A violência contra mulheres adultas em Campinas voltou a crescer e atingiu, em 2024, o maior número de registros da série histórica. De acordo com o 18º Boletim SISNOV, divulgado na quarta-feira (3) pela Secretaria Municipal de Saúde, o total de notificações envolvendo mulheres de 18 a 59 anos aumentou 12% em um ano, passando de 1.585 casos, em 2023, para 1.777 em 2024.
O levantamento considera os dados da rede de saúde e assistência do município e revela que, entre 2019 e 2024, Campinas contabilizou 6.818 notificações de violência contra mulheres adultas, evidenciando tendência contínua de crescimento no período.
Violência física é a mais frequente; tentativas de suicídio disparam
A violência física segue como o tipo mais registrado na cidade. No entanto, o boletim mostra um avanço significativo das tentativas de suicídio, que quase quadruplicaram ao longo da série histórica e se consolidaram como um dos principais agravos notificados entre mulheres adultas.
As violências sexual e psicológica também apresentaram aumento expressivo nos últimos anos.
Segundo Ana Paula Crivelaro Ferreira, uma das responsáveis pelo boletim, o aumento das notificações não se deve exclusivamente a um crescimento das violências.
“Temos serviços mais sensíveis, preparados e conectados ao tema, capazes de reconhecer situações que antes passavam despercebidas. Esse avanço é fruto da dedicação na formação, do apoio técnico contínuo e do amadurecimento da rede. Graças a esse trabalho permanente, muitos casos antes invisíveis agora são devidamente registrados, fortalecendo a qualidade do cuidado e a vigilância das violências”, afirma Ana Paula.
Cônjuges e ex-parceiros lideram como autores
O relatório aponta ainda que a violência contra mulheres é majoritariamente praticada por cônjuges ou ex-cônjuges, responsáveis por 42,1% das notificações. A participação crescente de casos classificados como “autoprovocados” acompanha o aumento das tentativas de suicídio entre as vítimas.
Entre as vítimas, a maior concentração está nas idades de 40 a 59 anos, que somam 2.080 registros no período analisado. Em seguida aparecem mulheres de 30 a 39 anos, com 1.994 notificações acumuladas entre 2019 e 2024.
Em 2024, 707 notificações de violência contra crianças e adolescentes foram registradas. Número equivalente a 2023, com 708 casos.
Crescimento pode refletir intensificação das políticas de notificação
Embora os dados revelem aumento da violência, o boletim destaca que parte desse crescimento pode estar relacionado ao aperfeiçoamento da rede de vigilância, à capacitação de profissionais e ao fortalecimento da cultura de notificação no município.
Segundo o estudo, entre 2023 e 2025 mais de 690 profissionais foram treinados pelo Departamento de Vigilância em Saúde para lidar com situações de violência e ampliar a identificação dos casos.
A rede de notificação do Boletim Sisnov é intersetorial, composta pelas Secretarias de Saúde, de Políticas para as Mulheres, Desenvolvimento e Assistência Social, Educação e Segurança Pública, além de serviços da Unicamp, hospitais e unidades de pronto atendimento conveniados e privados e os conselhos tutelares.
A Secretaria Municipal de Saúde registrou, no último ano, 2.174 notificações, sendo 1.674 provenientes da Rede de Urgência e Emergência Mário Gatti e 503 de unidades de saúde.
O segundo maior grupo de notificadores foi da Secretaria da Assistência Social, responsável por 825 registros, sendo 578 notificações realizadas pelas unidades conveniadas e 247 notificações por unidades próprias.
O relatório completo está disponível em: https://campinas.sp.gov.br/secretaria/saude/pagina/notificacao-de-violencia











