O fim de 2020 marcou a volta da cantora campineira Margareth Reali aos estúdios. Foi um hiato de dez anos, quebrado pelo lançamento de I say a little prayer, canção escrita especialmente para Dionne Warwick em 1967. O clássico dos lendários compositores norte-americanos Burt Bacharach and Hal David cai como uma luva para Margareth, artista de voz doce e elegante.
Com uma carreira consolidada, Margareth pisou os mais importantes palcos brasileiros, gravou com grandes nomes como o Mutante Sérgio Dias e teve como parceiros Fernando Faro e Torcuato Mariano, este último o responsável pela produção de I say a little prayer.
Nos dez anos que ficou longe dos holofotes Margareth se ocupou da criação do filho, na recuperação de um AVC e na produção de shows. Viajou o Brasil com artistas do calibre de Tunai e Wagner Tiso, promovendo arte e o melhor da MPB.
Com a pandemia de Covid-19 e shows suspensos, Margareth não podia pensar em retomar suas apresentações e nem produzir a de outros artistas. Sua sensibilidade ajudou-a a se enveredar pelo mundo dos negócios. O Hora Campinas conversou com a agora empresária Margareth Reali, que fala sobre esta reinvenção.
Hora Campinas – De onde veio a vontade de gravar I say a little prayer?
Margareth Reali – Veio do convite do Torcuato Mariano, que idealizou essa proposta, produziu todo o arranjo e colocou os instrumentos. Eu só cantei e fiz uma parte da produção executiva, junto com o produtor Bruno Felga .
Você conseguiu rentabilizar a faixa nas plataformas digitais?
A faixa entrou nas plataformas digitais em Dezembro, mas eu não esperava a nova onda do Covid-19 e a volta para a fase vermelha em Campinas, que me impediu de fazer o ensaio fotográfico no Rio de Janeiro e a gravação de um clipe. Nós vamos retomar o trabalho agora, mas já estou pensando no segundo single e na retomada do projeto de shows Portal de Minas , que eu fiz até 2008, antes de ser produtora.
Você está pensando em gravar um EP. O resultado de I say a little prayer te motivou ou você vê como um investimento em sua carreira?
Eu gostaria de lançar singles de 3 em 3 meses, pois a nova proposta é permanecer ativa o tempo todo no mercado musical. O lançamento do meu primeiro single com a produção do Torcuato Mariano foi tudo que eu precisava para ter força e motivação para voltar a cantar.
Quando você deixou de produzir shows?
Eu continuo produzindo shows e lives para os artistas que estão na minha empresa, mas a frequência realmente diminuiu bastante.
Há quanto tempo você está parada?
Além dos meses da pandemia eu fiquei parada quase 4 meses antes porque fui agredida por uma cantora chamada Guai, de forma covarde e gratuita após ela assistir o show do Tunai e Wagner Tiso em São Paulo, dia 28 de Outubro de 2019. Tive traumatismo craniano, fiquei internada 7 dias e levei meses para me recuperar. Graças a Deus e à Justiça, a polícia tem todas as imagens da agressão e reconheceu o meu sofrimento e a lesão grave que essa cantora/agressora me causou. Eu tenho muita fé que a justiça será feita. Resumindo a resposta pra você: estou parada há mais de 1 ano e meio.
Quando for permitido, além de produzir, você pretende voltar a fazer shows?
Com certeza eu quero fazer shows, pois isso significa trazer muita alegria para minha vida. Tenho prazer em ensaiar, encontrar os amigos e trabalhar com o que eu amo fazer na vida.
Em que momento você considerou abrir um negócio?
Nas minhas viagens como produtora de shows pelo Brasil eu sempre encontrei marcas de roupas e lingeries lindas que eu não encontrava em Campinas. Desde 2012 eu sonhava ter uma loja com essas marcas e, durante a pandemia, tive a ideia de começar a minha lojinha on-line Anna e Philó, que são as iniciais dos nomes da minha avó e tia-avó, que foram costureiras, desde crianças.
