Hoje, 8 de setembro, é o Dia Mundial da Alfabetização. A data, definida pela ONU, lá em 1967, nos lembra que a educação, o aprendizado, é um direito universal – ainda que, infelizmente, não seja para todos. Afinal, é por meio destas ferramentas que o ser humano consegue elaborar suas transformações pessoais e do mundo, desenvolvendo consciência social e tendo a capacidade de ter reflexões críticas.
A alfabetização é a base da educação, que, por sua vez, é um direito humano fundamentado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH). Porém, o acesso ao ensino básico de qualidade ainda é uma realidade distante para muitas pessoas, que encontram dificuldades para se alfabetizar ou continuar os estudos pelas desigualdades sociais, por preconceitos diversos e tabus culturais.
Essa desigualdade social no Brasil traz consequências preocupantes como o número de pessoas analfabetas. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2019, 11 milhões de brasileiros não sabem ler e escrever, com a maior taxa de incidência na região Nordeste (13,9%).
Outro dado importante é de que o analfabetismo atinge o dobro de pessoas negras (8,9%) comparadas a brancas (3,6%) em todo o País. Por isso, o Plano Nacional de Educação do MEC estipulou que o objetivo é que todas as crianças brasileiras sejam alfabetizadas até o terceiro ano do Ensino Fundamental entre 2014 e 2024.
Eu, como foniatra, como médica que atua com crianças, e também como mãe, sonho com o dia em que a alfabetização será possível para todas as crianças. Não apenas porque é este o caminho para uma vida adulta mais digna, mas principalmente por que sei que a alfabetização é fundamental para nosso desenvolvimento.
É um processo de aquisição e apropriação do código alfabético, que nos permite, enquanto seres humanos, estarmos unidos na percepção do som e na grafia da letra. É uma conexão! Mas é importante entendermos que não é um modelo único.
Já refletiu sobre como este processo que é tão natural para uns, é tão desafiador para outros?
Ou porque quando uma criança nasce em um cenário diferente do “normal” os caminhos são ainda mais desafiadores quando falamos em alfabetização?
No meu consultório, todos os dias, encontro pais e familiares desbravando o universo da alfabetização para filhos/filhas surdos, dislexos, com transtornos de atenção ou diagnósticos como o autismo. A alfabetização é para todos, porém não chega da mesma forma para cada indivíduo.
O ler e escrever são conexões novas que precisam ser lapidadas após o nascimento, e para tal precisam de uma sociedade preparada e com profissionais qualificados para poder fazer com que essa alfabetização chegue para todos.
Juliana Bertoncello é formada em medicina pela PUC Campinas, com residência em otorrinolaringologia no Instituto Penido Burnier e na Unicamp. Dedica-se há quase 20 anos às áreas de otorrino pediatria e foniatria.