A chegada da pandemia, sem sombra de dúvida, foi algo que estremeceu diversos mercados ao redor do mundo. E com a educação não foi diferente. Uma pesquisa feita pela ONG Human Rights Watch mostrou que, entre abril de 2020 e abril de 2021, houve diminuição do acesso à educação, parte devido à dificuldade de conexão e também ao fechamento das escolas. Além disso, um levantamento com estudantes de colégios públicos feito pelo Datafolha apontou que boa parte deles está desmotivada e alguns (40%) consideram até abandonar os estudos.
Assim, a sociedade teve a percepção de como o professor é essencial para o desenvolvimento de cada estudante. Como o acesso a esse profissional ficou cerceado durante a pandemia, limitado muitas vezes somente a encontros online, conseguimos ver o quanto o ambiente escolar presencial faz falta e pode definir o futuro dos alunos. Para termos uma ideia, o mesmo estudo feito pelo Datafolha aponta que crianças dos primeiros anos do ensino fundamental tiveram pouco avanço no aprendizado neste período.
Esse tipo de coisa ocorre porque o ato de aprender vai muito além de apenas livros e apostilas. A interação social também é muito importante no processo, afinal de contas, tiramos lições a partir da troca de experiências com nossos pares.
Por meio do contato presencial, aprendemos a defender nosso ponto de vista, a compartilhar e a desenvolver nossa linguagem oral, além de isso fazer parte do crescimento de cada um. Dessa forma, considero importante o retorno às aulas presenciais, tomando sempre as devidas precauções, com certeza. A figura de um psicólogo escolar pode ser uma grande aliada neste retorno, pois a falta de contato físico pode fazer com que apareça alguma dificuldade de interação entre os estudantes.
Existem também outros pontos que devem ser levados em conta para uma melhoria na experiência dos alunos e no setor de educação como um todo. A primeira delas é ver a tecnologia como aliada, nunca inimiga. Sabemos que os jovens estão cada vez mais imediatistas, querendo informações de forma rápida e muito adeptos da internet e redes sociais. Com a pandemia, a tecnologia foi o único elo dos estudantes com o aprendizado e com o mundo, de forma que criaram uma sinergia e ficaram cada vez mais submersos.
Há quem veja isso com maus olhos, mas não devemos. Precisamos reconhecer a importância da tecnologia em nossas vidas e adaptar os seus pontos positivos no ensino aos jovens.
Eu mesmo sou muito adepta de livros online e acho que essa é uma boa forma de incentivar a leitura para os estudantes. Além disso, podemos trazer para sala de aula alguns elementos como notebooks ou tablets, mas sempre definindo um propósito para seu uso com sabedoria, para evitar que vire uma mera distração. Temos que ter em mente que o digital não substituirá o físico, apenas o complementará.
No entanto, mesmo assim é importante estimularmos atividades sem o uso de computadores para desenvolvermos a criatividade. Um exemplo são dinâmicas em sala onde são colocadas situações problemas as quais os alunos devem propor soluções, aprimorando assim o pensamento cognitivo e a capacidade de resolução de conflitos. E, claro, atividades artesanais também são importantes, pois estimulam a concentração e reduzem o estresse.
Por último, mas não menos importante, estão os professores, um dos principais elos dessa corrente. A busca contínua por formação por parte desses profissionais faz toda a diferença, pois levam para a sala de aula uma bagagem acadêmica que vai impactar na vida dos estudantes.
Durante a pandemia, surgiram diversas formações online, o que facilitou para eles, pois possuem um dia a dia muito corrido e se dividem entre vários colégios. Dessa maneira, por estarem de home office, puderam aproveitar melhor as tecnologias disponíveis para conciliar a rotina profissional com cursos.
Podemos concluir que por mais que tenhamos ficado por quase dois anos dando aulas remotas, o cenário da educação nacional ainda tem potencial. Com a volta do ensino presencial, cabe a nós, educadores, um olhar mais atento aos estudantes, focando em seu psicológico e nas relações individuais com cada um. Dessa maneira, essa adaptação não será traumática e vai garantir bons frutos. Além disso, a pandemia nos trouxe muitos ensinamentos e mostrou que somos capazes de nos adaptar a diversas situações, mesmo que adversas.
Ludimila Fernandes é Diretora de Educação da The Joy School