Essa semana peguei-me refletindo sobre algumas afirmações, pensamentos positivos típicos de autoajuda sem fundamento, de que a pandemia veio pra modificar a sociedade, de que ela veio para nos ensinar algo, para nos fazer seres humanos melhores, comprometidos com o próximo, com causas sociais, mais humildes e empáticos, mais solidários e menos gananciosos, mas… Bem, parece que mesmo depois de quase dois anos, não mudou muita coisa, como diria minha vó: os problemas só mudam de endereço.
Convido você a refletir sobre essas questões. Posso contar com sua companhia? Bom, vamos lá.
Tenho particular ligação com a área musical sertaneja, pois sou sanfoneiro, portanto recordo-me de que no início da pandemia vários cantores de renome nacional fizeram as chamadas lives para arrecadar fundos, alimentos, dinheiro com a finalidade de ajudar as famílias carentes, que haviam perdido seus empregos, que precisavam de alimentos e dinheiro para comprar remédios.
Mas parece que esse primeiro gesto de “caridade” foi sendo substituído aos poucos pelo olhar capitalista, um olhar competitivo, que envolviam seguidores, visualizações e por aí vai, até que o gesto caridoso foi-se esquecido.
Não me esqueço que no início da pandemia pessoas se dispuseram a comprar ou arrecadar alimentos para doar aos próximos, mas logo aí os egoístas de plantão já revelaram a cara, comprando 10 pacotes de arroz, 10 de feijão, açúcar, café, produtos de limpeza, de higiene, carnes, como se estivéssemos entrando numa guerra onde é cada um por si!
Passados quase dois anos do início da pandemia eu pergunto a você: o que realmente mudou em sua vida?
O que você percebeu que mudou na sociedade? Comportamentos, mentalidade? Será que nos tornamos um país mais generoso, preocupado com o próximo e menos ganancioso como muitos diziam que iria acontecer?
Antes de cursar filosofia eu li muito livro de autoajuda, mas depois que encontrei autores mais realistas como Nietzsche, Sartre, Freud, Camus percebi que um pouco de pé no chão não faz mal à ninguém. Sonhar é sim importante, mas permanecer no mundo típico de um filme, ou um conto de fadas seria pura ingenuidade.
O ser humano é movido por seus impulsos e motivações.
Realmente não sei o que faria a raça humana rever suas prioridades, virtudes, princípios e valores, mas desde o início fui cético quanto a esse otimismo ingênuo e raso.
Me parece que a pandemia foi apenas mais uma etapa, mais uma dentre muitas que envolviam obstáculos pelas quais a humanidade já passou. Imagino que seja necessário muito mais do que uma pandemia para que o ser humano olhe para seu próximo sem pensar em lucro, em tirar vantagem, em alimentar seu ego fazendo caridade…
Não me considero pessimista, apenas realista, observador, cético. Eu bem que queria que a pandemia nos fizesse mudar, mudar para melhor, que cada um se conscientizasse em fazer a sua parte, por menor que fosse; para assim construir paulatinamente uma civilização melhor. A esperança continua.
Thiago Pontes é filósofo e neurolinguista (PNL)