O mundo se comprometeu a acabar com a Aids até 2030, mas estamos distantes de cumprir essa meta, pois isso inclui a ampliação do acesso aos serviços mais adequados e de melhor qualidade para tratamento, diagnóstico e prevenção de forma mais igualitária no mundo. Necessita mais recursos financeiros e políticas de inclusão para grupos mais vulneráveis. Desigualdades que perpetuam a pandemia de Aids e devem ser eliminadas.
Dados da Organização Mundial de Saúde (World Health Organization -WHO) mostram que há 38,4 milhões de pessoas vivendo com HIV no mundo em 2021, 75% das quais com acesso à terapia antirretroviral. A surpresa, porém, está no fato de que 15% de todas as pessoas com o vírus ainda não sabem sobre a infecção. Infelizmente, ainda temos cerca de 650 mil mortes anuais por HIV.
Um novo relatório do Programa das Nações Unidas sobre Aids (UNAIDS) alerta que as desigualdades estão obstruindo o fim da pandemia da doença. Intitulado “Desigualdades Perigosas”, o estudo mostra que, se forem mantidas as tendências atuais, o mundo não conseguirá atingir sua meta de acabar com a Aids como ameaça de saúde pública até 2030.
O planejamento da WHO, com cuidado centrado no indivíduo, fez um planejamento 2022-2030 para reduzir novas infecções de 1,5 milhão em 2022 para 335 mil até 2030; e, as mortes, de 680 mil para menos de 240 mil. Essa ousada meta depende da conscientização de cada um de nós e da elaboração de programas pelos governos e gestores locais promovendo prevenção combinada, educação continuada, suporte assistencial e acolhimento de pacientes.
Já avançamos bastante nesses mais de 40 anos desde que fomos surpreendidos por esta silenciosa e cruel epidemia, que debilita não apenas o sistema imunológico do indivíduo, mas expõe de forma cruel e covarde toda a sua dignidade, fazendo com que, ainda, tanto tempo depois, tenha que viver escondido por um estigma.
Mas esse longo caminho também nos fez crescer e trouxe muitos avanços. Hoje, temos disponíveis terapêuticas altamente eficazes, que devolvem não apenas a expectativa de vida com muita qualidade, mas a “humanidade”, com a possibilidade de voltar a planejar, ter sonhos e construir a própria história.
Temos a prevenção combinada, um conjunto de estratégias que utiliza diversas abordagens para dar uma resposta ao HIV e outras ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis). Essas medidas podem ser estruturais, comportamentais e biomédicas, e aplicadas de forma que atinjam múltiplos públicos nos níveis individual, social, comunitário e entre relacionamentos. Com uso de preservativos, de PrEP (Profilaxia pré-exposição — medicamento combinado de duas drogas que, se tomado diariamente, oferece proteção à transmissão do vírus HIV), testagem para HIV e outras ISTs (Hepatites B e C, Sífilis), profilaxia pós-exposição (uso de medicação a situações de risco de aquisição de HIV), educação, informações, imunização para Hepatite B e HPV, políticas de redução de danos e prevenção de transmissão vertical.
A Organização Mundial da Saúde projetou uma meta a ser cumprida até 2030 para o fim da epidemia, a meta “95-95-95”: 95% dos pacientes diagnosticados; 95% desses em terapêutica antirretroviral; e entre eles, 95% com vírus indetectável no sangue. Os dados de literatura mostram que os pacientes não mais transmitem o vírus, quando estão nessa situação de controle da doença.
Nosso caminho ainda é longo, mas a esperança do objetivo final nos faz mais fortes. Temos que nos mobilizar para que, cada vez mais, a prevenção ideal seja realizada, as informações corretas sejam levadas aos pacientes aos quatro cantos do país e para que cuidemos da saúde integral dessa população.
O Dezembro Vermelho, que tem o dia 1º como o Dia Mundial de Luta contra a Aids, é o momento de reafirmar nosso compromisso nesta luta. Luta que é de cada um de nós.
Vera Márcia de Souza Lima Rufeisen (CRM 77381) é infectologista no Vera Cruz Hospital