O Presidente ucraniano reconheceu nesta terça-feira (15) que o seu país não poderá integrar a Otan, horas antes de receber em Kiev três primeiros-ministros europeus e de a Comissão Europeia anunciar que vai repensar a sua política de Defesa.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reconheceu que a Ucrânia não poderá integrar a Otan, uma das exigências da Rússia para terminar a guerra, e disse que os ucranianos estão a tomar consciência dessa impossibilidade.
“Ouvimos durante anos que as portas estavam abertas, mas também ouvimos dizer que não podíamos aderir. Esta é a verdade e temos de a reconhecer”, disse Zelensky.
Enquanto Zelensky falava, os primeiros-ministros da Polónia, Mateusz Morawiecki, da República Checa, Pietr Fiala, e da Eslovénia, Janez Jansa, entravam na Ucrânia, a caminho de Kiev, para se encontrarem com o Presidente ucraniano.
Os três dirigentes, que partiram nesta terça de manhã de comboio, já se encontram em território ucraniano, informou o porta-voz do Governo polaco, Piotr Müller.
Também o Presidente de França, Emmanuel Macron, anunciou que está articulando uma visita a Kiev ou a Moscou por causa da guerra na Ucrânia, mas rejeitou fazê-la “nos próximos dias” por falta de condições para viajar.
“Não excluo nenhuma viagem, mas não está planeada para as próximas horas ou nos próximos dias”, disse Macron depois de ser questionado sobre a ida a Kiev, durante o dia de hoje, dos primeiros-ministros da Polónia, República Checa e Eslovénia.
Certa é a presença do Presidente norte-americano, Joe Biden, em Bruxelas na próxima semana para participar, dia 24, na reunião dos chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE) e na cimeira extraordinária da Otan, devido à guerra ucraniana.
A cimeira ocorre no momento em que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, admitiu que a guerra ucraniana é um “momento decisivo” para a União Europeia (UE) repensar a estratégia de defesa, anunciando que vai propor “oportunidades de investimento” no setor.
No campo diplomático, a Presidência russa recusou fazer qualquer previsão sobre as negociações com a Ucrânia, depois de um conselheiro do Presidente ucraniano ter admitido a possibilidade de um acordo de paz até maio.
“O trabalho entre as duas delegações continua por videoconferência, é um trabalho complexo, e o facto de continuar já é positivo”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Ao mesmo tempo, a Rússia decidiu iniciar o processo de “saída do Conselho da Europa”, acusando a Otan e a União Europeia de terem feito daquele organismo um instrumento ao serviço da “sua expansão político-militar e económica a Leste”.
“A notificação da retirada da Federação Russa da Organização” foi hoje à enviada à secretária-geral do Conselho da Europa, Marija Pejcinovic Buric, indicou o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo num comunicado.
Entretanto, e com o agravamento dos ataques russos, a capital da Ucrânia vai estar sob recolher obrigatório durante 35 horas a partir das 20:00 locais, anunciou o presidente da câmara, Vitali Klitschko, explicando que Kiev está a passar por “um momento perigoso e difícil”.
Klitschko referia-se aos últimos bombardeamentos russos que atingiram bairros residenciais e provocaram a morte de dezenas de pessoas na capital do país.
O presidente da câmara anunciou também que escreveu ao Papa Francisco a convidá-lo para visitar a cidade, atingida pela ofensiva militar da Rússia ou, caso não seja possível, a participar numa videoconferência para enviar uma mensagem à população.
A Rússia tem mais de 40 mil militares das Forças Armadas sírias e combatentes de milícias apoiantes preparados para integrar a invasão à Ucrânia, denunciou hoje o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
Na última sexta-feira (11) o Kremlin incentivou a participação de voluntários, ao lado dos militares russos, na invasão ao território ucraniano, incluindo militares e combatentes provenientes da Síria. Moscou é um dos principais aliados de Damasco.
A Rússia tem alargado a sua zona de ataques e a Força Aérea da Ucrânia denunciou que pelo menos um ‘drone’ russo sobrevoou a Polónia, o que corresponde a uma violação do território de um Estado-membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte.
Numa publicação feita na rede social Facebook, citada pela agência de notícias ucraniana Ukrinform, o porta-voz do Comando da Força Aérea, Yuri Ihnat, denuncia que os radares detectaram pelo menos uma aeronave de reconhecimento não tripulada das Forças Armadas russas que sobrevoou o território polaco.
Do outro lado da barricada, o Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, aliado de Moscou, acusou a Ucrânia de ter lançado um míssil contra o seu território, mas que acabou por ser interceptado e abatido pelos bielorrussos.
O Ocidente prossegue o seu plano de sanções contra Moscou, e o Conselho da União Europeia (UE) adotou, formalmente, o quarto pacote de medidas económicas e individuais contra a Rússia, que inclui medidas restritivas ao oligarca multimilionário Roman Abramovich, com passaporte português.
A China fez saber que rejeita ser afetada pelas sanções ocidentais contra a Rússia, através do ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, numa conversa por telefone com o homólogo espanhol, José Manuel Albares.
“A China não é parte da crise [ucraniana] e ainda menos quer ser afetada pelas sanções”, afirmou Wang, citado pela agência noticiosa oficial Xinhua.
Por outro lado, Pequim disse que a sua posição sobre o conflito na Ucrânia é “completamente objetiva, imparcial e construtiva” e acusou os Estados Unidos de espalharem “desinformação” sobre a possibilidade de Pequim prestar apoio militar a Moscou.
Ao mesmo tempo, a Rússia anunciou sanções contra o Presidente Joe Biden e vários altos responsáveis norte-americanos, entre os quais o chefe da diplomacia, Antony Blinken, em resposta às medidas punitivas de Washington contra Moscou relacionadas com a Ucrânia.
Esta medida “é a consequência inevitável do curso extremamente russofóbico seguido pelo atual Governo americano”, indicou o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia em comunicado.
Entretanto, soube-se hoje que o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, vai participar na quarta-feira na reunião dos seus homólogos da Otan, bem como representantes da Geórgia, Finlândia, Suécia e União Europeia (UE). (Agência Lusa)