“Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: Pai dá-me a parte da herança que me cabe. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. […] Quando tinha esbanjado tudo que possuía chegou uma grande fome àquela região, e ele começou a passar necessidade. […] Então caiu em si e disse: […] Vou voltar para meu pai […]
Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e foi tomado de compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e o cobriu de beijos.
O filho, então lhe disse: Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos empregados: Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. Colocai-lhe um anel no dedo e sandálias nós pés, ‘Trazei um novilho gordo e matai-o para comermos e festejarmos. Pois este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado.’ Começaram a festa.
O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. ‘Ele respondeu: é teu irmão que voltou.’ […]. (Lc 15,1-3.11-32).
Quaresma é tempo de acolher. O filho mais velho era correto e trabalhador. Seu irmão mais novo deixava a desejar. Ousou solicitar a sua parte da herança com o pai ainda vivo e foi atendido, no entanto, revelou-se um esbanjador. Após consumir toda a herança recebida, voltou para a casa do pai.
O grande efeito da conversão e da penitência ao longo do ano litúrgico, no tempo da quaresma, todas as sextas-feiras, em memória da morte e da ressurreição do Senhor, são momentos fortes da prática penitencial da Igreja, que foi escrito por Jesus na parábola do “filho pródigo”, tendo como centro “o pai misericordioso”, em conformidade com o escrito por São Lucas.
Independentemente do que os publicanos e pecadores pensavam e falavam, eles se aproximaram para ouvir Jesus. Os fariseus e os escribas, porém, murmuravam: “Este homem recebe os pecadores e come com eles!” Contou-lhes, então, esta parábola da ovelha perdida:
“Qual de vós, tendo cem ovelhas e perder uma, não abandona as noventa e nove no deserto e vai em busca daquela que se perdeu, até encontrá-la? E achando-a se alegra […] e de volta para casa convoca os amigos e vizinhos para festejar! […] Eu vos digo que do mesmo modo haverá mais alegria no céu por um só pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento, (Lc 15, 1-3).
No mesmo sentido ‘temos a parábola da dracma perdida por uma mulher, que acende a lâmpada, varre a casa e a procura cuidadosamente até encontrá-la.’
“Convoca as amigas e vizinhas e diz: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma que havia perdido!’ Eu vos digo que, do mesmo modo há alegria diante dos anjos de Deus por um só pecador que se arrepende.” (Lc 15, 8-10).
“Depois que João Batista foi preso, Jesus veio para a Galiléia proclamando o Evangelho de Deus: ‘cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho’” (Mc 1,14-15). Para cumprir a vontade do Pai, Cristo inaugurou o Reino dos céus na terra, LG 3. Ora, a vontade do Pai é “elevar os homens à participação da Vida Divina”, LG 2. Realiza tal intento reunindo os homens em torno de seu Filho, Jesus Cristo. Esta reunião é a Igreja, que na terra “o germe e o começo do Reino de Deus” LG 5.
Cristo está no centro do consagramento dos homens na “família de Deus”.
Convoca-os junto a si por sua palavra e sinais que manifestam o reino de Deus, pelo envio de seus discípulos. Realizará a vinda de seu reino pelo grande mistério de sua Páscoa: sua morte na Cruz e Ressurreição. “E eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim.” Jo 12,32. Para essa união com Cristo são chamados todos os homens a entrar no Reino LG 3. Anunciado primeiro aos filhos de Israel, Mt 10,5-7. Este Reino messiânico está destinado a acolher os homens de todas as nações, Mt 8,11; 28,19.
A palavra do Senhor é comparada a uma semente semeada no campo: os que a ouvem com fé e são contados no número da pequena grei de Cristo receberam o próprio Reino; depois, por sua própria força, a semente germina e cresce até o tempo da messe. LG 5.
O Reino pertence aos pobres e aos pequenos, isto é, aos que os acolheram com um coração humilde. Jesus é enviado para evangelizar os pobres, (Lc 4,18).
Declara-os bem aventurados, pois “o Reino dos Céus é deles”, ((Mt 5,3). Foi aos pequenos que o Pai se dignou revelar o que permanece aos sábios e aos entendidos, (Mt 11,25). Mais ainda: identifica-se com os pobres de todos os tipos e faz do amor ativo para com eles a condição para se entrar em seu Reino, (Mt 25, 31-46).
Jesus convida os pecadores à mesa do Reino: “Não vim chamar justos, mas pecadores. (Mc 2,17). Convida-os à conversão, sem a qual não podem entrar no Reino, mas mostrando-lhes, com palavras e atos, a misericórdia sem limites do Pai por eles, (Lc 15.11-32) e a imensa “alegria no céu por um único pecador que se arrepende, (Lc 15,7).
A prova suprema desse amor será o sacrifício de sua própria vida, “em remissão dos pecados” (Mt 26,28). Sumulando: Jesus veio para salvar a todos.
Wilson Cesca é advogado, agente de pastoral no Santuário Santa Rita de Cássia e membro da Academia Campineira de Letras e Artes, em Campinas.