Ser pai é uma trajetória eterna de exercício de amar, cuidar, educar com acertos, mas talvez com eventuais erros que vão aperfeiçoando a forma como se aprende esse papel. Papel de ser PAI.
Isso ensina a valorizar o tempo, o bem maior, que quando perdido, não há de se recuperar. O tempo como a vida não tem bis.
O tempo ensina a arte da convivência entre pai e filho. E não apenas referente a pais biológicos ou de criação! Trata-se de amor.
Ser tio é também ser pai, pois o tio cuida dos sobrinhos, ama-os, ampara-os, escuta-os e torce para o seu sucesso, como se filhos fossem. E assim também faz o avô com o neto.
Esse amor de pai é entremeado de sons, um sem-número de sons que correspondem, metaforicamente, a gestos e momentos de amor intensos e que também, por vezes, confortam e aquietam o coração de pai.
A começar pelo choro na sala de parto. O filho nasceu. O choro é o primeiro cumprimento aos pais. Cheguei… e esse som os deixa extasiados.
Inesquecível um dos mais doces sons ao ouvir o filho balbuciar: papai e atirar-lhe os braços.
Ficam também na memória os “parabéns a você” de cada ano que se dobra sobre o outro, as músicas de Natal a ficarem gravadas no ouvido e no coração. E os sons emanados da alegria de ganhar um carrinho de rolemã que soará, por muito tempo, desembestado, nas ladeiras da infância. E os altos sons das risadas e gritos nas férias à beira-mar…
Um dos sons mais aliviantes para pais: o barulho dos passos amassando as folhas secas de outono do jardim e o ruído da chave abrindo a fechadura da porta. O filho voltou da balada.
E o telefone que soa a comunicar que o filho ingressou na Faculdade!
Mais tarde, com o fluir dos anos, será ouvido o nome do filho no dia da Colação de Grau. Som das palmas entusiasmadas, da valsa… Som mesclado de alegria pela formatura e de ansiedade pela partida em busca de realização profissional.
E continuam os sons da vida entre pai e filho: a voz no alto-falante do aeroporto a informar que a aeronave já se encontra em solo e o embarque será dentro de poucos minutos.
Voz sussurrada ao ouvido: Meu pai, fique bem! Tenho que seguir a vida…
O telefone toca exatamente no horário combinado: — Não se preocupe, pai, estou longe, mas muito bem.
O tempo passa. A buzina do carro anuncia a visita do filho ao pai. Tantos sons entremeados com o barulho das lágrimas nos olhos marejados e com tantas novidades a contar! Som dos talheres na mesa de refeição… do vinho derramado na taça para o brinde…Depois, o som do estar na hora de ir embora.
Alguns sons mantiveram-se sem resposta: convites não aceitos… os sons das solicitações externas eram mais exigentes… tanto trabalho a cumprir… tantos compromissos! Tantas luzes seriam apagadas a avisar que o espetáculo iria começar.
A vida fluiu… E sons emudeceram: apenas as mãos do pai e do filho se entrelaçavam… apenas os olhares se cruzavam… o pai deixou de falar… agora reinava o mais significativo som – o som do silêncio… e o filho a cantarolar a cantiga de ninar a embalar o pai…
E o filho sufocou o som das palavras: — Pai, se eu pudesse te fazer eterno!
Ana Maria Melo Negrão é membro da Academia Campinense de Letras (ACL)