Duas bandeiras, uma do Guarani e outra da Ponte Preta, já se tornaram “figuras carimbadas” nas arquibancadas dos jogos da Copa do Mundo. E no Catar a tradição será mantida. Os responsáveis pelos artefatos já estão se encaminhando do Brasil para Londres, e da Europa em direção a terras árabes. Trata-se de um grupo formado em sua maioria por campineiros bugrinos e pontepretanos cuja presença em Mundiais já virou um ritual.
A “saga” pelos países da Copa teve início na Alemanha, em 2006, prosseguiu no Mundial da África do Sul, em 2010, mesmo com vários “desfalques” no grupo, e teve sequência nas Copas do Brasil, em 2014, e da Rússia, em 2018. Essa, do Catar, apesar da distância e da cultura diferenciada do país, é a que atraiu mais gente em comparação aos Mundiais anteriores. “Vamos em 16 pessoas”, conta o advogado Cristiano Lins Henrique, um dos participantes assíduos das aventuras.
O planejamento do grupo começou assim que terminou a Copa da Rússia. “Arrecadamos um valor mensal que não pesasse no bolso de cada um e buscamos informações sobre o Catar”, conta Cristiano. “No começo, não estávamos muito animados, mas conforme as coisas foram fluindo, a expectativa foi aflorando”, comenta. Todos assistirão aos três primeiros jogos do Brasil na fase de grupos e uma parte ainda ficará para as oitavas de final.
A organização levou em conta uma estratégia de gastos. “Não ficaremos em hotel. A hospedagem será em apartamentos disponibilizados pelo governo local e pagaremos pela diária”, explica o advogado. Entre passagens, ingressos e acomodação, o custo será de aproximadamente 18 mil por pessoa. “Já a alimentação vamos ver como fica”.
A experiência de alguns integrantes do grupo fortaleceu a ideia da viagem. “Três foram na final do Mundial de Clubes no Catar em 2019 e compartilharam informações sobre o país. Isso nos tranquilizou”, afirma Cristiano, referindo-se ao jogo em que o Flamengo perdeu o título para o Liverpool. A cultura diferenciada do país árabe não assusta. “Estamos preparados, lemos bastante e estudamos sobre o Catar”, justifica o empresário Cesar Massaioli, um dos aventureiros. “E também já tive a oportunidade de ir para Dubai. Não será uma surpresa.”
Um dos maiores desafios para viabilizar a viagem foi conseguir comprar os ingressos para os jogos.
“Pelo site da Fifa, cada pessoa poderia comprar até 6 entradas”, esclarece Cristiano. “Logo na primeira fase de vendas, que era por sorteio, conseguimos para o primeiro e terceiro jogos para toda turma. Na segunda fase, que era por ordem de acesso ao site, fizemos uma ‘força-tarefa’ e todos logaram. Deu certo. Conseguimos os ingressos que faltavam para a segunda partida e a das oitavas.”
O grupo terá ainda debutantes. Os filhos de Massaioli, que na Copa da Rússia eram menores de idade, enfim terão a oportunidade de acompanhar um Mundial de perto. “Eu só ficava ouvindo as histórias do meu pai e do pessoal que viajava e pensava: ‘tenho que estar junto também’. E agora estou tendo essa oportunidade, vai ser muito legal”, diz Rodrigo, filho mais velho de Massaioli, de 20 anos. A princípio, o grupo era formado por 19 pessoas, mas, em função de alguns imprevistos, o número reduziu para 16.
Até então, a maior quantidade de gente reunida foi no Mundial da Alemanha, em 2006. “Éramos em 15”, lembra Cristiano, que conta sobre a experiência com saudade, apesar do fiasco da Seleção Brasileira, grande favorita para a conquista do título. “Tínhamos certeza que seríamos campeões, mas nas quartas de final presenciei a maior atuação individual de um jogador na história”, comenta o torcedor, referindo-se a Zidane, grande nome da Seleção Francesa, que eliminou o Brasil.
Mesmo com a derrota da Seleção, a viagem valeu a pena. “Eram outros tempos e fizemos um ‘mochilão’ pela Europa. Visitamos oito países durante 40 dias”, lembra o torcedor. Na Copa da África do Sul, em 2010, a caravana teve só quatro integrantes, e em 2018, na Rússia, histórias não faltaram. “Assim que chegamos na Rússia, descobrimos que havíamos sido vítimas de um golpe. O hotel onde ficaríamos não existia”, recorda Massaioli, que estava acompanhado na época de outras oito pessoas. “Mas conseguimos acessar um site de buscas e nos acomodamos em outro lugar”, completa.
O torcedor revela ainda uma surpresa há quatro anos. “O russo se mostrou extremamente hospitaleiro, contrariando a imagem de povo rude que é passada para nós”.
Outro momento marcante na Copa de 2018 esteve ligado à música. “Levamos nossos instrumentos e saíamos nas ruas tocando samba”, conta Cristiano. “O povo russo ficou encantado.” O torcedor afirma que o grupo chegou a se apresentar em uma casa de shows em São Petersburgo para 3 mil pessoas. “Conhecemos o pessoal do MVA (Movimento Verde Amarelo), hoje considerada a torcida oficial da Seleção, e então passamos a tocar nos eventos que eles organizam antes dos jogos”, detalha. No Catar, os torcedores garantem que o samba vai continuar. E dessa vez, esperam, que o hexa seja a razão da batucada.