Campinas tem atualmente 16 núcleos de organizações caracterizadas pelas ideologias nazistas e fascistas. Essa é uma das informações levantadas pela CPI Antifascista da Câmara Municipal, cujo relatório final será apresentado em janeiro. Aberta em junho, a Comissão Parlamentar de Inquérito trabalha com o objetivo de alertar a sociedade a respeito de crimes de ódio e contribuir com a Polícia Civil no processo de possíveis investigações.
Um estudo da professora de antropologia da Unicamp, Adriana Dias, aponta que o número de grupos de extrema-direita no Brasil teve um crescimento de 270% durante o período do governo do presidente Jair Bolsonaro. “Estamos vendo no Brasil um ressurgimento desses movimentos, que são criminosos”, diz a presidente da CPI, a vereadora Mariana Conti (PSOL).
Ela cita três acontecimentos em Campinas que motivaram a abertura da comissão: pichações de símbolos nazistas em uma pilastra no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp e no Colégio Etecap; o ataque armado de cunho racista no bar do Ademir, em Barão Geraldo; e a ameaça de massacre também no Etecap. Todos os casos aconteceram entre abril e maio deste ano.
Após a derrota de Bolsonaro nas eleições presidenciais, os atos criminosos de grupos identificados com a extrema-direita passaram a acontecer em sequência. O mais grave foi registrado no último dia 25, em Aracruz, no Espírito Santo, onde um adolescente de 16 anos invadiu duas escolas e atirou contra as pessoas. Quatro morreram, 12 ficaram feridas e cinco seguiam internadas até a última semana. No dia do crime, o adolescente usava uma roupa com estampa militar e símbolos nazistas.
No último dia 29, oito suásticas foram encontradas em paredes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade de São Paulo (USP), no campus do Butantã. No mesmo dia, uma escola municipal de Contagem-MG foi vista com suásticas e mensagens em referências a Hitler, líder do nazismo alemão, pichadas nas paredes. Uma exposição ligada ao Dia da Consciência Negra, lembrado em 20 de novembro, também foi destruída.
Na região de Campinas, o episódio no Colégio Porto Seguro, de Valinhos, mobilizou a Polícia Civil. No último dia 4 de novembro, oito estudantes foram expulsos da escola após ofensas e ameaças de morte dirigidas a um outro estudante em um grupo de WhatsApp. O grupo, denominado “Fundação Antipetismo”, continha mensagens de apologia ao nazismo e de ódio a negros e mulheres.
Relatório CPI
Em seus trabalhos, a CPI Antifascista identificou a forte influência que a ideologia nazista e fascista exerce na juventude, principalmente entre meninos brancos e de classe média. O chamado criptofascismo, uma admiração secreta pela ideologia, permeia vários grupos, apontam os debates promovidos pelos integrantes da comissão.
Um dos objetivos do relatório final é indicar um direcionamento para as instituições de ensino em situações nas quais o crime de ódio seja identificado. O documento também pretende apontar caminhos que reforcem a busca pela conscientização.
“É necessário a existência de políticas pedagógicas que combatam os mais diferentes preconceitos, o revisionismo histórico em relação ao nazismo, à ditadura e à escravidão, além de políticas de reparação das vítimas”, afirma Mariana Conti.
A CPI teve três audiências públicas, reuniões deliberativas e diligências à delegacia onde os casos da Etecap e do IFCH estão sendo investigados. “Nosso objetivo é colaborar. A partir do diálogo com pesquisadores nós queremos apresentar no relatório traços gerais da presença dos grupos nazistas e fascistas na cidade de Campinas e, assim, colaborar com os trabalhos investigativos que cabem à Polícia Civil”, explica Mariana.
A relatora da CPI é a vereadora Guida Calixto (PT). “A priori, o documento será encaminhado ao Ministério Público, Polícia Civil e organização de direitos humanos”, completa a parlamentar do PSOL.