Ainda com sinais de abandono, o Centro de Campinas é um local onde consumidores, comerciantes e pessoas em situação de rua se misturam. Neste cenário, a falta de segurança é uma realidade e exposta em atos criminosos registrados nos últimos dias.
Na tarde de segunda-feira (7), próximo à Catedral Metropolitana, uma mulher foi esfaqueada. Há menos de 20 dias, no final de outubro, outra mulher foi atacada dentro de um ônibus no Terminal Metropolitano. Segundo a Polícia Militar, é praticamente certo que as duas ocorrências tiveram como agentes pessoas em situação de rua, vítimas de alterações psíquicas em função do uso de drogas.
“É triste ver a situação do Centro”, define o corretor de imóveis Jean Saleri, que testemunhou o ataque à faca no final da tarde de segunda-feira no Largo da Catedral.
“Eu estava ao lado da vítima. A faca entrou por trás e saiu pela frente na região do ombro”, contou nesta terça-feira (8), enquanto conversava com um amigo em um comércio na praça. “A mulher estava acompanhada da filha, que ficou desesperada”, conta Saleri
Frequentador da região central, Saleri diz que o autor da facada mora na rua. “Ele ficava sempre isolado, deve ter problema mental. ”O corretor afirma que um pouco antes da ocorrência, o homem se desentendeu com outras pessoas em um banheiro público. “Depois, saiu e esfaqueou a mulher por nada”, relata.
Para não ser linchado pela população após o ato criminoso, o homem correu até o posto policial localizado em frente à Catedral, conta a testemunha. “No posto, jogou a faca no chão e ficou com os braços para cima. Ali, foi dominado pelos policiais até a chegada da viatura”.
Já a mulher, que aparentava ter por volta de 50 anos de idade, esperou a chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) deitada na praça sob os cuidados de quem passava, detalhou nesta terça-feira o corretor, enquanto mostrava as marcas de sangue ainda expostas no chão. Ela foi encaminhada ao Hospital Mário Gatti, onde permanecia internada até ontem com estado de saúde estável. O homem foi preso.
“Esse Centro está um lixo”, afirma o amigo de Jean, Daniel Cruz, que tem um comércio na região. Ele chama a atenção para a ociosidade de quem mora na rua. “Cheguei em Campinas às 5h10 do dia 11 de maio de 1971, vindo de Fernandópolis, depois de ter sido abandonado pela minha mãe e nem ter chegado a conhecer meu pai”, diz o comerciante de 70 anos, fazendo um paralelo entre a sua história e a situação das pessoas que ele vê todo dia pedindo dinheiro no Centro.
“Trabalhei muito para viver, pois só tive quatro anos de estudo. Durante 22 anos fui mecânico de manutenção. Depois me aposentei e abri essa banca”, relembra o comerciante. “Agora, será que esse pessoal de rua quer trabalhar dessa forma?”, questiona. “É mais fácil pedir e são muitos que dão, o que só ajuda a manter essa realidade”, comenta com ar de revolta.
O outro caso
O ataque no ônibus dentro do Terminal Metropolitano ocorreu no dia 21 de outubro. Um homem, que aparentemente estava drogado, segundo testemunhas, invadiu o coletivo, pulou a catraca e atacou uma mulher.
Um grupo tentou conter o agressor, que foi retirado do transporte público e imobilizado. Ele morreu no local de causa desconhecida.
Em busca de soluções
A Prefeitura de Campinas informa que mantém vários programas de atendimento às pessoas em situação de rua, entre eles o Mão Amiga, que procura qualificar esses homens e mulheres e inseri-los no mercado de trabalho. O Programa Recâmbio de Migrantes é outra ação, que neste ano assegurou a viagem de quase 300 pessoas socialmente vulneráveis aos seus locais de origem.
Já a Secretaria de Segurança Pública afirma que a Guarda Municipal mantém patrulhamento diário e constante na área central, câmeras de monitoramento e ações conjuntas com a Polícia Militar e outros órgãos para tentar coibir a violência.
Em uma perspectiva a longo prazo, a Prefeitura trabalha para revitalizar o Centro, que ficou em estado de abandono após a pandemia do coronavirus, situação que favoreceu o aumento da população de rua na área.
O Projeto de Lei Complementar (PLC) número 76/2022 de autoria do prefeito Dário Saadi dispõe sobre incentivos urbanísticos e fiscais para a reabilitação de edificações na área central e foi encaminhado para a Câmara. Está marcada uma audiência pública no próximo dia 16 para debater o PLC.