Vozes potentes como a de bell hooks, que morreu no último dia 15, podem nos ajudar a olhar com mais amor e resistência para o mundo que nos cerca
Com uma amiga muito querida aprendi a gostar da etimologia das palavras. Melhor do que dizer é também entender a potência do que se diz. Com isso passei a refletir sobre as potentes vozes que ecoam mundo afora, costuram palavras certeiras e seguem como combustível para a luta de muitos.
Me pergunto como algumas pessoas escolhem as batalhas que querem travar, sejam elas sociais, pessoais, comunitárias, políticas etc. O que não falta é “campo” ou causa (o mundo está cheio de dores que precisam ser amenizadas ou curadas). Sem resposta, voltei para mim mesma a pergunta complexa : Como escolhi as causas pelas quais luto hoje? A resposta foi simples: a necessidade e inspiração!
Precisávamos de incentivo, acesso e democratização de cultura e informação, me inspirei através de vozes potentes! Colocamos as mãos na massa e construímos uma biblioteca. Estamos lutando pelas nossas causas.
Mas e as internas? Falar sobre amor também é um ato de resistência e uma luta diária que precisa ser potencializada. Pensando nisso, pego o gancho dos textos anteriores que saíram na coluna Retratos da Juventude para falar de uma esfera diferente do afeto.
Ainda existem muitos ouvidos que precisam ser alcançados. Pensando na necessidade de se fazer conhecer, quero falar sobre o que Gloria Jean Watkins nos ensinou com sua didática amorosa.
Para ajudar a inspirar, quero apresentar aos que não conhecem e relembrar aos conhecidos a filósofa, professora, autora, teórica feminista e ativista antirracista estadunidense, mais conhecida pelo pseudônimo bell hooks.
Influenciada pela pedagogia paulofreiriana, escreveu dezenas de livros e numerosos artigos acadêmicos. Filha de empregada doméstica e de um zelador, ela cresceu numa cidade segregada em Kentucky, nos Estados Unidos. Escreveu: “E eu não sou uma mulher? – mulheres negras e feminismo”, clássico da teoria feminista.
Existe um processo histórico que desumaniza a mulher negra. O racismo com seu caráter estrutural constrói padrões que definem o sujeito digno ou não de ser amado e hooks sabia disso. Para falar sobre essa solidão construída por um sistema usava da ferramenta mais poderosa: o amor.
“O eu te amo tem muita força para nós, é água que às vezes a gente não engole, devido à autoestima baixa; às vezes, até morremos de sede achando que a construção de práticas amorosas enfraquecem o destino”, declara a Mestra Doutoranda em Estudos Mulheres Gênero e Feminismo, Carla Akotierene Santos, em sua rede social.
A escritora estadunidense bell hooks faleceu mas suas palavras seguem vivas e tão potentes como antes na luta não só feminista, mas também na reflexão sobre capitalismo, gênero e raça, permitindo assim que futuras gerações sejam inspiradas.
Majori Silva, 22 anos, é escritora e lidera um coletivo na gestão de uma biblioteca comunitária