Lembro-me de quando participei de um exame e ultrassom da nossa quinta filha. Ela contava com 22 semanas de gestação. A médica manuseava um equipamento enquanto observávamos na tela as imagens, não muito nítidas. Mas eis que consegue uma tomada e então víamos nitidamente uma menina que mexia as perninhas e os bracinhos. Então a médica exclamou: “Oh! Vejam! Ela coloca o dedinho na boquinha”.
Quando essa filha maravilhosa nasceu, não aceitou as chupetas. E foi difícil tirar-lhe o vício de levar o polegar direito à boca…
Outro episódio muito marcante: o nosso sétimo filho nasceu com um problema respiratório e foi levado à UTI Neonatal. Ali ele tinha por companheiro na incubadora ao lado o Pedrão. Assim o chamavam aqueles anjos em forma humana que eram as enfermeiras que ali trabalhavam. O Pedrão nasceu após 22 semanas de gestação, vítima de um aborto “malsucedido”. O nosso filho teve alta e o Pedrão lá permaneceu. Um bebê lindo que lutava valentemente pela vida.
Surge agora no cenário nacional outro episódio. Uma menina, vítima de estupro, traz no ventre um bebê de 22 semanas. A juíza, minha colega, que cuida do caso, ousou perguntar-lhe: “Quanto tempo que você aceitaria ficar com o bebê na tua barriga para gente acabar de formar ele, dar os medicamentos para o pulmãozinho dele ficar maduro para a gente poder fazer essa retirada antecipada do bebê para outra pessoa cuidar se você quiser?”.
Pela sua atuação nesse caso ela tem sido duramente criticada por alguns segmentos da mídia. Penso que injustamente.
Vê-se – ao menos no que podemos ler nas hostis publicações – que a juíza, com profundo respeito, buscava salvar uma vida, na medida do possível, sem penitenciar ainda mais a mãe, que é uma criança vítima de um crime brutal e repugnante.
Hoje (quarta-feira, 22 de junho) se celebra Tomas More. Que esse grande homem, que deu a sua vida para não trair a sua consciência, inspire a todos nós, juízes e juízas, a julgarmos com prudência, fortaleza e justiça, sem nos deixarmos dominar pela opinião pública ou pela pressão de pessoas ou instituições pouco comprometidas com a verdade e com a vida.
Fábio Henrique Prado de Toledo, casado com a Andréa Toledo, pai de 11 filhos e avô de 2 netas. Moderador em cursos de orientação familiar do Instituto Brasileiro da Família – IBF. Especialista em Matrimônio e Educação Familiar pela Universitat Internacional de Catalunya – UIC, é Juiz de Direito. E-mail: [email protected]