A companhia responsável pelo empreendimento imobiliário que será construído na área da antiga fábrica Chapéus Cury garante que ocorrerá a preservação dos bens tombados, com projeto que valorizará o contraste entre o antigo e o novo, e que a população terá acesso às partes tombadas. A área da antiga fábrica foi vendida para a incorporadora, que vai erguer duas torres residenciais, além de um pequeno shopping na parte de baixo, com salas comerciais e cinema. O projeto está em tramitação na Prefeitura. A fachada e a chaminé são tombadas como patrimônio histórico e devem ser preservadas.
“A Helbor segue rigorosamente a legislação que trata de incorporação imobiliária, respeita as leis municipais das cidades em que atua, e acredita que articular os requisitos estabelecidos pelos órgãos de patrimônio, com a manutenção do uso, do acesso ao público e da integração urbana, é a melhor maneira de preservação do patrimônio histórico e cultural de um município”, aponta a companhia.
A companhia afirma que desenvolveu um projeto que buscou valorizar a relação entre o bem tombado e a nova edificação, criando elementos que dão continuidade visual aos planos da fachada, destacando o contraste entre o antigo e novo.
“A preocupação da companhia com essa questão levou à contratação da Formarte Projetos, Produção e Assessoria, especializada em projetos de arquitetura/restauro voltados à preservação do patrimônio histórico material, uma empresa que está há 26 anos no mercado, e elaborou projetos de restauro de marcos de valor histórico e cultural inestimável, como a Catedral da Sé e o Edifício Altino Arantes (farol Santander), no centro da Capital paulista, entre dezenas de outros projetos relevantes desenvolvidos em diversas regiões do País”, explica.
Rosana Delellis, diretora-executiva da Formarte, afirmou ao Hora Campinas que a equipe se debruçou sobre o projeto, que além da questão da preservação do patrimônio, incluiu todo o levantamento histórico e as etapas que integram o projeto de restauro. Após o levantamento histórico, que resgatou dados da construção, que tem quase 100 anos, foi feita a elaboração do projeto para análise e aprovação do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), que já havia delimitado quais eram as áreas que deveriam ser preservadas e as que poderiam ser demolidas no terreno. Isso se dá porque a fábrica de chapéus teve um crescimento muito grande ao longo de várias décadas do século 20, o que resultou em obras de expansão de construções anexas que não possuíam valor arquitetônico e histórico.
“O resultado alcançado nesse projeto representa uma ressignificação da preservação do patrimônio histórico da cidade e a responsabilidade da iniciativa privada, conciliando a memória com iniciativas ligadas ao desenvolvimento”, diz Rosana Delellis.
O projeto prevê o restauro cerca de 1,6 mil m² de área construída de elementos arquitetônicos como a fachada principal com suas esquadrias, parte dos muros e a chaminé da antiga fábrica, que será integrada ao espaço comercial proposto no projeto arquitetônico desenvolvido pelo escritório Königsberger Vannucci. “Viabilizando que esse marco histórico seja observado de perto por qualquer pessoa que visite os espaços comerciais e cinemas projetados, e seja uma referência da região. Atualmente, isso não é possível com o imóvel fechado, e também não o seria, caso fosse um empreendimento de uso exclusivamente residencial”, destacou a incorporadora.
“Por isso, o uso misto proposto para o local, reforça e valoriza o bem tombado e a preservação da memória da história da industrialização de Campinas, além de criar comodidade, estimular novos negócios, gerar empregos e dinamizar o desenvolvimento econômico e social daquela importante região da cidade”, finaliza.
Em tramitação
No site da empresa consta que serão construídas duas torres. A Torre A terá três dormitórios, sendo uma suíte. Na Torre B serão três suítes. A empresa não dá detalhes do empreendimento porque o projeto está em tramitação na Prefeitura e é preciso aguardar a aprovação ou se haverá a necessidade de alguma alteração.
A Secretaria Municipal de Planejamento e Urbanismo informa que o projeto foi protocolado e está em tramitação. “Trata-se da construção de um empreendimento misto, com unidades comerciais e residenciais para o local. Até o momento não foi emitida autorização para o início das obras”, destaca.
Tombamento
Em setembro de 2008, quando tinha 88 anos de existência, a fábrica se tornou patrimônio histórico de Campinas. A fachada do prédio que era ocupado pela empresa desde 1920 e a chaminé foram tombados pelo Condepacc. Os estudos visando o tombamento estavam em avaliação desde 1994.
A Chapéus Cury ganhou fama internacional como a fabricante do chapéu do Indiana Jones. Ela é símbolo da Campinas pujante do século passado, com a industrialização em franca expansão. Há duas semanas, reportagem do Hora Campinas revelava os projetos futuros sobre esta desativada e histórica unidade fabril, que traz recordações e alcança a memória afetiva dos campineiros acima dos 40 anos.
O visual faroeste do personagem de Harrison Ford tinha o acessório feito em Campinas. O personagem usava o chapéu desde “Os Caçadores da Arca Perdida”, o primeiro filme da série, de 1981. A história da empresa em Campinas começou em 1920, quando Miguel Vicente Cury e seu pai, Vicente Cury, fixaram residência na cidade e fundaram uma pequena fábrica de chapéus. Antes disso, eles tinham uma oficina de reforma de chapéus, em Mogi Mirim.