Eu adoro a frase: “O extraordinário mora no ordinário”, e, geralmente, é assim que nascem as histórias que conto por aqui, do dia a dia mesmo. Sábado passado estava passando perto de uma praça no centro de Campinas e me deparei com um varal de roupas que dava vida e colorido ao espaço verde que ocupa aquela área. A cena me chamou a atenção e ao chegar mais perto pude ler: “Varal Fraterno, pegue o que precisar”.
Eu e o Mauro (me perdoe Mauro perdi o papel em que anotei seu sobrenome) chegamos quase juntos ao varal. Enquanto observava encantada a potência daquelas roupas penduradas, Mauro começou a escolher o que estava precisando naquele dia. Ele me contou que todos os sábados passa por lá para pegar uma roupa limpa e perfumada.
“Esse varal tem sido muito importante na minha vida, pois ajuda a trazer de volta a dignidade que a rua acaba nos tirando. Quem não gosta de uma roupa limpa, cheirosa?”, questionou.
Organizado pela equipe da Fraternidade sem Fronteiras, o varal funciona todos os sábados na Praça Napoleão Laureano. A entidade têm um bazar beneficente de roupas usadas bem em frente à praça. Silvia Dias, responsável pelo Bazar, me contou que nem todo mundo tem dinheiro para comprar as roupas que vendem no bazar.
“Decidimos fazer o varal aqui na frente, pois quando as roupas vão acabando vamos repondo com outras. Tem dado muito certo e percebemos que as pessoas realmente só pegam o que precisam”, disse Silvia.
Quer jeito mais sustentável de existir?
Soube pouco da vida do Mauro, mas observei que saiu de lá com um chinelo, uma bermuda, uma camiseta e um cinto. E eu ganhei o dia.
Fui embora para casa cheia de esperança, de ver o quanto essas pequenas ou grandes ações modificam o mundo.
Olhando o dicionário e buscando a palavra fraterno descobri que diz respeito ao afeto de irmão para irmão, união, exatamente como as roupas penduradas no varal, que mais pareciam estar de mãos dadas.
Kátia Camargo é jornalista e adora quando as histórias que quer contar pipocam em seu caminho.
O texto foi embalado pela canção Imagine, de John Lennon. Para quem quiser escutar: