Foi dada a largada para os Jogos Paralímpicos com a festa de abertura da competição realizada na manhã desta terça-feira (24), no Estádio Nacional de Tóquio. Potência paralímpica, o Brasil chega ao Japão com 260 representantes, entre eles o fenômeno campineiro Daniel Dias, detentor de 24 medalhas em três participações nos Jogos (14 ouros, sete pratas e três bronzes).
Além do ídolo nacional da natação, a cidade conta também com outros representantes no atletismo: Alan Fonteles, Ketyla Paula Pereira Teodoro, Kesley Josué Pereira Teodoro e Ricardo Gomes de Mendonça, todos atletas da Associação Paraolímpica de Campinas (APC). Thiago Lourenço, membro da comissão técnica da equipe brasileira, e o atleta guia Rodrigo Chieregatto, também trabalham diretamente com os paratletas do município e todos vão em busca do sonho de conquistar medalhas no território japonês.
Medalhista de ouro em Londres nos 100 metros, prata nos 4×100 metros em Pequim e no Rio de Janeiro, Alan Fonteles disputa pela quarta vez os Jogos Paralímpicos. O objetivo é superar os americanos e os alemães na disputa, e o atleta brasileiro mostrou confiança para garantir grandes resultados na competição.
“Mesmo com a pandemia atrapalhando os treinamentos, vamos fortes em busca do pódio”, projetou.
Aos 31 anos, o competidor Ricardo Gomes de Mendonça vai disputar pela primeira vez os Jogos Paralímpicos. O atleta é especialista na prova dos 200 metros e confirmou índice para a competição neste ano, no Para Athletics Grand Prix 2021.
Ketyla Paula Pereira Teodoro e Kesley Josué Pereira Teodoro são irmãos e chegam a Tóquio para disputar a primeira Paralimpíada em família. Sem ter a irmã competindo ao lado em 2016, Kesley conquistou o quarto lugar nos 100 metros e cinco anos depois busca a sonhada medalha. Estreante nos Jogos, Ketyla alcançou índice no Mundial de Dubai. Antes da disputa da famosa prova dos 400 metros, a brasileira mostra felicidade com o carinho que vem recebendo dos voluntários.
“Estou impressionada com o carinho e a atenção demonstrada por eles. Estamos sendo super bem tratados. Isso nos motiva muito para buscar uma medalha”, destacou a brasileira.
Gerente de projetos e diretor técnico da APC, Luiz Marcelo Ribeiro da Luz destaca a qualidade dos competidores brasileiros e projeta disputa por medalhas em Tóquio. Ele também enaltece o prazer de trabalhar com pessoas com deficiência e ajudar a formar cidadãos antes de atletas.
“O Alan é uma figura importante do esporte paraolímpico, já foi medalhista. O Kesley já foi convocado, participou dos Jogos de 2016 e ficou com a quarta colocação. A Ketyla também é uma atleta internacional muito importante e vai para a sua primeira participação nos Jogos. Todos são atletas que estão buscando uma ascensão cada vez maior e a gente espera que eles possam lutar por medalhas” projeta.
“Eu estou no movimento paraolímpico há 30 anos, já fui técnico da seleção paraolímpica de natação, sou um treinador medalhista dos Jogos de Sidney e participei de vários Mundiais e Parapan-Americanos. Venho de uma trajetória longa no movimento paraolímpico e hoje encabeçar a gestão na área técnica da APC é motivo de orgulho por formarmos pessoas antes de formar atletas”, valoriza o gerente de projetos.
“Formamos pessoas para que o movimento paraolímpico cada vez possa se ampliar na sua grandeza, porque o esporte de fato é transformador e tem tido um papel muito importante na valorização da pessoa com deficiência. Ajudar nessa construção é motivo, sim, de orgulho”.
APC: formação e inclusão através do esporte
Fundada no dia 10 de maio de 2007, a Associação Paraolímpica de Campinas (APC) é uma entidade não governamental, sem fins lucrativos, que busca contribuir para a formação global de pessoas com deficiência na perspectiva da inclusão social, através do desenvolvimento de atividades esportivas. A entidade atua nas modalidades de natação e atletismo, reunindo pessoas com diferentes graus e tipos de deficiência. Todos os atendimentos são realizados por profissionais com experiência no desenvolvimento de atividades voltadas para este segmento.
“A APC nasce pelas mãos do professor Maico Cabestre e eu também colaborei desde o início, uma vez que o Maico trabalhava comigo numa sequência de ações ligadas ao esporte paraolímpico. Nosso objetivo era estruturar um clube de Campinas que atendesse exclusivamente pessoas com deficiência e isso aconteceu no mesmo período da criação da Lei Federal do Incentivo ao Esporte, e precisávamos de entidades que pudessem se beneficiar disso também. O foco central era a estruturação de um trabalho mais sólido para o atendimento de pessoas com deficiência e a valorização dos profissionais que atuavam nessa linha de ação. Desde o início sempre trabalhamos com o atletismo e a natação”, pontua Luiz Marcelo.
