Integridade, liderança e carisma foram marcas do ex-vereador Biléo Soares, que deixou sentimento de consternação em Campinas na manhã do dia 6 de dezembro de 2011, quando faleceu aos 52 anos, vítima de complicações de um câncer contra o qual lutou durante seis anos. O vazio causado pela notícia da precoce morte de Biléo completa exatamente 10 anos nesta segunda-feira (6).
Formado em Direito pela PUC-Campinas, Gilberto Celestino Brasio Soares, o Biléo Soares, foi um dos fundadores do PSDB em Campinas e presidiu o partido durante três períodos diferentes na cidade. Ele também foi o primeiro presidente da Juventude Latino-Americana pela Democracia (Julad), em São Paulo. Vereador de Campinas entre 1993 e 1996, Biléo foi eleito para o segundo mandato em 2008, mas acabou substituído na Câmara pelo 1º suplente do PSDB, Gilberto Vermelho, após sua morte em 2011.
Apaixonado pela Ponte Preta, Biléo Soares iniciou a sua trajetória como líder ainda durante a juventude, nos anos 1970, quando foi um dos criadores da Pontênis, considerada a primeira torcida organizada de sociais do Brasil, formada por torcedores pontepretanos e associados do Tênis Clube de Campinas. Biléo fundou a agremiação em 1977, ao lado dos amigos Ivan Pupo Lauandos e José Mauricio Carvalhaes, conhecido como Tachinha.
“Nós fomos os idealizadores da Pontênis, que era uma torcida de vitalícias, e elegemos o Biléo como presidente. Eu e Tachinha éramos os vice-presidentes”, contou Ivan Lauandos, em contato com a reportagem do Hora Campinas. O surgimento da Pontênis também teve a colaboração de outros amigos como Heitor “Pica-Pau” Godoy e Marcio “Carçudo” Lopes.
“O Biléo era um pontepretano fanático, influenciado pelo avô materno, e um líder de torcida muito carismático, comandando com gritos e uma garra muito grande”, descreve o cofundador da Pontênis, Ivan Pupo Lauandos.
“A Pontênis surgiu com o objetivo de fazer com que o Majestoso se transformasse em um caldeirão. A gente agitava o setor das vitalícias, enquanto o pessoal da Torcida Jovem e da Ponterror pressionava do outro lado da arquibancada”, explica Lauandos.
No fim da década de 1970, a Pontênis organizou várias excursões para acompanhar os jogos da Ponte Preta que aconteciam fora de Campinas. “Nós tínhamos ônibus próprio e viajávamos por todo o interior de São Paulo. Fomos assistir muitos jogos do Campeonato Paulista, que na época era o principal torneio”, pontua Ivan Lauandos. “A única caravana que não conseguimos montar foi para a final do Paulistão, em 1977, em São Paulo, então acabamos indo somente eu, o Biléo e os pais dele”, relembra Lauandos.
“Vibramos e torcemos muito, infelizmente não conseguimos ser campeões por causa dos juízes, mas a Ponte sempre fez campanhas memoráveis”, pondera Ivan Lauandos.
Ivan Lauandos ressalta que Biléo Soares era uma pessoa extremamente educada e mostrava polidez até para reclamar com os árbitros que prejudicavam a Ponte Preta. “Uma coisa interessante que eu nunca me esqueço é que o Biléo sempre chamava os juízes de ordinários quando roubavam a Ponte Preta. Todo mundo soltava aqueles baita palavrões e ele só xingava de ordinário”, relembra às gargalhadas.
“Viajamos bastante, demos muitas risadas, levamos tijoladas no ônibus e sofremos com a Macaca, mas foram tempos muito bons, um período bem interessante”, define Ivan Lauandos.
Ele também destaca que Biléo Soares era aquele tipo de torcedor bastante supersticioso. “Não podia tirar sarro dos bugrinos antes do jogo terminar, senão o Biléo ia à loucura. Ele dizia que dava azar”, relembra.
“Nada fiz pela Ponte Preta a não ser amá-la sem fronteiras, sem limites, sem divisas e de uma maneira solidária, fraterna, amigável, companheira e sobretudo fiel. A Ponte não tem nenhum defeito para mim”, declarou-se Biléo Soares, em entrevista concedida ao programa Mais Cidadão, da TVB Record, durante a festa de aniversário de 111 anos da Ponte Preta, no dia 11 de agosto de 2011, na Sociedade Hípica de Campinas.
“Segundo Ivan Lauandos, aqueles eram tempos de paz nas arquibancadas, com muito menos violência entre torcidas rivais do que ocorre atualmente. Nós tínhamos alguns amigos bugrinos que iam junto com a gente nos jogos até nas viagens. É lógico que não era um jogo de cavalheiros, mas o futebol não tinha o mesmo nível de violência que existe hoje”, compara.
“Mostramos à cidade que é possível fazer política com ética, decência, seriedade e propósito”, afirmou Biléo Soares, orgulhoso, na mesma entrevista à Record, em agosto de 2011, quatro meses antes de sua morte.
Para Lauandos, comandar a Pontênis despertou o interesse de Biléo Soares em se aventurar no universo da política. “O Biléo gostou muito de tomar conta da Pontênis e acredito que aquela liderança sobre a torcida da Ponte Preta chamou a atenção dele para entrar na política”, aponta.
Homenagens
Como não poderia ser diferente, a bandeira e o hino da Ponte Preta não faltaram no velório de Biléo Soares, realizado na Câmara Municipal de Campinas, nem mesmo no sepultamento do ex-vereador, cujo corpo foi enterrado no Cemitério da Saudade, no dia 7 de dezembro de 2011.
“Logo depois do falecimento do Biléo, nós fizemos uma reunião no Tênis Clube com a participação do filho dele [Gilberto Soares] e confeccionamos uma nova camisa igual à da antiga Pontênis para homenageá-lo”, recorda-se Ivan Lauandos.
Em dezembro de 2012, a tribuna do Plenário da Câmara Municipal recebeu o nome de Biléo Soares. Já em 2013, o Governo do Estado de São Paulo anunciou que Biléo Soares daria nome ao novo Corredor Metropolitano, que ligaria Campinas aos municípios de Hortolândia, Sumaré, Nova Odessa, Monte Mor e Americana. A inauguração do trecho final aconteceu em setembro deste ano.