Pouco mais de um século depois, e apenas pela segunda vez na história, o tradicional clássico campineiro entre Ponte Preta e Guarani volta a ser disputado no dia 21 de maio. Em 1916, há exatamente 107 anos, a data também caiu num domingo e registrou o primeiro capítulo de uma série de confusões que marcam negativamente a centenária rivalidade entre as duas principais equipes do futebol de Campinas.
Disputado no dia 21 de maio de 1916, no campo do antigo Hipódromo Campineiro, que ficava no bairro do Bonfim, no mesmo terreno onde atualmente funciona o Sesc Campinas, o Dérbi nº 7 também inaugurou oficialmente a supremacia do Guarani no retrospecto geral do clássico campineiro. Apesar de bastante equilíbrio no confronto, a histórica vantagem bugrina persiste até hoje e seguirá pelo menos até o duelo do segundo turno da atual edição da Série B.
O Dérbi 205 acontece na noite deste domingo (21), às 18h, com torcida única no estádio Moisés Lucarelli, pela 7ª rodada da Série B do Campeonato Brasileiro. Essa é apenas a segunda vez que o clássico campineiro entre Ponte Preta e Guarani acontece no dia 21 de maio. Na única ocasião anterior, em 1916, o Bugre venceu a Macaca por 2 a 0, em duelo repleto de confusão no antigo Hipódromo Campineiro, no Bonfim.
Ao todo, em 204 partidas disputadas até hoje, foram 69 vitórias bugrinas, 67 triunfos pontepretanos, 67 empates e um resultado desconhecido. O jogo com placar misterioso remete justamente ao primeiro encontro entre as duas equipes, ocorrido há 111 anos, no dia 24 de março de 1912, em um amistoso no antigo Campo da Vila Industrial.
Como não existe nenhum registro oficial que se tenha notícia, seja em documentos ou jornais da época, a versão bugrina dada por um dos fundadores do clube, Pompeo de Vitto, dá conta de que houve empate, mas posteriormente surgiram contestações do lado pontepretano, alegando que, na verdade, ocorreu vitória da Macaca. A dúvida continua até os dias de hoje.
Certeza mesmo é que a Ponte Preta saiu vitoriosa nos dois clássicos seguintes, vencendo por 2 a 1 no Hipódromo Campineiro, no dia 19 de maio de 1912, e depois por 1 a 0 no antigo Campo do London, no dia 11 de agosto de 1912, por coincidência mesma data do aniversário do clube alvinegro. Os dois jogos foram válidos pelo extinto Campeonato Campineiro.
Na sequência, avançando dois anos no tempo, o Guarani enfim conquistou a sua primeira vitória em um Dérbi Campineiro, ao bater a Ponte Preta por 2 a 0, no dia 23 de agosto de 1914, no distrito de Sousas.
“Em Sousas, o Guarani venceu pela primeira vez um Dérbi e conquistou o título informal de campeão campineiro. Os torcedores da Ponte foram depois aos jornais criticar o árbitro, que respondeu pelo Diário do Povo mandando os pontepretanos guardarem os tocos das velas para o velório de seu time”, relata o historiador bugrino Fernando Pereira da Silva.
Depois disso, o Guarani enfileirou mais três vitórias sobre a Ponte Preta, todas elas em duelos disputados no Hipódromo Campineiro. O primeiro deles, no dia 24 de outubro de 1915, terminou com vitória bugrina por 1 a 0. O segundo, no dia 13 de fevereiro de 1916, registrou placar de 2 a 0 a favor do Bugre, que estreou uniformes inteiramente verdes na ocasião.
O terceiro e último jogo dessa sequência de triunfos bugrinos ocorreu justamente no dia 21 de maio de 1916, quando o Guarani assumiu a frente do retrospecto geral do clássico contra a Ponte Preta, sem qualquer margem para dúvidas, e sem jamais perder a dianteira para a maior rival desde então.
Inaugurado em 1878, pela Associação do Club de Corridas Campineiro, de iniciativa privada, o Hipódromo Campineiro recebeu pela primeira vez um jogo de futebol em 1904, em um campo preparado no meio das raias da pista para corridas de cavalos. Depois disso, entre 1912 e 1936, o Hipódromo foi palco de um total de 15 Dérbis Campineiros, com 10 vitórias do Guarani, quatro triunfos da Ponte Preta e um empate.
Na ocasião, em jogo válido pelo Campeonato Campineiro, o Guarani abriu o placar do Dérbi Nº 7 com gol de Augusto e ampliou o marcador em cobrança de pênalti de Juca. O detalhe inusitado é que a penalidade foi convertida com o gol completamente vazio, ou seja, sem que o goleiro pontepretano Amparense estivesse embaixo da meta. Isso porque ele havia se recusado a se posicionar entre as traves, como forma de protesto pela marcação do árbitro Octavio de Mello. O juiz havia assinalado infração por um suposto sobrepasso, extinta regra do futebol em que o goleiro não podia dar mais de quatro passos com a bola nas mãos.
“Nesta altura, começa a degradante cena provocada por dois elementos da Ponte. Irrefletidamente, não sabemos se com ou sem autorização da diretoria da Ponte, invadem o campo, impondo ao seu time a retirada de campo. Esse ato mais exalta os partidários do time alvinegro e as maiores balbúrdias se iniciam nas arquibancadas”, descreveu o antigo jornal Commercio de Campinas, com o típico linguajar da época, em matéria publicada na segunda-feira, dia 22 de maio, que trazia o seguinte título: “O indecoroso fato de ontem no Hipódromo”.
“O juiz, cercado, levou umas fortes doses de socos, bengaladas, bofetadas, empurrões e umas amostras de armas de fogo”, relatou a reportagem do jornal Commercio de Campinas, em sua edição de 22 de maio de 1916.
“As famílias que ali se achavam foram tomadas de pânico, procurando retirar-se apressadamente. Os amigos, torcedores e aliados se arregimentam em defesa de seus times e o campo de jogo em poucos momentos logo se transformou em campo de batalha, ao mesmo tempo que outros conflitos se davam nas arquibancadas”, também relatou a reportagem.
Exatos 107 anos depois, todos esperamos que esse roteiro de violência tão frequente na história do Dérbi Campineiro não se repita, e a paz prevaleça entre pontepretanos e bugrinos, tanto dentro de campo quanto nas arquibancadas e também fora do estádio.
O 205º clássico entre Ponte Preta e Guarani, neste domingo (21), será realizado com torcida única da equipe mandante, no caso da alvinegra, como acontece desde 2019 em confrontos que reúnem os dois rivais campineiros e também equipes da capital, seguindo determinação do Ministério Público.