Domingo, 23 de maio de 2021. Quando a alpinista campineira e pontepretana Aretha Duarte atingiu o pico do Monte Everest, tornando-se a primeira mulher negra latino-americana a chegar ao topo da montanha mais alta do mundo, a escalada da Ponte Preta para garantir a permanência na Série B estava apenas começando.
Ao término daquela mesma semana, na sexta-feira, dia 28 de maio, o técnico Gilson Kleina aceitou o convite de assumir a Macaca pela quinta vez em sua carreira, agora com a missão de olhar para baixo, coisa que nenhum alpinista deve fazer, e evitar o trágico rebaixamento à Série C.
Após seis meses de trabalho e muita pressão envolvida, acumulando ponto por ponto na tabela de classificação, assim como Aretha havia coletado latinha por latinha para financiar o sonho da expedição no Everest, a equipe do técnico Gilson Kleina finalmente cravou o distintivo da Ponte Preta na próxima edição da Série B, da mesma forma que a montanhista campineira havia fincado a bandeira do clube no ponto mais elevado do planeta.
Se por um lado Aretha Duarte entrou para a história ao alcançar os 8.848 metros de altitude do Monte Everest, por outro Gilson Kleina impediu que seu nome fosse vinculado ao maior vexame da Ponte Preta em 121 anos, concretizando o objetivo traçado inicialmente.
“Eu me inspirei muito na Aretha Duarte. A nossa escalada era de 46 pontos. Muitos podem achar pouco. Não era o campeonato que nós queríamos fazer, mas foi o que se desenhou. É pouco para a nação pontepretana? É claro que é. A gente sabe da grandeza do clube e que precisamos brigar mais alto, mas é um passo de cada vez para ter organização e deixar a equipe cada vez mais forte”, apontou Kleina.
“Eu tive a oportunidade e o privilégio de assistir a uma entrevista com a Aretha Duarte, que é uma pessoa bem esclarecida e muito inteligente. Eu não a conheço, mas aproveito para mandar um abraço e parabenizá-la pela superação e atitude. Eu falei na palestra para os jogadores que a escalada dela foi feita em duas partes: primeiro, como ela iria conseguir arrecadar o dinheiro, e depois como seria a estratégia para subir”, revelou Gilson Kleina, em entrevista coletiva concedida logo após a vitória por 1 a 0 sobre o Confiança, no último sábado (20), no estádio Batistão, em Sergipe. O resultado selou a permanência da equipe na Série B, com uma rodada de antecedência: 46 pontos em 37 rodadas.
“O segundo turno é muito mais difícil e muito mais equilibrado do que o primeiro porque já começa a delinear os objetivos que cada clube vai brigar dentro do campeonato. Fizemos 27 pontos no segundo turno, faltando ainda o jogo contra o Coritiba. De repente, se tivéssemos feito essa pontuação no primeiro turno, com certeza estaríamos brigando em outro patamar e tentando o acesso, que é onde a Ponte Preta tem que brigar, mas fica como um aprendizado para todos. Mais uma vez, nós conseguimos atingir um objetivo no trabalho. A permanência, para mim, foi um título”, definiu Gilson Kleina.
Assim como Aretha Duarte precisou superar inúmeras adversidades durante o traiçoeiro percurso no ar rarefeito, Gilson Kleina enfrentou muitos percalços no meio do caminho, mas encontrou soluções para contornar as dificuldades em meio ao árduo processo de “escalada” rumo aos 46 pontos.
“Uma situação que nós convivemos muito nesse campeonato foram as lesões, perdendo atletas por cinco ou seis jogos. Fomos descobrindo jogadores dentro do elenco e desenvolvendo a base. Além disso, os jogadores que chegavam não vinham jogando nos seus últimos clubes e precisavam entrar em forma, então foram muitos processos. O torcedor entendeu que precisávamos de apoio e carinho”, valorizou o comandante da Macaca.
“Para que tenhamos atingido um nível de desempenho melhor, tenho que falar muito do trabalho da comissão técnica, do departamento médico e da nossa diretoria, que ficou o tempo todo conosco, além do nosso presidente. Mesmo em uma situação difícil, nós não poderíamos deixar de ser transparentes”, concluiu Kleina.