O local de chegada e partida de Campinas representa o encontro de muitos perfis. Viajantes apressados e sossegados se misturam com quem espera sentado em algum canto ou numa mesa de lanchonete. Perdidos em busca de informação são muitos. E até mesmo a informante atrás do balcão não sabe de tudo. No último domingo (4), aquele espaço de chegada e partida completou 15 anos. “Já? Não sabia”, disse a funcionária surpresa.
Em meio ao corre-corre do dia a dia, o tempo passa e poucos percebem, ainda mais dentro de um lugar onde o ponteiro do relógio é ditatorial. Mas o Terminal Rodoviário Ramos de Azevedo, na Vila Industrial, inaugurado no dia 4 de junho de 2008, já tem uma década e meia, com o status de ser o segundo maior terminal do Estado de São Paulo, perdendo somente para a Rodoviária do Tietê. E no período, cerca de 98 milhões de passageiros já foram atendidos dentro da área onde o vai e vem em Campinas acontece, com média diária de 14 mil usuários. Os números são da Socicam, empresa responsável pela administração do terminal.
Ainda segundo a Socicam, o terminal tem 1.073 linhas interestaduais e intermunicipais, além de 46 empresas de ônibus que operam no local.
A área total do espaço é de 70 mil m², com 22 mil m² de construção. O complexo inclui o Terminal Metropolitano Magalhães Teixeira, sob responsabilidade da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), e uma área, na Estação Cultura, onde está prevista a construção de um ponto de chegada e saída do futuro Trem Intercidades (TIC), que ligará Campinas à São Paulo, segundo informou o governo do Estado. A licitação para o TIC já está aberta e a previsão é de que as operações só tenham início em 2030.
O Terminal Rodoviário Ramos de Azevedo surgiu com a função de substituir a antiga Rodoviária Dr. Barbosa de Barros, que era situada no terreno onde é hoje o Hospital São Luiz, inaugurado no último dia 10 de maio, entre as Avenidas Andrade Neves e Barão de Itapura, na região central.
A nova edificação era uma demanda antiga na cidade, cujo crescimento exigia um complexo moderno de embarque e desembarque de ônibus. A antiga rodoviária foi desativada em 2008 e implodida em 2010.
“Aquele lugar era terrível, não havia segurança e já não atendia mais a população”, resume o taxista Moacir Barcelo, que trabalhou no local e hoje opera no terminal Ramos de Azevedo. “Aqui, a localização é melhor e há mais segurança, inclusive com agentes espalhados por todo o complexo”. A antiga rodoviária tinha 12 plataformas de ônibus e a atual conta com 40.
A construção teve início em 2006. “A área era um descampado com algumas casas de ex-funcionários da antiga estação ferroviária”, lembra Murilo Tanaka, um dos proprietários do supermercado localizado em frente à Rodoviária. Projetada pela Prefeitura de Campinas, a edificação foi inspirada no trabalho do arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo, que dá nome ao terminal e o torna um dos cartões postais de Campinas. O artífice é responsável por importantes marcos arquitetônicos na cidade, como a Catedral Metropolitana, o Mercado Municipal (Mercadão) e a Casa de Saúde.
No interior, a área de espera e compra de passagens conta com amplo comércio que inclui livraria, lanchonetes, cafés e lojas de presentes, doces e cosméticos. Há ainda serviços de guarda volumes, achados e perdidos e caixas eletrônicos. As poucas referências à história de Campinas estão em algumas fotos de prédios antigos emolduradas em quadros na parede. Na livraria, não há cartão postal.
Rescaldos da pandemia
O movimento na rodoviária estava fraco nesta segunda-feira (5). Nada que surpreenda os comerciantes locais. “Normalmente está sendo assim ultimamente”, diz o taxista Cláudio Luiz, de 76 anos, proprietário de um dos 70 táxis licenciados para operar no terminal. Os veículos se aglomeram na fila da rampa de acesso ao portão principal e a espera pelo embarque de algum passageiro leva, em média, 2h. A situação representa ainda um rescaldo da pandemia, afirmam os motoristas.
Iraneide Correa Ribeiro, no entanto, não se intimida. Aos 60 anos, ela é uma das quatro mulheres que trabalham com táxi na rodoviária. “Ocupo o lugar do meu ex-marido, que trabalhou por 40 anos, mas precisou parar, pois perdeu a vista”, conta Iraneide, que opera no local há nove anos. “Deixei a profissão de cozinheira para dirigir táxi. Tem dia que faço 12 horas. Graças a Deus, nunca tive problema com violência.”
A rodoviária permitiu o desenvolvimento do comércio a sua volta, mas, curiosamente, levou prejuízo ao estabelecimento que fica mais próximo à área. Uma unidade do Tanaka Supermercados, localizada em frente ao terminal e que ocupa o espaço há 20 anos, teve uma queda de aproximadamente 50% no faturamento após a inauguração da rodoviária, segundo um dos proprietários.
“Trabalhávamos como atacadistas e os clientes se perderam aqui em meio à bagunça da movimentação e do trânsito. Precisamos mudar e passamos a atuar no setor de varejo. Tínhamos 60 funcionários e hoje temos 26”, conta Murilo Tanaka para quem a situação piorou após a pandemia.
Em contato frequente com usuários da rodoviária, Tanaka ainda revela um outro impacto gerado pela pandemia: a falta de passagens e ônibus, que, segundo ele, virou rotina no terminal.
“Já vi gente que precisou ficar uma semana por aqui para conseguir embarcar. Ônibus para São Paulo, por exemplo, que tinha a cada 15 minutos, agora é dentro de um intervalo de uma hora. Pior ainda é para quem chega na rodoviária com a passagem comprada e não consegue embarcar. Muitos também precisam dormir no terminal, pois só encontram possibilidade de viagem no dia seguinte.”