A morte de pelo menos 31 pessoas no Canal da Mancha, em um naufrágio ocorrido na quarta-feira (24), é o pior incidente registrado na região desde que OIM (Organização Internacional para as Migrações) começou a coleta de dados, em 2014. Outros 106 imigrantes foram resgatados em águas francesas no dia do acidente.
O presidente francês, Emannuel Macron, pediu uma reunião de emergência, em nível europeu, para debater a crise migratória. Ele quer um reforço imediato da ação da agência europeia de fronteiras. Macron avisa que a França não permitirá que o Canal da Mancha se transforme em um cemitério.
Na madrugada desta quinta (25), a França deteve uma quinta pessoa por suspeita de tráfico humano, na sequência do naufrágio. As autoridades francesas já tinham detido, horas após a descoberta dos corpos, quatro pessoas suspeitas de envolvimento no incidente do Canal da Mancha.
Segundo Gerald Darmanin, o homem conduzia um veículo de placa alemã e teria comprado na Alemanha os barcos semirrígidos onde seguiam os migrantes.
Os migrantes saíram do porto francês na tentativa de chegar ao Reino Unido, mas apenas dois foram, até agora, encontrados com vida. Os dois sobreviventes, um iraquiano e um somali, estavam em “grave hipotermia”.
Organizações mafiosas
Apesar da tragédia e do tempo agitado, muitos migrantes continuam a tentar alcançar o Reino Unido. Esta manhã, dois barcos com cerca de 40 pessoas atracaram na cidade de Dover, na Inglaterra.
A Jurisdição Especializada Interregional da cidade de Lille, junto a Calais, abriu uma investigação sobre a tragédia no Canal da Mancha, que envolvem suspeitas de ajuda à entrada e estadia irregulares por grupo organizado, homicídio e lesões involuntárias e associação criminosa.
O ministro Gerald Darmanin informou que, desde 1º de janeiro deste ano, o país já deteve 1.500 traficantes de seres humanos. Os contrabandistas funcionam como “organizações mafiosas” que atuam no “crime organizado”, chegando mesmo a utilizar “telefones codificados”, disse o governante. Os ministros francês e britânico do Interior deverão se reunir para discutir o assunto.
Tentativas
As tentativas de atravessar o Canal da Mancha a bordo de pequenas embarcações, instáveis e sem segurança, duplicaram nos últimos três meses, alertou recentemente o prefeito marítimo do Canal da Mancha e do Mar do Norte, Philippe Dutrieux.
Do início deste ano até 20 de novembro, cerca de 31,5 mil migrantes partiram das costas francesas e 7,8 mil foram resgatados. Apesar das temperaturas rigorosas nos meses mais frios, a tendência não diminuiu.
Segundo o Reino Unido, nos primeiros dez meses do ano foram 22 mil os migrantes a fazer a travessia.
Acusações
O presidente da França assegurou que seu país não permitirá que o Canal da Mancha se transforme num cemitério”, apelando a uma “reunião de emergência dos ministros europeus”.
Em entrevista à Sky News, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse, por sua vez, estar “chocado, revoltado e profundamente triste”, garantindo que quer “fazer mais”, em conjunto com a França, para desencorajar as travessias ilegais.
Ele disse ter encontrado “dificuldades em persuadir alguns aliados, em particular os franceses, a agir” perante a crise migratória.