Apesar de ter um braço muito forte no esporte de rendimento, a APC não trabalha somente nessa vertente.
A associação realiza trabalhos desde a formação até o alto rendimento. A busca por atendidos vem de duas maneiras, pela procura espontânea de pessoas com deficiência e também através da captação direcionada.
“Os atletas de maior rendimento, dependendo do projeto, eles mesmo buscam a gente com o objetivo de melhorar o atendimento que precisam para o seu desempenho. A APC não tem por natureza buscar atletas de fora, a gente sempre espera que eles venham até nós, por uma questão ética de não tirar um atleta de outro clube. Então basicamente fazemos essa captação através da busca espontânea pela APC, quando atletas vem até nós, ou então realizamos uma busca direcionada nas organizações, principalmente do município, que fazem atendimento a pessoa com deficiência e essa pessoa quer usar o esporte como uma ferramenta de desenvolvimento”, explica o diretor técnico.
Além da captação, a APC recebe desde 2008 recursos da Prefeitura de Campinas através do Fundo de Investimentos Esportivos de Campinas (FIEC), um edital público que a associação se inscreve junto com outras entidades e acaba garantindo recursos pelo trabalho de excelência realizado na cidade.
“Nossos atletas paralímpicos são exemplos de resiliência, determinação e força. Campinas tem orgulho de cada um e sabe que independentemente do resultado final, são todos vencedores”, destaca Fernando Vanin, secretário de Esportes e Lazer de Campinas.
Em relação ao Comitê Paralímpico Brasileiro, a APC busca recursos também através de editais públicos que o comitê abre e a entidade concorre. A associação já recebeu recursos em alguns projetos específicos em anos anteriores, no entanto não recebeu esse repasse nos últimos anos. Apesar disso, a APC reconhece e agradece a estrutura disponibilizada no centro de treinamento do comitê.
“Já tivemos o clube escolar que foi um projeto importante que o comitê desenvolveu anos atrás, mas tem um bom tempo que a gente não recebe repasse de recurso. Eu acho que o comitê presta o bom atendimento dentro do que ele tem como configuração. Os recursos que ele tem são para as seleções, para investir nos recursos do CT e ele cumpre com a missão dele”, explica Luiz Marcelo.
“Eu acho que a gente vem tendo um olhar importante para os clubes. A APC trouxe uma discussão à tona no início do ano passado sobre os recursos oriundos das loterias, que deveriam ser destinados aos clubes. A gente capitaneou essa discussão que levou à criação do Comitê Brasileiro de Clubes Paralímpicos. Existe hoje um recurso que está paralisado em uma discussão judicial. Esse recurso estava no Comitê Brasileiro de Clubes, que tem solicitado seu uso, mas não chega aos clubes. Penso que o Comitê Paralímpico poderia auxiliar nisso, mas acho que ele cumpre seu papel dentro da sua origem estatutária”, esclarece o gerente de projetos da APC.
Apesar da estrutura de treinamentos oferecida pelo Comitê Paralímpico Brasileiro, a APC tem dois centros em Campinas que estão disponíveis para os atletas da entidade.
No atletismo, é utilizado o Centro Esportivo de Alto Rendimento (CEAR), que está localizado no km 89,5 da Rodovia Anhanguera, no Complexo Swiss Park. Na natação, os atletas treinam no Sesi Santos Dumont, que fica no Parque das Camelias.
“Temos atletas hoje em três locais de trabalho. Nosso centro de treinamento em Campinas que é o principal, onde fazemos o gerenciamento direto. Temos atletas treinando no CT do Comitê Paralímpico e também temos um atleta treinando em Bragança Paulista, no Centro de Treinamento de Atletismo da confederação. São três centros importantes pela qualidade que eles podem oferecer aos atletas”, enaltece Luiz Marcelo.
“É importante destacar que o nosso local base é Campinas. A cidade tem um CEAR, que é um Centro Esportivo de Alto Rendimento e a gente usa essa mesma estrutura para o atletismo. Na natação, temos um termo de cessão de uso de espaço no Sesi Santos Dumont. A natação está focada dentro do Sesi e o atletismo dentro do CEAR”, finaliza.
Por se tratar de uma entidade sem fins lucrativos, a APC depende do apoio da sociedade para prosseguir com o trabalho. Quem tiver interesse em apoiar e conhecer a associação, ou ser praticante do esporte paralímpico, basta entrar em contato pelo site oficial ou pelas redes sociais.
Site: www.apccampinas.org.br
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