Confesso. Tem dias que eu preciso muito mais do que coragem para levantar da cama e encarar a rotina. Quem nunca se sentiu assim, não é?
Vivemos um cansaço permanente. Ansiedade, perda de memória, estresse, irritação. Muitas vezes temos dificuldade de entender os nossos sentimentos.
Como válvula de escape, nos anestesiamos nas redes sociais, nos celulares e na internet. Uma busca pelo prazer que, na verdade, só causa danos.
Confesso. Muitas vezes passo mais de um terço do dia entre telas. Tela do computador. Tela do celular. Tela da TV. Ao final da jornada, o que mais quero é uma atividade off-line.
Por trabalhar com comunicação, eu já sabia que quando interagimos com alguém, 75% das informações que produzimos são não-verbais, como postura do corpo, voz, entonação, gestos, entre outros. É a soma dessas expressões que resulta no enredo das nossas relações.
Nas telas e no mundo digital, essas expressões não são percebidas. Com isso, o nosso cérebro gasta muito mais energia para tentar compensar o que está faltando. O resultado é a exaustão.
Confesso. Tem dias que carrego um piano mentalmente. Mas há outras questões.
Com a pandemia, as interações humanas, por exemplo, receberam um soco no estômago.
Perdemos relacionamento social, perdemos empregos, perdemos convivência, perdemos o senso de coletividade. Vivemos como animais enjaulados na espera da próxima refeição.
Confesso. Para mim, as redes sociais são as principais vilãs deste processo que observamos de cansaço generalizado e “anestesia emocional”. Trocando em miúdos: não conseguimos mais nomear o que estamos sentido.
O uso das redes sociais só cresce no Brasil, estamos entre os primeiros que mais navegam na internet. Somos o segundo, atrás da Malásia. Enquanto a média mundial é de 6, navegamos 10 horas por dia. Reforço: 10 horas.
No mundo maravilhoso das redes, todas as histórias são de sucesso, há sempre aprendizados épicos, oportunidades únicas, receitas infalíveis e uma horda de influenciadores com egos inflados.
Acredite, pesquisas em diversas partes do mundo afirmam que a positividade excessiva das redes faz com que as pessoas se sintam incapacitadas ao se compararem com o que é dito, mesmo que seja uma mentira. Quanto maior o uso das redes sociais, maiores os riscos de depressão.
Confesso. Eu uso as redes sociais, o celular e a internet. Quem não gosta da dopamina que é liberada no corpo quando ocorre uma curtida, um comentário ou qualquer outro tipo de interação em um post? O problema não é esse.
O perigo é o aclamado algoritmo. Escuso, obscuro, criado e atualizado para manipular.
É ele que vicia e faz a gente ficar olhando as redes em busca de uma nova carga de dopamina. Por isso, passamos tanto tempo conectados, “buscando” essa substância como forma de melhorar o nosso bem-estar.
Confesso. Só é possível sair dessa cilada com muita consciência e constância. Fácil não é. Mas precisamos tentar. Não conseguir ficar por muito tempo longe do celular, negar os fatos científicos e permanecer cada vez mais tempo conectado são sintomas de algo novo mas já conhecido, o vício digital.
Flávio Benetti é professor, palestrante, publicitário e especialista em Comunicação interna e endomarketing. Considera-se um cara apaixonado pela vida, curioso por natureza, fã de tecnologia, design e fotografia