Os movimentos sociais agregados ao Coletivo da Mulher Negra, em Campinas, que ocuparam na madrugada deste sábado (26) um imóvel na Vila Padre Anchieta, Região Noroeste da cidade, próximo a Hortolândia, defendem a constituição formal de um espaço que homenageia Laudelina de Campos Mello, líder negra e ativista da causa trabalhista. As lideranças afirmam que o espaço que estaria sem utilidade. De acordo com as ativistas, a casa está “abandonada há anos sem cumprir função social”.
O coletivo homenageia uma liderança icônica do movimento negro. Laudelina, mineira de nascimento, escolheu Campinas para viver. Ela foi uma militante da causa operária e dos direitos humanos. Foi considerada uma líder da resistência e uma das maiores referências da identidade negra no Brasil.
Combateu as injustiças trabalhistas e fundou, em Santos, nos anos 30, a Associação das Empregadas Domésticas do Brasil. Hoje, Laudelina tem seu nome associado à bravura nacional. E inspirou, inclusive, um livro sobre a sua história. É neste sentido que as militantes desejam sensibilidar o poder público.
Em nota, a Prefeitura de Campinas informou ao Hora Campinas que o imóvel ocupado é municipal, mas está atualmente cedido para a Polícia Militar, que tem a intenção de instalar um batalhão no local. Portanto, segundo a Prefeitura, “a responsabilidade do imóvel atualmente é da Polícia Militar”.
Cleusa Silva uma das porta-vozes do movimento, revelou que a ocupação visa a transformar o imóvel não só na sede de um memorial a Laudelina, mas num espaço para atividades de cidadania. “Temos 34 anos na cidade de Campinas. Estamos na luta”, pontuou a ativista. “Esse espaço vai agregar um programa nosso que tem vários projetos dentro dele, entre eles um ateliê de artes integradas, com cursos gratuitos”, explica.
A porta-voz acrescenta ainda que o plano é transformar o espaço num centro de resistência da causa feminista e social. “O objetivo central é incidir no enfrentamento ao racismo, ao sexismo e às desigualdades”, comenta. “Será um instrumento de participação popular”, completa.
O caso
A Ocupação Casa Laudelina de Campos Mello se propõe, portanto, a ser um espaço de acolhimento para as mulheres vítimas de violência na cidade e também um espaço de vivência, de atividades formativas, profissional e de lazer. O espaço público ocupado fica ao lado do Corpo de Bombeiros, próximo ao Terminal de ônibus da Vila Padre Anchieta.
A organização que lidera o movimento foi fundada em 1989 em Campinas. Seu objetivo é defender causas humanitárias, populares, feministas e sociais.
O Hora Campinas apurou que o movimento havia solicitado, em julho passado, uma audiência com o prefeito Dário Saadi para discutir o encaminhamento deste espaço público. Não teria havido agenda para essa reunião nem resposta, segundo a organização. O pedido que seria feito aos gestores públicos era o de viabilizar um espaço municipal para poder fazer o atendimento na rede de apoio de mulheres (formação profissional e acolhimento social, entre outras razões).
Resposta
Depois da ocupação, segundo Cleusa Silva, um integrante do governo Dário Saadi entrou em contato para estabelecer um diálogo. “Eles ligaram para ver a pauta e marcar uma agenda”. Ela diz que o espaço pertence à Prefeitura, mas que há um decreto que o destina ao governo estadual.
“Há seis anos está abandonado. Não tem nenhum uso. A casa está sendo depredada”, afirma Cleusa.
De acordo com ela, a própria comunidade da Vila Padre Anchieta apoia o movimento. “Queremos empoderar as mulheres para buscar também a sua autonomia econômica”, enfatiza.
Cleusa revela que viaturas da Polícia Militar (PM) e da Guarda Municipal (GM) estiveram no local. Segundo ela, o contato com os agentes “foi tranquilo”. Ela reforça que o objetivo é conseguir a cessão do prédio para a implantação dos projetos do Memorial Laudelina e do centro de apoio às mulheres em situação de vulnerabilidade. “Axé”, encerrou Cleusa.
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