A adesão à vacinação infantil em Campinas está abaixo dos 20%, num desempenho que levou a secretaria de saúde a planejar um sistema de imunização diretamente nas escolas.
De acordo com dados divulgados nesta sexta-feira (4) pela secretaria de saúde, das 112.275 crianças de 5 a 11 anos – que compõem o público alvo – apenas 22.187 foram imunizadas até agora – o que equivale a 19,8% do total. (Veja quadro abaixo)
A diretora do Devisa (Departamento de Vigilância em Saúde), Andrea von Zuben, disse que ainda não data para o início da vacinação nas unidades escolares, mas a decisão sobre isso já está tomada.
De acordo com ela, a orientação saiu de reunião de técnicos da saúde com membros do Conselho Tutelar e do Ministério Público. Segundo o plano, os estudantes serão vacinados e os pais que não quiserem, terão de assinar um termo de compromisso se responsabilizando pela decisão.
Campinas tem vacinado muito menos que a cidade de São Paulo, que já superou os 51%. O Rio de Janeiro tem ao menos 40% das crianças imunizadas e Salvador atingiu os 38%. Entre as cidades paulistas, São José do Rio Preto, por exemplo, já vacinou 38,6% de suas crianças. (Veja quadro abaixo)
O prefeito Dário Saadi (Republicanos), disse que apesar da baixa adesão, a volta às aulas presenciais nas escolas municipais prevista para segunda-feira (7) está mantida. A diretora do Devisa diz que os técnicos concluíram que o ambiente escolar está adequado a receber os alunos.
“Nas escolas privadas os alunos voltaram e não notamos nenhuma alteração nos níveis da pandemia por causa disso”, afirmou ela.
Von Zuben lamentou, no entanto, o fato de a cidade ter vacinado tão pouco até agora. “É uma pena. Porque temos toda a estrutura montada; uma enorme gama de profissionais mobilizados para atendimento e essa quantidade gigante de crianças ainda por vacinar”, disse ela.
Covid mata
O pediatra Luiz Alberto Verri, do Hospital Vera Cruz – que foi convidado pelo prefeito Dário Saadi a participar da entrevista coletiva ao lado de outros especialistas – lembrou que a covid mata e que os pais precisam se conscientizar disso.
“Em 2 anos, há registros de 1.450 crianças que morreram por causa da covid e ao menos 24 mil já foram internadas com síndrome respiratória aguda”, disse ele.
“Estamos falando de uma doença que mata mais que todas as outras. Os casos de morte de criança no Brasil tem, em primeiro lugar, os acidentes. Em segundo, a covid”, lembrou.
“Além disso, há o pós-covid, que pode levar a criança a um quadro de síndrome inflamatória multi-sistêmica – pode desenvolver um quadro de inflamações pelo corpo”, avisa. “E que isso também pode levar à morte”, continua ele.
Ideologia
Para o secretário de Saúde, Lair Zambon, a baixa adesão tem uma explicação.
“Queria aqui expressar nosso espanto (com a baixa adesão entre as crianças). E isso é fruto de ideologia; da guerra de fake news que estamos enfrentando no País, o que para mim, são atos criminosos contra as crianças”, disse ele.
“A controvérsia que existe (no País) é política. No ambiente científico não há controvérsia alguma. Todas as entidades científicas do Brasil e internacionais já divulgaram notas técnicas atestando a necessidade e a eficiência da vacina”, disse o pediatra Alfonso Alvarez, outro convidado pelo prefeito para participar da entrevista coletiva.
“Se nós tivermos de fazer algum apelo aos pais, diria o seguinte: a mãe precisa tomar uma decisão. Se vai ouvir a ciência ou se vai ouvir esses grupos de watsApp, de facebook, e outros, sem nenhum conteúdo científico. Ela é quem vai escolher. Só que depois, terá de arcar com as consequência dessa decisão”, alertou ele.