Uma portaria publicada na última quinta-feira (27), no Diário Oficial (DOE), tornou sem efeito a nomeação de um terço dos convocados, todos remanescentes do concurso público realizado em 2017. Levantamento feito pela Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (ADPESP) junto às Secretarias de Segurança dos estados e entidades de classe mostra que o pior salário do país é pago por São Paulo – é menos da metade do que recebe um delegado do Mato Grosso, o que melhor remunera.
Em fevereiro de 2020, 8% dos nomeados não tomaram posse. Dois anos depois, o índice de rejeição ao cargo de Delegado de Polícia em São Paulo saltou para 33%. A defasagem dos quadros da Polícia Civil é alarmante, alerta a ADPESP.
“Respeitamos as razões pessoais de cada candidato não empossado, mas uma desistência tão alta deixa evidente que o descaso e a falta de planejamento do governo estadual resultam no desinteresse pela carreira. Não há atratividade para o cargo de Delegado de Polícia no estado mais rico do país, que paga o pior salário do Brasil”, afirma Gustavo Mesquita Galvão Bueno, presidente da ADPESP.
Em setembro passado, levantamento feito pela ADPESP constatou o encolhimento da Polícia Civil paulista, que perde cada vez mais policiais, sem que haja reposição na mesma velocidade. Entre 2015 e setembro de 2021, a instituição perdeu 10.852 policiais civis, porém, pouco mais de sete mil policiais se formaram na Acadepol no mesmo período, o que indica defasagem de mais de três mil policias. Os dados utilizados foram obtidos junto ao governo via Lei de Acesso a Informação (LAI).
“O número de policiais formados na Acadepol – no período acima citado – não cobre sequer os policiais que se aposentaram. Aposentadoria de servidor público é um dado possível de prever e se antecipar. Nota-se evidente a falta de vontade política em investir na Polícia Civil bandeirante”, destaca Mesquita.
Atualmente, a defasagem é de 15 mil policiais civis nos quadros da Instituição, calcula Mesquita. “Esse é o maior déficit da história da Polícia Civil paulista. O governador João Doria encerrará seu mandato muito longe de cumprir a promessa de reposição do efetivo, deixando a Polícia Civil com menos profissionais do que quando assumiu a gestão. É a constatação de que segurança pública precisa de investimento, planejamento e boa gestão e não de marketing,” conclui o presidente da ADPESP.
Para poder se candidatar ao cargo de delegado da Polícia Civil, é exigido diploma do curso de Direito. Não é necessário ter passado no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Em alguns casos, pode ser exigida prática jurídica ou policial comprovada. As nomeações ocorrem por meio de classificação em concurso público. Confira abaixo o comparativo das remunerações: