Lá se vão mais de 10 anos desde que a cidade de Campinas sediou pela última vez a Copa São Paulo de Futebol Júnior, a maior e mais tradicional competição de categorias de base do Brasil, realizada anualmente desde 1969. Excepcionalmente em 2021, o torneio não aconteceu por conta das restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus, mas voltou a ser disputado em janeiro deste ano, como já é de costume.
Invictos, Palmeiras e Santos disputam a grande decisão da 52ª edição da Copa São Paulo de Futebol Júnior, em 2022. O clássico será realizado na manhã desta terça-feira (25), data do aniversário da cidade de São Paulo, como tradicionalmente acontece, às 10h. No entanto, pela primeira vez desde 2008, o palco da final não será o estádio do Pacaembu, que foi privatizado e passa por reformas, e sim o Allianz Parque, casa palmeirense. Dono da melhor campanha geral, o Verdão tenta o título inédito, enquanto o Peixe busca o tetracampeonato.
Entre 2009 e 2011, o Estádio Doutor Horácio Antônio da Costa, também conhecido como Cerecamp (Centro Educativo, Recreativo e Esportivo do Trabalhador de Campinas), popularmente chamado de Campo da Mogiana, localizado no bairro Botafogo, em Campinas, recebeu três edições consecutivas da Copa São Paulo, sempre com times locais envolvidos: Guarani, Ponte Preta, Campinas e Red Bull Brasil.
Desde então, com estrutura precária e arquibancadas interditadas há uma década, o Cerecamp nunca mais foi palco de campeonatos oficiais organizados pela Federação Paulista de Futebol (FPF). A cidade de Campinas, por sua vez, jamais voltou à rota da famosa Copinha, que ao longo desse período, em meio à profusão de sedes a cada edição, passou por vários municípios da região, como Jaguariúna, Indaiatuba, Paulínia e Sumaré.
De acordo com levantamento do historiador José Ricardo Mariolani, que não é definitivo, a cidade de Campinas sediou pelo menos nove das 52 edições da Copa São Paulo de Futebol Júnior: 1984, 1986, 1990, 1992, 1993, 1995, 2009, 2010 e 2011.
Apesar de ser a maior e uma das mais importantes cidades do interior paulista, sem dúvida a mais rica em termos de história no futebol, Campinas recebeu poucas edições da Copa São Paulo de Futebol Júnior, menos de 20% do total, mas guarda alguns momentos curiosos e singulares para torcedores que gostam de acompanhar a competição.
Bicampeã da Copa São Paulo de Futebol Júnior, a Ponte Preta é a equipe do interior paulista que mais venceu a competição, com títulos consecutivos conquistados em 1981 e 1982. Na primeira decisão, a Macaca venceu o São Paulo por 1 a 0, com gol de Celso, no Pacaembu. Na segunda final, no mesmo local, a equipe alvinegra desbancou o Santos com vitória por 2 a 1, com dois gols do atacante Chicão, artilheiro de ambas as edições da Copinha, marcando cinco gols na campanha do título inédito, ao lado de Casagrande, do Corinthians, e oito no ano da dobradinha.
Entre os anos 80 e 90, Ponte Preta e Guarani chegaram a mandar jogos em seus estádios e até disputar Dérbis pela Copinha. No dia 11 de janeiro de 1990, no primeiro clássico campineiro da história do torneio, disputado no distrito de Sousas, houve empate em 0 a 0, com vitória bugrina nos pênaltis por 3 a 1, pela primeira fase de grupos.
Uma das sete equipes do interior paulista que já conquistaram a Copa São Paulo de Futebol Júnior, o Guarani levantou o troféu em 1994, com um time que contava com o atacante Luizão. Na grande decisão, o Bugre bateu o São Paulo por 3 a 0 nos pênaltis, após empate em 1 a 1 no tempo normal, com gols de Jamelli para o Tricolor e Rubens para o Bugre, no Pacaembu.
