O Dia Mundial de Combate ao Câncer, celebrado nesta segunda-feira (8), é uma ação global de conscientização da população contra uma doença que pode afetar qualquer pessoa. É uma iniciativa para promover a prevenção e o diagnóstico precoce que, em muitos casos, eleva para mais de 90% as chances de cura. A data ainda tem como objetivo defender o acesso equitativo a tratamentos de qualidade – uma possibilidade ainda distante.
A disparidade de acesso às novas terapias é um problema mundial, abordado pela campanha “Close the Care Gap” (Feche a Lacuna no Cuidado), realizada pela União Internacional Contra o Câncer (UICC) para ampliar a conscientização sobre as desigualdades na prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer.
“Todos os pacientes com câncer merecem ter acesso à melhor qualidade de atendimento possível. Ocorre que aqui no Brasil, e em vários outros países, existe um abismo entre o que é ofertado pelo sistema público de saúde e pela rede privada. Os pacientes que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) dificilmente têm acesso aos tratamentos mais modernos na fase inicial da doença”, analisa o médico Fernando Medina, oncologista clínico do Centro de Oncologia Campinas.
O objetivo da campanha é alcançar a equivalência no cuidado do câncer até 2030.
“Precisamos garantir que todos os pacientes, independentemente de sua localização, renda, etnia, gênero ou outros fatores, tenham acesso à melhor qualidade de atendimento possível, mas há muitas barreiras a serem vencidas para que isso ocorra”, aponta Medina.
Uma delas, diz, é a falta de infraestrutura e recursos em áreas rurais e de baixa renda. Existe ainda limitações financeiras para pagar exames, tratamento e medicamentos, falta de profissionais de saúde qualificados em localidades mais remotas e o estigma e discriminação contra pacientes com câncer – como acreditar que a doença é uma sentença de morte.
A isonomia de tratamentos, embora distante da realidade do Brasil, é uma meta possível de ser alcançada, confia o oncologista do COC. O primeiro passo, afirma, é educar o público sobre a importância da prevenção do câncer.
“As chances de cura do câncer estão relacionadas à fase em que ele é diagnosticado. Detectar o câncer precocemente implica, além de melhores prognósticos, em economia com tratamentos e medicamentos”, observa.
Outra iniciativa, diz, é investir em pesquisa para desenvolver novos métodos de diagnóstico e tratamento, a menor custo e acessíveis a toda população. “Nós temos que defender políticas públicas que promovam a equidade no cuidado do câncer. Precisamos compartilhar informações sobre campanhas nas redes sociais e participar de eventos e atividades de conscientização. Juntos podemos fechar a lacuna no cuidado do câncer”, assegura.
As estimativas mundiais sobre o câncer apontam para um aumento de 60% de novos casos até 2040, totalizando 28,4 milhões de diagnósticos. No ano passado, o Brasil registrou 704 mil novos casos. Os tipos mais comuns foram de pele (não melanoma), próstata, mama, pulmão e cólon e reto, pela ordem.
Avanços e desigualdades
Boa parte das novas terapias e tratamentos contra o câncer é disponibilizada apenas pela rede particular de saúde.
Relatório da Sociedade Brasileira de Radioterapia cita que mais de 73 mil pacientes do SUS não têm acesso ao procedimento anualmente. Vale reforçar que mais de 60% dos pacientes terão indicação de radioterapia em alguma fase do tratamento.
Outra questão é que muitos aceleradores nucleares no Brasil estão defasadas e não entregam a melhor qualidade de tratamento. “Hoje temos a Radioterapia de Alto Performance. Técnicas como IMRT e SBRT aumentam a precisão e a eficácia. Permitem doses maiores de radiação no tumor e menores doses nos tecidos saudáveis. Traz resultados mais eficientes e menos efeitos colaterais”, exemplifica Fernando Medina.
A lista de tratamentos eficazes, cujo acesso é restrito, é extensa, aponta o oncologista. A Quimioterapia Alvo, por exemplo, utiliza medicamentos que bloqueiam o crescimento das células cancerígenas, além de serem mais eficazes e com menos efeitos colaterais do que a quimioterapia tradicional.
A Imunoterapia estimula o sistema imunológico do próprio paciente a combater o câncer.
“Tem apresentado resultados promissores em diversos tipos de tumores”, avalia Medina, que cita ainda outras importantes terapias, como a imunoterapia adjuvante, para estimular o sistema imunológico após a cirurgia ou a radioterapia; hormonoterapia, para tumores que dependem de hormônios para crescer, e terapia-alvo, para tumores com mutações genéticas específicas.