Catarina de Barros das Neves é daquelas mulheres que podem dizer que a vida começa não depois dos 40, mas dos 80. Afinal, é como octogenária que ela diz estar vivendo as maiores emoções de uma trajetória, cuja principal marca é a música. A consagração veio aos 82 anos, em 2021, quando a cantora de Campinas encantou o Brasil com sua voz e chegou à final do “The Voice +”, da TV Globo. Hoje, ela está participando do Programa “Canta Comigo”, competição musical exibida pela TV Record, e tenta a seleção no “The Voice” dos Estados Unidos.
Para completar a caminhada recente de êxitos, a artista se prepara para receber o título de Cidadã Campineira na Câmara Municipal na próxima terça-feira (2), em solenidade marcada para as 19h.
Questionada se o coração aguenta, Catarina responde com os versos de uma música que ficou famosa na voz de Clara Nunes. “Coração valente, resiste e não cai, navega no rio dos fortes, seguindo ele vai.”
Ela não esconde, porém, que a alma balança. A exemplo do que aconteceu ao tomar conhecimento da sua inscrição no “The Voice +” Brasil, famosa competição musical para cantores com mais de 60 anos. “Meu marido me inscreveu sem eu saber. Quando fiquei sabendo, eu quase caí do sofá”, conta.
E cantar na final do programa foi uma experiência na qual os sentidos estiveram à flor da pele. “Perdi até o senso da memória”, define. Nada, no entanto, que impedisse a bela performance de Catarina naquele 4 de abril de 2021, interpretando a canção Malagueña Salerosa.
Na ocasião, ela já havia deixado para trás mais de 2 mil competidores na fase de seleção e outros 80 durante o programa. O primeiro lugar ficou com o cantor Zé Alexandre, mas mesmo assim a cantora de Campinas se sentiu vitoriosa. “Só em estar naquele programa já é algo excepcional”, justifica.
A inscrição neste ano na versão norte-americana do The Voice também foi uma surpresa do marido. No entanto, a participação ainda depende de uma análise da organização das apresentações enviadas em vídeo. A competição acontece ainda este ano. “Se eu for selecionada, vai ser uma loucura. Em inglês eu não canto, mas, como diz uma música, ‘deixa Deus resolver’.”
Ministra de música na Igreja do Nazareno, em Campinas, Catarina tem três CDs gospel gravados de forma independente. O trabalho é um entre tantos de uma trajetória musical que começou quando ela ainda era criança, em Sorocaba, cidade onde nasceu. “Sou filha de músicos”, diz. Em Campinas, o mergulho na carreira representou um destino sem volta. “Comecei a frequentar o bar Beira Rio, no distrito de Sousas, e lá comecei a cantar”, lembra.
As apresentações seguiram em aberturas de shows de artistas famosos e na televisão, como nas extintas TV Excelsior e TV Tupi. Ela chegou ainda a estar presente nos programas do emblemático casal Airton e Lolita Rodrigues, apresentadores do Almoço com as Estrelas e do Clube dos Artistas.
Em Campinas, uma das boas lembranças foram as exibições na chamada Manhã Brasileira, evento organizado pela secretaria de Cultura que acontecia aos sábados, no Largo do Rosário, no final dos anos de 1980 e início dos de 1990. “Eram artistas que cantavam Música Popular Brasileira. A praça ficava cheia de gente. A secretaria poderia repensar em reativar esse evento.”
Hoje, Catarina tem cinco filhos, 12 netos e o mesmo número de bisnetos, com a música seguindo ativa entre os descendentes.
“Na família tem cantores, pianistas, bateristas, contrabaixistas. Só é difícil reunir todo mundo. A vida é muito corrida”, diz. Aliás, não só corrida, mas também emocionante e surpreendente, até quando a gente menos espera que assim seja.