O psicanalista Otto F. Kernberg comenta as diferenças dos perfis masculino e feminino ao lidar com afetividade e segurança sentimental, especialmente pelos modelos materno e paterno internalizados na infância.
À medida que a menina tem as identificações com a mãe, nos vários papéis desempenhados, inclusive o próprio exercício maternal, evolui com capacidade de sustentar crises e apelos das emoções. Os homens não têm a mesma possibilidade.
A valorização machista e falocentrada do genital masculino antecipam as circunstâncias. Ainda criança, o menino é mais reconhecido e destacado pela massa corporal, pelo pênis. E é estimulado a se preparar para o trabalho, especialmente como provedor.
Pelo lado da mulher, o corpo e o genital feminino serão focalizados na puberdade, na menarca, especialmente com padrões estéticos, junto com a força espiritual, a capacidade de apoiar e nutrir que é cultivada desde a infância.
Com isso, em geral, os homens tendem sempre a procurar a mãe nas mulheres com quem se relacionam ao longo da vida: namorada, esposa, amante ou mesmo colega, amiga.
O colo da mamãe fica girando nesse contexto transferencial, situando-se cada vez em uma das diferentes mulheres, ou até se repetindo em algumas.
A mulher com perfil mais cuidador recebe impactos ainda maiores dessa ordem sentimental. Sempre oferendo apoio, proteção, sacrifícios e soluções esforçadas para todas as demandas do seu homem, cada vez mais incorpora o papel maternal. Ele, na consequência, debulha-se em acomodações filiais.
A única parceira que habitualmente escapa desse contexto é a prostituta.
A profissional do sexo relaciona-se com o cliente de modo eminentemente comercial. Ela negocia seu corpo e as práticas sexuais que os dois escolherem, participa ativamente do combinado, recebe o dinheiro devido e até logo – segue seu caminho. Ela não esboça vínculos afetivos, evita oferecer o colo.
É claro que toda regra tem exceção. Sabemos de casos em que cliente e meretriz se envolveram complexa e intensamente, ocasiões em que os dois sofreram barbaridades, à medida que o colo materno que ela representou esteve insuficiente ou exageradíssimo, bem como a necessidade de ele ali se acomodar tenha sido muito estressante.
Observamos a insegurança emocional masculina em muitas outras situações.
Uma leve gripe acomete o marido – nossa! – é um terror hospitalar! O moço se encolhe na cama, queixa-se de tudo, não vai ao trabalho, quer a esposa 24 horas à disposição dele, conversando, consolando, fazendo cafuné…
Quando um casal heterossexual entra em crise porque o homem está insatisfeito, vem aquela história comum e repetitiva: ele já tem outra mulher cujo colo está concorrendo com o da esposa. Se ele não tiver outro colo, é dificílimo que se encoraje a enfrentar um processo de separação.
Meu filho caçula, Victor Steinberg Motta, cineasta e mentor de História das Artes, lembra as expectativas masculinas que norteiam os homens: para se realizarem como pessoas, eles precisam do colo e do calo…
Não nos esqueçamos de que as mulheres da atualidade também são solicitadas a desenvolver profissões bem calejáveis, mesmo com a sua habitual segurança anímica e autonomia emocional.
É curioso, parece contraditório, mas a máxima machista que critica o homem que chora e costuma indicar a mulher como “manteiga derretida” tem que reconhecer que é o homem quem se refugia no colo da mulher, mesmo com as lágrimas contidas…
Atualizando e aprimorando as tendências, os casais podem se criticar, favorecendo o colo adulto: isto é, de preferência, o homem deitar eroticamente a cabeça entre as pernas nuas da mulher, deixando o apoio vestido e consolador para cada vez mais raras e necessárias ocasiões.
Joaquim Z. Motta é psiquiatra, sexólogo e escritor