O adiamento de cirurgias eletivas em razão da pandemia do novo coronavírus reflete nos atuais números da saúde de Campinas e região. O represamento colaborou para que muitos dos procedimentos antes considerados simples se transformassem em casos graves. O total de cirurgias de urgência e emergência foi 64,3% maior neste semestre se comparado ao mesmo período do ano passado, segundo levantamento feito pelo Grupo Surgical, com dados de nove hospitais de Campinas, Valinhos e Vinhedo.
“No primeiro semestre do ano passado, as cirurgias eletivas praticamente pararam. Primeiro, porque os hospitais não tinham estrutura para atender os pacientes de covid-19 e as cirurgias eletivas. Segundo, porque muitos pacientes ficaram com medo de ir a um hospital e se contaminar”, explica o CEO o Grupo Surgical, Bruno Pereira, que também é cirurgião geral, de urgência e emergência e de trauma.
Para efeito de comparação, no primeiro semestre de 2019, os procedimentos de urgência e emergência realizados pelo grupo Surgical foram 52,3% maiores que os eletivos; no ano passado, este índice saltou para 128,6% e, neste ano, 125%. “Na prática, percebemos que muitas das cirurgias eletivas que não foram feitas, independentemente do motivo, acabaram se agravando e se transformaram em de urgência e emergência”, afirma Pereira.
O cirurgião destaca, ainda, que as pessoas não devem deixar de procurar o hospital quando algo não está bem. “Lógico que não é para ir por qualquer motivo, mas se algum sintoma diferente ficar persistente, é necessário procurar um médico. Alguns problemas evoluem para formas graves muito rapidamente e só o médico terá condições de avaliar se é necessário fazer a cirurgia naquele momento ou esperar”, orienta. “Também é fundamental que as pessoas mantenham suas rotinas de consultas e exames, só assim conseguimos trabalhar preventivamente”, reforça.
Entre os sintomas que devem ser considerados sinais de alerta, estão mudança no hábito intestinal, que pode ser tanto constipação quanto diarreia, dor abdominal insistente, cólica forte, sangramento ou escurecimento das fezes, vômito com sangue, falta de apetite, náusea e dor abdominal migratória.
Outro problema muito comum é a apendicite. Os sintomas mais frequentes são dor abdominal e falta de apetite, que atingem 100% dos pacientes, seguido por náuseas (90%), vômitos (75%) e dor migratória (50%). Quanto mais cedo houver o diagnóstico, melhor, já que complicações da doença podem causar perfuração do órgão e até infecção na corrente sanguínea (sepse ou septicemia). O quadro do paciente costuma mudar a cada 12 ou 24 horas e a demora também pode resultar em dificuldades cirúrgicas, complicações pós-operatórias, longos períodos de internação e até a morte.