Você teve algum temor neste período?
Eu tive muito temor e admito que fui amparada pela minha família, que não me deixou faltar nada. O Cristóvão Bastos também tem sido um super pai para a provisão do nosso filho, Pedro. Apesar do momento difícil, eu me baseio pelo sofrimento de outras famílias e digo que estou sobrevivendo bem, apesar dos pesares.
Como pensou o seu novo negócio?
Eu sempre penso em fazer as coisas do jeito que eu gostaria que fizessem pra mim. Coloco muito amor nas minhas escolhas e penso muito em detalhes e na qualidade do que eu quero vender. Um exemplo é que eu ainda não recebi os chinelos de quarto feitos em pelica. Pedi que para a fábrica que colocassem neles tenham um lacinho especial. Creio que a fórmula para se fazer um negócio é pensar em oferecer o melhor e o mais bonito, sempre, mesmo que algumas pessoas não prestem atenção que você quer fazer o melhor pra elas.
Como é trabalhar em um ramo inteiramente novo para você?
A arte também abrange a moda e eu me sinto muito confortável e feliz analisando as tendências das estações, pensando nos detalhes das peças e, principalmente, pensando naquilo que eu gostaria de ter pra mim e que deixaria feliz outras pessoas. Outro dia eu analisei as cores de um sutiã, contando um pouco da história da moda na França, da Belle Époque, e como as roupas intimas foram ganhando cores e detalhes , quando as modistas sofreram a influência da arte barroca. Fico imaginando uma senhora lendo isso e me sinto feliz por acrescentar algum conhecimento e sentimento para algo tão cotidiano da vida dela.
Como estão as suas vendas? O negócio tem ido bem?
Eu creio que está indo bem, mas estou no início ainda. Pretendo investir futuramente para que minha loja fique conhecida no mercado digital, assim que for possível vou contratar um profissional de marketing para as redes.
Que tipo de roupas você vende?
Estou focando por enquanto no novo estilo Comfy, que traz aconchego e conforto para as pessoas, nesta quarentena. Tenho os pijamas – roupas, que são os pijamas que você pode sair com ele quando coloca um tênis . Vendo moletinhos (são os antigos conjuntos de moletons, mas em malhas muito mais finas e confortáveis), além de lingeries lindas e moda praia.
Como se dá o processo da escolha das peças?
Estou estudando as tendências de modas, com suporte das próprias fabricas. Também procuro ouvir cada pessoa que quer comprar comigo, buscando entender o que ela quer pra se sentir confortável e bonita.
Você acredita que esta saída esteja contribuindo para te manter financeiramente e mentalmente saudável?
Eu me sinto muito bem trabalhando e aprendendo coisas novas, ao invés de ficar me lamentando que a pandemia fechou teatros e acabou com os shows. Às vezes eu produzo lives , para um ou outro contratante, mas sem o trabalho com as roupas eu teria muito tempo livre, que se transformaria em tristeza e depressão. Eu também treino canto lírico e danço em casa quase todos os dias para manter o humor em alta.
Qual o maior desafio: produzir shows ou ser comerciante?
Com o Brasil nas mãos de pessoas que não valorizam a cultura, o maior desafio agora é sobreviver. Eu gostaria muito de continuar a ter o mesmo sucesso na minha empresa de shows, mas como comerciante eu também posso realizar sonhos muito bonitos que estão além do ato de consumir. Quando uma mulher escolhe uma lingerie para uma noite especial, como a de núpcias, por exemplo, existem muitos sentimentos que brotam nesse momento e é muito comovente. Todas as profissões têm a sua beleza e nem sempre estamos vivendo os 100% dos nossos desejos e sonhos. Porém, o fato de sobrevivemos à pandemia já nos dá motivos suficientes para sermos gratos, em qualquer profissão que estivermos exercendo.
Quem quiser conhecer o seu negócio onde pode procurar?
Pode procurar por Anna e Philó, no Instagram e Facebook (facebook.com/annaephilo e instagram.com/annaephilo/)