Gostaria neste texto reproduzir, em boa parte, o que foi publicado pela PLOS (Public Library of Science) no mês de julho de 2023 e que, a meu ver, é um dos maiores desafios da ciência e da pesquisa no mundo: como garantir a ciência aberta e com acesso também aberto mantendo a qualidade dos artigos e das informações científicas.
No coração do movimento “Ciência Aberta” está a convicção de que a Ciência Aberta é uma ciência melhor, mais rigorosa, mais inclusiva, mais eficiente, mais confiável e mais reprodutível. E, o mais importante, mais impactante para a sociedade.
Os diferentes aspectos da prática da Ciência Aberta – de métodos e dados abertos, a pré-impressões (preprints), a ORCID e CRediT, a revisão obrigatória por pares em artigos publicados – são todos parte de um ciclo de qualificação sempre necessária à excelência da ciência.
Cada componente funciona em conjunto e, à medida que a adoção aumenta, os benefícios aumentam, expandindo-se cada vez mais, remodelando nosso sistema de pesquisa e, finalmente, produzindo uma ciência melhor.
A PLOS, coloca a missão de liderar essa transformação e acredita que pode conseguir isso melhor capacitando os pesquisadores a se envolverem em práticas fundamentais de Ciência Aberta em grande escala, por meio de:
1. Oferecer opções de Ciência Aberta que atendam aos objetivos e prioridades dos pesquisadores, bem como do público, e
2. Remover barreiras e expandir o acesso à Ciência Aberta a todos os pesquisadores.
Os leitores contam com dados científicos brutos para compreensão, verificação, replicação e reanálise e para informar futuras investigações, revisões sistemáticas e meta-análises. Mas os pesquisadores só podem acessar e usar os dados se estiverem cientes de que eles existem e tiverem acesso. O recurso Accessible Data da PLOS é uma funcionalidade experimental que aumenta a visibilidade dos dados postados em repositórios públicos selecionados nas páginas de artigos da PLOS.
Ao destacar os dados publicamente disponíveis dessa maneira, a PLOS espera facilitar o acesso e a reutilização, economizar o tempo dos leitores na busca de dados públicos online e aprender com o comportamento do usuário.
As taxas (custos) de processamento de artigos permitem que o acesso aberto seja viável e permitem que a publicação aberta se tornasse uma força em nosso setor. Mas, estes custos, também são excludentes e injustos; onerosos para os autores e demorado para os editores administrarem; e tendem a criar incentivos que privilegiam o volume de publicações sobre a qualidades dos artigos dentre outras considerações que possam ser feitas.
A PLOS, está indo além das taxas para os novos modelos de financiamento e que distribuam os custos de publicação de forma mais justa e reduzam as despesas para todos os envolvidos, incluindo Community Action Publishing e acordos institucionais.
Até o momento, a PLOS já fez parcerias com mais de 280 universidades, bibliotecas e outras instituições em 28 países para ajudar a trazer a Ciência Aberta ao alcance de todos.
Certamente, muitos de nós consideramos um enorme desafio garantir a “ciência aberta” com “acesso aberto”. É claro que estas intensões e ações estão limitados por decisões políticas e estratégicas bem como pela capacidade econômica dos agentes públicos, universitários, governamentais e multilaterais para financiar tudo isto.
Interesses enormes existem neste campo e estes acessos livres sempre estarão limitados por estes outros interesses, que também são inteligíveis, e que hoje atuam na produção e divulgação de trabalhos científicos e que também financiam as atividades editoriais da ciência.
Importante é que continuemos a discutir este tema em vários fóruns onde este debate seja feito e que trabalhemos para que tenhamos cada vez mais Ciência e Acesso abertos a toda Sociedade.
Carmino Antônio De Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020. Secretário-executivo da secretaria extraordinária de ciência, pesquisa e desenvolvimento em saúde do governo do estado de São Paulo em 2022 e atual Presidente do Conselho de Curadores da Fundação Butantan.