Em 19 de janeiro de 1992, a Macaca deu o troco e venceu o Bugre por 2 a 0, com dois gols de Nei, no Moisés Lucarelli, em confronto direto que valeu a classificação da equipe alvinegra para as quartas de final da Copinha. No mata-mata, mesmo jogando novamente diante de sua torcida no Majestoso, assim como havia acontecido em toda a primeira fase, a Macaca foi eliminada com derrota por 3 a 1 para o Vasco, no dia 21 de janeiro de 1992. Naquela mesma edição, o estádio Brinco de Ouro da Princesa também recebeu partidas do Guarani. A partir de então, a cidade de Campinas entrou em um hiato de quase duas décadas sem acolher jogos da Copa São Paulo de Futebol Júnior.
Em 2002, no terceiro e último Dérbi da história da Copinha até hoje, sendo o único disputado fora de Campinas, Guarani e Ponte Preta empataram em 1 a 1, mas a Macaca se classificou nos pênaltis por 6 a 5, no Estádio do Ibirapuera, em São Paulo, pela quartas de final. A Macaca foi eliminada pela campeã Portuguesa na sequência, mas terminou aquela edição como terceira colocada, na última grande campanha da equipe alvinegra na competição. Já o Bugre chegou à semifinal pela última vez em 2019.
Foi somente em 2009 que a cidade de Campinas voltou a receber partidas da Copinha, graças à iniciativa do ex-jogador do Guarani, Edmar Bernardes, à época presidente do Campinas Futebol Clube, equipe local fundada em 1998, em conjunto com o ex-atacante bugrino Careca, mas existente até 2010. Sob a alcunha de Águia da Mogiana, o Campinas disputava divisões inferiores do futebol paulista e mandava as suas partidas no Cerecamp.
“Aqueles que realmente gostam de futebol com certeza vão se lembrar do Campinas, que sempre teve êxito nas Copinhas que disputou. Foram participações maravilhosas, jogando bem e quase sempre passando de fase. O time acabou, mas o Mogiana continua aí. Se realmente olharem com carinho, o estádio pode prosseguir e fazer novas histórias”, deseja Edmar Bernardes.
“Fui eu quem trouxe a Copinha para Campinas depois de 17 anos. Conversei lá em São Paulo com o Marco Polo Del Nero, que na época era o presidente da Federação Paulista, e falei que queria voltar a fazer a competição na cidade em 2009. Nos anos anteriores, já tínhamos feito parceria com a Prefeitura de Louveira. Com muita luta e ajuda de alguns patrocinadores, fizemos dois anos seguidos no Cerecamp, primeiro com o Guarani e depois com a Ponte Preta no mesmo grupo do Campinas. Coloquei os dois principais times da cidade para abaixar custos, pois quem sediava tinha que bancar todos os gastos”, relembra Edmar.
Entre os anos 40 e 50, quando era um dos estádios mais modernos do Brasil e o único de Campinas com refletores, o Campo da Mogiana recebeu 10 clássicos entre Guarani e Ponte Preta, inclusive o primeiro Dérbi noturno, em 1948.
Em janeiro de 2009, Campinas e Guarani foram os anfitriões do Grupo B, que também contava com Brasiliense e Flamengo, do Piauí. Em confronto direto local na última rodada, no dia 11 de janeiro de 2009, no Cerecamp, o Bugre venceu a Águia da Mogiana por 3 a 2 e roubou a liderança da chave, em duelo com arquibancadas completamente tomadas e grande festa da torcida bugrina. Com o triunfo, somado ao empate em 1 a 1 com a equipe de Brasília e à vitória por 2 a 0 sobre o time piauiense, o Guarani foi o único time da chave a avançar, mas não teve vida longa no torneio e acabou goleado por 4 a 0 pelo Santos, na segunda fase.
