O atentado terrorista com bomba caseira em Monte Mor na manhã da última segunda-feira (13) reforça a série de manifestações de ódio e intolerância praticadas em escolas. Em alguns casos, o desfecho é trágico, como aconteceu no dia 25 de novembro do ano passado, quando um assassino de 16 anos invadiu duas instituições em Aracruz (ES), provocando a morte de três pessoas e deixando outras 13 feridas. Um levantamento realizado pelo Instituto Sou da Paz no final de 2022 aponta que o Brasil registrou 12 ataques em escolas nos últimos 20 anos.
Na tentativa de combater o problema, as autoridades estudam alternativas. Em Campinas, por exemplo, uma lei de autoria dos vereadores Paulo Gaspar (NOVO) e Major Jaime (PP) e sancionada pelo prefeito Dário Saadi justamente no dia do atentado em Aracruz procura barrar crimes desta natureza. Vinte e um dias antes do atentado em Aracruz, oito alunos da escola Porto Seguro de Valinhos foram expulsos, acusados de agressões racistas a um colega por meio de um grupo de WhatsApp. Os agressores, a exemplo do autor do atentado em Monte Mor, também faziam apologia ao nazismo.
O que diz a lei
A lei “institui o Programa Municipal de Prevenção contra a Prática de Atentados Violentos nas Dependências das Escolas Municipais e dá outras providências”. Nesta segunda-feira, Gapar protocolou na Câmara Municipal de Campinas requerimento no qual solicita “em regime de urgência” informações do Executivo a respeito da regulamentação e aplicação da lei.
“É importante o Executivo informar se foram firmados convênios entre a secretaria de educação com a Guarda Municipal, forças de segurança pública, forças armadas ou empresas de segurança privada para realizar o mapeamento dos riscos e as medidas que devem ser adotadas em caso de ataque pelos alunos e servidores”, cita Gaspar no requerimento, referindo-se ao artigo 4º do texto que prevê a possibilidade da criação desses convênios.
A lei Nº 16.318 de 25 de novembro de 2022 ainda prevê a adoção de treinamentos e capacitações de alunos, funcionários professores e agentes de segurança para “identificar possíveis ameaças e ataques violentos contra as escolas, bem como realizar a proteção dos alunos e demais envolvidos durante uma situação de ataque violento”. Entre outras medidas, a lei também estabelece ações que visam a adoção de palestras com especialistas em segurança escolar e canal rápido de comunicação com a Polícia Militar e com a Guarda Municipal de Campinas.
“É urgente estabelecer um protocolo de segurança nas escolas e estamos cobrando essa celeridade da Secretaria de Educação”, afirma Gaspar. “A meta é que funcionários e alunos estejam preparados psicológica e estrategicamente em situações que envolvam brigas de gangues, conflitos entre professores e alunos e outras ocorrências semelhantes dentro das escolas. Saber como se comportar nesses momentos é muito importante.”
O Caso de Monte Mor e a carta depressiva
Um jovem de 17 anos portando uma braçadeira com a suástica, símbolo nazista, foi detido na manhã desta segunda-feira, em Monte Mor, durante tentativa de ataque terrorista a escolas municipais. A polícia ainda encontrou uma machadinha, simulacro de arma de fogo, além de garrafas com combustível.
O jovem não conseguiu entrar nas escolas, mas jogou duas bombas de fabricação caseira no interior das unidades de ensino.
Houve explosões, mas sem feridos. Os alvos foram as escolas Estadual Professor Antonio Sproesser e Municipal Vista Alegre, que funcionam no mesmo prédio. As aulas foram suspensas, mas retomadas na manhã desta terça-feira (14), embora com pouca presença de alunos. A Prefeitura disponibilizou um suporte de atendimento psicológico para acolher estudantes, pais, docentes e funcionários. A segurança das escolas também foi reforçada.
Na casa do menor, a polícia encontrou uma carta escrita por ele sobre a tentativa do ataque. O texto, registrado à mão numa folha de caderno, tem um teor depressivo. Confira uma parte da carta:
“Abandonado, sozinho, sem amigos e família. Pronto pra morrer. Partirei com sangue nos olhos, nada vai me impedir…..Já tentei chorar, mas não consigo. Não consigo sentir tristeza por mais triste que eu seja diante de certos olhares. Talvez eu seja um erro”.