Um menino de 11 anos sofreu preconceito e intimidação na Escola Estadual Aníbal de Freitas, no Jardim Guanabara, em Campinas, ao sugerir que o tema LGBT fosse debatido em um trabalho escolar, segundo a família. O caso aconteceu na última sexta-feira (11) em um grupo de mensagens do colégio. Um boletim de ocorrência foi registrado e a família espera que medidas sejam tomadas com relação ao episódio.
A criança vive com a irmã Danielle Cristina de Oliveira, que fez um desabafo em uma rede social. Ela afirmou que nunca imaginou que passaria por uma situação como essa. “O meu irmão de apenas 11 anos fez uma sugestão no grupo da escola de fazer um trabalho falando sobre LGBT. Ele foi massacrado com tanto preconceito, como se ele tivesse cometendo um crime”, disse.
Alguns prints das conversas no grupo da 6ª série que foram divulgados mostram que pais de alunos e a direção repudiaram a sugestão do garoto.
Ainda segundo ela, a coordenadora da escola ligou para o garoto na noite de segunda-feira. “Ligou para ele por volta das 20:30, acabando com ele, falando para ele retirar o comentário, que no caso foi uma sugestão de estudo, se não iria remover ele do grupo da escola, falou para ele que era inapropriado/inadmissível/que era um absurdo ele ter colocado no grupo, que ele precisava de tratamento”, contou.
Danielle disse que falou com a coordenadora da escola sobre a conversa com a criança. “Ela falou para mim o seguinte: você não acha um absurdo ele querer saber sobre o LGBT? eu falei que não, pois aqui na minha casa nós não temos preconceito e já ensino o meu irmão a não ter também”, esclareceu. A Secretaria Estadual de Educação, em nota enviada ao Hora Campinas, afirmou que repudia qualquer tipo de preconceito, que enviou um supervisor à unidade para apurar o caso e que colocou suporte psicológico à disposição do estudante.
“O meu irmão é somente um menino curioso, uma criança que tem muito o que apreender ainda, ele não é homossexual e mesmo que fosse, todos precisam de respeito, ele só sugeriu um tema para estudo, a direção da escola acabou com ele, jogou tanto preconceito, logo a escola que deveria ensinar, dar o exemplo”, avaliou.
A responsável pela criança reprovou a atitude da coordenadora. “Ela deveria ter ligado diretamente para os responsáveis e não coagir uma criança do jeito que ela fez. O meu irmão está triste. Ele já me pediu desculpa umas mil vezes, como se ele tivesse feito algo de errado, ele chora e eu choro junto”, escreveu.
Um boletim de ocorrência foi registrado de forma on-line no sábado (12). A criança deve passar por acompanhamento psicológico nessa segunda-feira. De acordo com a advogada que está orientando a família, eles irão à escola nesta terça-feira (15) para debater o assunto.
A Polícia Civil informou que “apura todas as circunstâncias relacionadas aos fatos narrados no boletim de ocorrência, registrado neste sábado (12) na Delegacia Eletrônica pela irmã da criança. O caso foi encaminhado ao 7º Distrito Policial de Campinas, onde a vítima, com a responsável, deve comparecer para dar mais detalhes do ocorrido”.
Nota da Secretaria Estadual de Educação
Em nota enviada ao Hora Campinas, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) afirmou que “repudia qualquer tipo de preconceito, dentro ou fora do ambiente escolar”. No texto, informou que “um supervisor de ensino foi enviado à escola para apurar o caso e todas as medidas administrativas cabíveis serão tomadas”.
E segue a nota oficial: “Equipe do Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva SP) também será enviada para apoiar o estudante, sua família e a comunidade escolar. A Seduc-SP também conta com psicólogos profissionais no programa Psicólogos na Educação, que está presente em todas as escolas estaduais, e já foi disponibilizado o atendimento para o estudante, que será orientado a fazer o agendamento na escola.
O respeito à diversidade faz parte do Currículo em Ação para que seja ensinado e aprendido nas escolas estaduais. Sempre dentro do contexto dos conteúdos escolares previstos para cada série e cada componente curricular. As escolas têm autonomia, dentro do seu projeto pedagógico, para organizar quando e de que forma essa temática será abordada.
Recentemente aconteceu uma formação com educadores de toda a rede durante as Aulas de Trabalho Pedagógico Coletivo (ATPCs), que acontecem toda semana, onde foram discutidos a discriminação e o preconceito e como abordar o tema dentro das escolas com seus alunos e equipe escolar.
Como uma ação, a EE Aníbal de Freitas trabalha temas transversais, em parceria com a PUC-Campinas, realizando diversas palestras relacionadas à temática LGBTQIA+, direcionadas à comunidade escolar. A administração regional e a direção da unidade estão à disposição dos pais ou responsáveis para quaisquer esclarecimentos.