Abaixo, veja imagens da TV Guarani que mostram os garotos do Bugre cantando o hino do clube no túnel do vestiário do Cerecamp, minutos antes da entrada em campo no derradeiro e decisivo duelo da fase de grupos contra o Campinas. O vídeo também mostra os gols da partida, com apoio de imagens da transmissão da Rede Família:
Em janeiro de 2010, foi a vez da torcida pontepretana invadir o Cerecamp. No jogo de estreia da Macaca, diante do Campinas, houve distribuição gratuita de ingressos e aproximadamente cinco mil torcedores compareceram ao estádio, mas cerca de mil foram barrados por conta de lotação máxima do Cerecamp, que só comportava quatro mil pessoas. Confusão na certa.
No início do segundo tempo, torcedores que estavam do lado de fora do estádio forçaram a entrada e entraram em confronto com a Polícia Militar, causando um grande tumulto, mas sem nenhuma ocorrência mais grave. A partir da segunda rodada, para tentar evitar novos problemas, passou-se a ser exigida a troca de ingresso mediante entrega de um quilo de alimento não perecível, com horas de antecedência ao início das partidas.
O jogo entre Ponte Preta e Campinas terminou em 2 a 2, no dia 3 de janeiro de 2010, no Cerecamp, pela primeira rodada do Grupo D da Copinha. Os dois gols da Macaca foram marcados pelo atacante Robson Fernandes, o mesmo que marcou 10 gols pelo Fortaleza no último Campeonato Brasileiro da Série A, ajudando a equipe cearense a se classificar à Libertadores da América pela primeira vez na história.
Após resultado de igualdade na estreia diante do Campinas, a Ponte Preta empatou em 1 a 1 com o Brasiliense e depois goleou o Vilavelhense, do Espírito Santo, por 5 a 0, mas não foi o suficiente para conquistar a classificação ao mata-mata da Copinha. O Campinas avançou em primeiro lugar, mas parou na segunda fase.
Despedida com André Ramalho e Pablo
Em janeiro de 2011, mesmo um ano após a venda do Campinas Futebol Clube, que se transformara em Sport Club Barueri em 2010, o Cerecamp voltou a receber partidas da Copa São Paulo de Futebol Júnior, como sede do Grupo L. O público que compareceu às arquibancadas do estádio da Mogiana assistiu às maiores goleadas daquela edição da competição: dois resultados de 8 a 0 aplicados por Red Bull Brasil e Juventus sobre o Grêmio Atlético Sampaio (GAS), de Roraima, além de um 7 a 0 do Athletico-PR sobre o mesmo frágil adversário roraimense.
O último jogo oficial da história do Cerecamp foi a vitória do Athletico-PR por 3 a 1 sobre o Red Bull Brasil, no dia 12 de janeiro de 2011, com gols de Bruno Rossetto, Guilherme Batata e Renato, para o Furacão, e Anderson Gabriel, para o Red Bull, pela última rodada do Grupo L da Copinha. Clique aqui para conferir a súmula oficial da partida.
À época fixada em Campinas, a equipe da Red Bull contava com o zagueiro André Ramalho, que na sequência seria transferido para o Red Bull Salzburg, da Áustria. O jogador, com passagem pelo futebol alemão, já disputou sete edições de Liga dos Campeões da Europa, contando fases prévias. Atualmente, André Ramalho defende o PSV Eindhoven, da Holanda.
Já o Athletico-PR tinha o atacante Pablo, que sete anos depois seria campeão da Copa Sul-Americana pelo Furacão e se tornaria a contratação mais cara da história do São Paulo, que desembolsou € 6 milhões (R$ 26,5 milhões) por 70% dos direitos econômicos do jogador, em 2018. Sem corresponder à altura com a camisa do Tricolor, o jogador não faz mais parte dos planos do clube e deve mudar de ares nesta próxima temporada. Na Copinha de 2011, o Athletico também contava com o volante Hernani, que está há cinco anos no futebol europeu e atualmente disputa o Campeonato Italiano pelo Genoa.