Movimentos sociais agregados ao Coletivo da Mulher Negra, em Campinas, ocuparam na madrugada deste sábado um imóvel na Vila Padre Anchieta, Região Noroeste da cidade, próximo a Hortolândia. As lideranças afirmam que o espaço pertence à Prefeitura e que estaria sem utilidade. De acordo com a Organização da Mulher Negra Memorial Laudelina de Campos Mello, a casa está “abandonada há anos sem cumprir função social”.
O coletivo homenageia uma liderança icônica do movimento negro. Laudelina, mineira de nascimento, escolheu Campinas para viver. Ela foi uma militante da causa operária e dos direitos humanos. Foi considerada uma líder da resistência e uma das maiores referências da identidade negra no Brasil. Combateu as injustiças trabalhistas e fundou, em Santos, nos anos 30, a Associação das Empregadas Domésticas do Brasil. Hoje, Laudelina tem seu nome associado à bravura nacional. E inspirou, inclusive, um livro sobre a sua história.
O caso
A Ocupação Casa Laudelina de Campos Mello se propõe a ser um espaço de acolhimento para as mulheres vítimas de violência na cidade e também um espaço de vivência, de atividades formativas, profissional e de lazer. O espaço público ocupado fica ao lado do Corpo de Bombeiros, próximo ao Terminal de ônibus da Vila Padre Anchieta.
A organização que lidera o movimento foi fundada em 1989 em Campinas. Seu objeitivo é defender causas humanitárias, populares, feministas e sociais.
O Hora Campinas apurou que o movimento havia solicitado, em junho passado, uma audiência com o prefeito Dário Saadi para discutir o encaminhamento deste espaço público. Não teria havido agenda para essa reunião nem resposta, segundo a organização. O pedido que seria feito aos gestores públicos era o de viabilizar um espaço municipal para poder fazer o atendimento na rede de apoio de mulheres (formação profissional e acolhimento social, entre outras razões).
O principal argumento do movimento é que a estrutura de apoio está muito concentrada na região central, não atendendo as mulheres da periferia.
A Prefeitura de Campinas informou, em nota, que o imóvel ocupado é municipal, mas está atualmente cedido para a Polícia Militar, que tem a intenção de instalar um batalhão no local. Portanto, segundo a Prefeitura, “a responsabilidade do imóvel atualmente é da Polícia Militar”.
A reportagem procurou as porta-vozes do movimento, mas não conseguiu retorno até às 16h.
Coletivo Olga Benário
É a segunda vez, esse ano, que um movimento social ocupa um imóvel para defender causas sociais ou habitacionais. O grupo de mulheres organizadas no Coletivo Olga Benário invadiu um imóvel particular na Rua Delfino Cintra no dia 29 de abril. O grupo cobrava políticas habitacionais mais efetivas do poder público e decidiu ocupar a casa, classificada como “abandonada” pelo Coletivo.
O proprietário negou o abandono e argumentou que sua propriedade era privada, não sendo, portanto, passível para ser utilizada pelo grupo. O impasse gerou atrito e mobilizou parte da classe política. O caso repercutiu na Câmara de Campinas, com polêmica entre os vereadores porque Paulo Bufalo foi até o local para dar apoio ao movimento.
Ele acabou sendo acusado de incentivar e ser tolerante com invasão de propriedade particular por alguns colegas do Legislativo, entre eles Paulo Gaspar (NOVO) e Nelson Hossri (PSD).
Este último, inclusive, protocolou representação na Corregedoria da Câmara cobrando providências contra Bufalo. O imbróglio resultou num pedido para abrir uma Comissão Processante (CP) contra o parlamentar do PSOL. A CP, porém, foi rejeitada em plenário por 15 votos a oito, com duas abstenções.