O futuro do trabalho sempre foi tema de estudos. Com a permanência prolongada da pandemia, o assunto ganhou ainda mais relevância. Virou até assunto em rodinhas virtuais de amigos. Brincadeiras à parte. Especialistas apontam que estamos, definitivamente, migrando da “era dos empregos” para a “era do trabalho”.
Como toda fase de transição, o momento é de incertezas. Quando a poeira baixar, empresas e profissionais vão querer voltar rapidamente ao “normal” – padrão anterior ao qual todos estávamos acostumados. E isso é impossível. Justifico.
A experiência pela qual todos estamos passando, tanto no âmbito pessoal, quanto profissional, deu início a uma página em branco sobre a nossa relação com o mundo e, claro, com o trabalho. Pare para pensar: como era sua vida há 2 anos?
Assim, gradativamente, quando retornarmos às nossas atividades profissionais cotidianas, vamos nos deparar com situações que não farão mais nenhum sentido para grande parte das pessoas:
• Reuniões presenciais, do tipo “sem fim”, em uma sala fechada.
• Deslocamentos diários, em um trânsito caótico, para executar o trabalho nas dependências da empresa.
• Longas jornadas de trabalho longe da família.
• Horário de trabalho inflexível.
• Open offices, aqueles escritórios totalmente abertos, sem divisórias.
Acredite, por mais estranho que possa parecer, nem as empresas e nem os profissionais vão tolerar essa volta à normalidade. Estamos sendo forçados a passar por uma mudança – o vírus, um elemento externo, é o principal motivador – cabe a nós, sem distinção, passarmos pelo processo de transição e ajustarmos a forma como lidamos com as coisas, um elemento interno.
Neste novo mundo, mais BANI* do que nunca, o desenvolvimento de habilidades técnicas e comportamentais será ainda mais importante.
O conceito de lifelong learning – que significa a necessidade de estudar para sempre, buscando atualizações constantes – será fundamental para nos mantermos ativos na era do trabalho.
Por outro lado, as empresas já estão enxugando suas estruturas físicas, mesclando equipes, centralizando atividades e abusando das potencialidades do trabalho remoto – coisas corriqueiras, que já vivíamos anteriormente, porém numa dimensão ainda maior e mais intensa.
Já o famigerado home office, pelo que tudo indica, chegou para ficar. Porém, mesmo nesse contexto forçado de isolamento social, pouca gente teve a possibilidade de viver a realidade dessa forma de trabalhar – que demanda muito mais disciplina do que imaginávamos.
Salvo exceções, vivemos o “house office”, ou seja, o trabalho foi colocado à força dentro de casa, junto com inúmeros outros fatores que impactam diretamente no seu desempenho.
Tudo é novidade. Tudo é diferente. Tudo impacta na nossa percepção sine qua non do que é o trabalho e o seu futuro. Por fim, depois de muito relutar, fica a grande dúvida: esse é o novo “normal” que temos que aprender a viver?
* O termo acrônico BANI, criado em 2018, em inglês, significa que o mundo atual em que vivemos é “brittle”, “anxious”, “nonlinear” e “incomprehensible” ou, em português, FANI, “frágil”, “ansioso”, “não linear” e “incompreensível”.
Flávio Benetti é professor, palestrante, publicitário e especialista em Comunicação interna e endomarketing. Considera-se um cara apaixonado pela vida, curioso por natureza, fã de tecnologia, design e fotografia