A Academia Campinense de Letras (ACL), órgão linguístico e literário de Campinas, um dos braços da cultura municipal, completará 65 anos no próximo dia 17 de maio, com a missão de ser a casa de todos, cada vez mais integrada com a sociedade. O presidente da ACL, o advogado, escritor e historiador Jorge Alves de Lima afirma que desde a sua posse e de sua vice, a professora e escritora Ana Maria Melo Negrão, a casa passou a interagir mais com a sociedade, principalmente, a periferia. “Desde o começo da nossa posse, junto com a nossa diretoria, instituímos a participação de 60 a 80 alunos das escolas das periferias para assistir às sessões. Essas crianças vêm com os professores, assistem à sessão cultural e levam de recordação uma sacola com cinco exemplares de livros. Acredito que esse é o ponto alto da minha administração e da Ana”, diz.
O objetivo dessa atividade é gerar pequenas sementes nos participantes. “A presença desses alunos na Academia vai despertar muitas vocações literárias, culturais, e vai motivar essas crianças a estudar e saber que o ensino é a grande mola propulsora para que a pessoa alcance elevação cultural e profissional na sociedade”, afirma.
Para preparar a sede – inaugurada em 16 de maio de 1976 – para os próximos anos de trabalho, a diretoria investiu nas reformas necessárias. Quando chovia o Salão Nobre era tomado pela água, devido a um vazamento no telhado, além disso, a parte elétrica inspirava cuidados. “Tivemos de tomar providências urgentes. Tinha acabado de ter aquele incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro e do Centro de Treinamento dos jogadores da base do Flamengo. Fiquei muito preocupado”, lembra.
Jorge conversou com o então presidente da Sanasa, Arly de Lara Romêo, e conseguiu patrocínio em obras. “Conseguimos a dotação legal em obras, não em dinheiro. Isso possibilitou a reforma total do telhado e das instalações elétricas. Hoje tem até o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), é raro um prédio público que tenha esse certificado”, afirma.
A ACL teve ainda a cozinha, banheiros e jardim reformados. O Sindicato dos Trabalhadores de Empresas Ferroviárias da Zona Mogiana e a Loja Maçônica ainda doaram um portão eletrônico. A Marinha do Brasil doou um mastro que foi erguido com a Bandeira do Brasil.
Próximos passos
Os próximos passos que serão dados após o fim da pandemia também já foram planejados. “Passada a pandemia faremos palestras com grandes nomes da Literatura Brasileira e uma interação completa com a Secretaria Municipal de Educação para fazer atividades conjuntas. Já tenho conversas com o secretário para lançar o projeto. A ideia é levar para as escolas a presença da Academia, com palestras e sessões musicais, por exemplo. Espero fazer parceria com a Secretaria de Cultura também”, adianta.
A vice-presidente ressalta que a Academia está de portas abertas a todos. “A Academia Campinense de Letras é local de reunião não só de literatos, mas aberta à população de Campinas, para quem quiser usufruir e participar de todos os eventos lá elaborados. Em tempos normais temos sessões literomusicais mensalmente”, lembra Ana Maria.
De acordo com Ana Maria, Campinas sempre foi reconhecida como uma cidade cultural e intelectual. “Tinha a Casa do Livro Azul, que além dos pianos de cauda, reunia os intelectuais, promovia atividades e teve até filial em Paris, mas a tradição cultural foi se perdendo. “Por isso, Francisco Ribeiro, o fundador da ACL, teve uma grande luz na criação da Academia, para recuperar isso.
Segundo a acadêmica, no pós-pandemia a ACL vai realizar semanalmente saraus abertos no período da tarde, com encontros literários entre os acadêmicos, com happy-hour.
Ana Maria reforça a diversidade dos membros. “Temos entre os membros, juízes, desembargadores, historiadores, antropólogos e pessoas de outras áreas do saber, mas todos com belíssima produção literária”, ressalta.
Confira os membros
Adão Carlos Ferreira do Nascimento, Agostinho Toffoli Tavolaro, Ana Maria Melo Negrão, Ana Suzuki, André Gonçalves Fernandes, Antonio de Pádua Báfero, Antônio Suárez Abreu, Carlos Alberto Marchi de Queiroz, Carlos Alberto Vogt, Carlos de Aquino Pereira, Cecilia Maria do Amaral Prada, Cirilo Luiz Pardo Meo Muraro, Duílio Battistoni Filho, Eliane Morelli Abrahão, Fernando Antonio Abrahão, Geraldo Affonso Muzzi, Gilson Barreto, Gustavo Osmar Corrêa Mazzola, Hélcio Maciel França Madeira, Ivanilde Baracho de Alencar, João Francisco Régis de Moraes, José Roberto Martins Pereira, Jorge Alves de Lima, Lauro Péricles Gonçalves, Luiz Antônio Alves Torrano, Luiz Carlos Ribeiro Borges, Luno Volpato, Marina Becker, Odair Leitão Alonso, Olga Rodrigues Moraes Von Simson, Pedro Laudinor Goerge, Quinita Ribeiro Sampaio, Regina Márcia Moura Tavares, Sérgio Eduardo Montes Castanho, Sérgio Galvão Caponi, Tereza Ap. Asta Germignani, Walter Vieira e Antônio Contente, o mais recentemente empossado no grupo como membro honorário por sua longeva e rica história como jornalista e escritor. Estão vagas as cadeiras 29, 39 e 15, por motivo de falecimento.
Histórico
A instituição foi fundada em 1956 pelo linguista Francisco Ribeiro Sampaio, então secretário de Educação e Cultura. Nos moldes da Academia Brasileira de Letras (ABL), a instituição campineira é composta de 40 cadeiras de provimento vitalício. Atualmente, duas cadeiras estão vagas por motivo de morte.
No começo, as reuniões aconteciam nas dependências do Teatro Municipal, que foi demolido em 1965. Após isso, durante décadas, as sessões aconteceram em locais improvisados.
Em 1974, o ex-prefeito Lauro Péricles cedeu o terreno e o material de construção. O engenheiro Lix da Cunha, dono de uma empreiteira, realizou a obra de graça. A sede própria foi inaugurada em 16 de maio de 1976, na Rua Marechal Deodoro, 525, no Centro. Em 1995 foi criada a Galeria de Artes Lélio Coluccini, na entrada do prédio.