O prefeito de Campinas, Dário Saadi, anuncia nesta sexta-feira (14) mais medidas para prevenir e combater a violência nas escolas da cidade. Ações semelhantes foram adotadas por outros prefeitos da região e também pelo governo estadual, que anunciou nesta quinta-feira (13) investimentos de R$ 240 milhões em segurança. Telma Vinha, professora da Faculdade de Educação (FE) e pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Unicamp, afirmou em entrevista ao site da universidade que a maior parte das mensagens em redes sociais “tem características de um movimento organizado para causar pânico”.
As fake news têm atormentado pais, alunos e funcionários da educação desde o ataque à escola Thomazia Montoro, na Capital, dia 27 de março, em que uma professora foi assassinada. E não são apenas boatos que alimentam a histeria. Novos atos, como os de Blumenau, Morungaba, Goiás e Manaus evidenciam a insegurança.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse nesta quinta-feira que a Operação Escola Segura já resultou em centenas de prisões, apreensões de adolescentes e buscas em todo o país. Segundo ele, o Ministério da Justiça fará um balanço da operação nesta sexta-feira, com os números consolidados de prisões e apreensões feitas nos estados.
“Todos os dias temos registros de prisões e apreensões de adolescentes, assim como da realização de buscas e apreensões. Um dos resultados dessas operações é que temos ataques emanados de indivíduos que atuam solitariamente, mas temos também, infelizmente, agrupamentos que se organizam sobretudo na internet e que têm várias inspirações”, disse o ministro.
Telma Vinha estuda violência extrema em escolas desde o episódio em Suzano, em 2019, quando sete pessoas morreram. Segundo ela, muitas das mensagens com ameaças de ataques em escolas que ganharam as redes sociais nas últimas semanas apresentam um padrão diferente do verificado entre adolescentes que interagem com comunidades extremistas.
A pesquisadora aponta que as expressões empregadas nas ameaças e as motivações das publicações diferem das utilizadas pelos jovens que cometem atentados.
“Tudo indica que se trata de uma ação coordenada intencionalmente para gerar o caos, mas não temos certeza ainda, porque está sendo investigado”, afirma a professora. “Nas mensagens analisadas foram encontradas muitas fake news e nem sempre se consegue separar o falso do verdadeiro”.
Apesar disso, o perigo existe, reforça a professora. “Em nenhum momento podemos afirmar que um ataque não vá acontecer. Não existe garantia, nem mesmo em instituições que são verdadeiros bunkers – tanto que nos Estados Unidos, país com a maior indústria de segurança escolar e o mais alto índice de armas em circulação, é o lugar onde com o maior número de tiroteios em escolas. Contudo, é preciso cautela e não entrar em pânico”, exemplifica a professora.
De acordo com a especialista, também chamam a atenção as tentativas e ataques efetivamente realizados por estudantes após o que aconteceu nas escolas de São Paulo e de Blumenau.
“As investidas apresentam uma dinâmica diferente daquela identificada em ataques nos últimos dez anos. Tudo indica que esses novos ataques são decorrentes do chamado de ‘efeito contágio’, somado a outros fatores, entre os quais ressentimentos, raiva, preconceitos, impulsividade e transtornos mentais. Em linhas gerais, o ‘efeito contágio’ acaba inspirando novos ataques”, diz a professora.
Na avaliação da especialista, a prevenção e o enfrentamento desse novo contexto passam pela articulação dos vários segmentos da sociedade. A docente sugere, diante desse quadro, que os dirigentes das instituições educativas discutam todas as dimensões do fenômeno, planejando uma atuação mais coesa e direcionada.
“Em seguida, é preciso que os gestores reúnam professores e funcionários de modo que, juntos, planejem ações de acolhimento e condutas comuns para evitar a disseminação de informações incorretas ou mesmo falsas.”
A especialista avalia que o mais adequado seria a escola fazer um comunicado institucional à família, por escrito, em vídeo ou em áudio, que aborde também as medidas governamentais para lidar com a situação. “Não para prometer, mas para dizer: ‘Estamos cientes, estamos cuidando disso e adotando medidas de prevenção’”, sugere. (Com informações da Unicamp)