Quem acompanhou com bastante atenção a última edição do Big Brother Brasil, realizada entre janeiro e abril deste ano, certamente deve se lembrar da presença de um boneco em miniatura do médico e psiquiatra austríaco Sigmund Freud, considerado o pai da psicanálise, posicionado no canto esquerdo, à direita da tela, da mesa que compunha, entre outros objetos, o cenário do “Big Terapia”.
No quadro, o humorista Paulo Vieira se passava por um terapeuta que analisava de maneira cômica o comportamento dos confinados dentro da casa conhecida como a mais vigiada do Brasil. A esquete, exibida todas as noites de quarta-feira durante pouco mais de três meses, contava sempre com a participação de um ou dois eliminados da semana.
A 22ª e mais recente edição do Big Brother Brasil, tradicional reality show transmitido pela Rede Globo há 20 anos, que se tornou uma das principais atrações da programação da emissora, chegou ao fim no último dia 26 de abril, após 100 dias de exibição, com vitória do ator e cantor Arthur Aguiar, de 33 anos. Com 68,96% dos votos do público, ele faturou o prêmio de R$ 1,5 milhão.
O que poucos sabem é que aquele pequeno boneco de Freud, exposto a milhões de telespectadores em meio a uma imensidão de elementos no reality show de maior audiência da televisão brasileira, exibido pela Rede Globo anualmente no primeiro semestre, é apenas um dos itens do diversificado e fascinante catálogo do artista plástico paulista Caio Morel, de 39 anos, dono de um estúdio de modelagem em Vinhedo, na região de Campinas.
As peças feitas cuidadosamente à mão pelo jovem escultor representam grandes ícones da cultura pop, principalmente do cinema e da música, suas duas grandes paixões.
Além da frequente exposição do boneco de Freud no Big Brother, outras peças produzidas pelo artesão de Vinhedo já apareceram em novelas da Globo, como “Pantanal” e “Quanto Mais Vida, Melhor!”, ambas atualmente em exibição, além de programas da emissora e séries da Globoplay.
Intimamente ligado às artes desde a infância, quando já demonstrava talento para desenhar, Caio Morel começou a modelar aos 15 anos, mas na época tudo ainda não passava de um simples passatempo. No entanto, a atividade se mostrou uma grande vocação e se transformou em seu ofício em 2010, após largar a carreira de publicitário, quando tinha 26 anos. Desde 2016, ele possui o estúdio de modelagem em Vinhedo, onde trabalha com a ajuda de cinco funcionários.
Ao todo, em pouco mais de 10 anos, Morel já produziu cerca de 100 bonecos diferentes de corpo inteiro, dos quais 70 integram o estoque atualmente, com uma média de 200 a 300 vendas por mês para clientes do Brasil inteiro. As peças medem entre 26 e 30 centímetros de altura, com peso de 600 gramas a um quilo, com algumas exceções. O artista também produz bustos e imãs de personagens.
“Eu trabalho com um material chamado Super Sculpey, que é uma massa cinza que vai para o forno, com a qual consigo pintar a primeira peça para tirar todas as outras. Faço um molde de silicone, injeto resina e reproduzo em série”, explicou Caio Morel, em contato com a reportagem do Hora Campinas, sobre o processo de produção.
Embora não tenha sido creditado em momento algum do Big Brother como o autor do boneco de Freud, Caio Morel revela que a procura pela peça disparou em função da exposição no horário nobre da Globo, tornando-se o seu produto mais vendido neste ano.
“As pessoas assistiam à esquete do programa, mas não sabiam que a peça era minha, então acabava sendo só mais um item que estava ali e chamava a atenção, o que não necessariamente converteria em vendas, só que nesse caso se converteu graças à internet. De repente, chegou um monte de psiquiatras seguindo a minha página, uma coisa imprevisível”, relata Caio Morel.
“As pessoas entravam no perfil do Paulo Vieira nas redes sociais e perguntavam sobre a peça do Freud. Por coincidência, alguém que conhecia o meu trabalho respondia. Tinha que ter um cruzamento de informações, então eu ficava dependendo dessa ajuda da rapaziada nos comentários”, explica Caio Morel.
“Aumentaram bastante as vendas, mas imagino que pelo tamanho do canhão do Big Brother, poderia ter sido muito mais, não apenas do boneco do Freud, mas também de outras peças, porque uma coisa puxaria a outra”, pondera.
O curioso é que mesmo antes de aparecer no BBB, o boneco de Freud já integrava o seleto grupo de peças mais vendidas da loja de Caio Morel. “Os personagens mais vendidos acabam sendo aqueles mais óbvios, como o Freddie Mercury, mas uma peça que eu não imaginava que estaria sempre no top-5 é a do Freud, que nesse ano estourou e vendeu bem mais. O Tarantino, com certeza, também entra nessa lista, assim como o Rocky Balboa e o Mick Jagger”, lista Morel. “Depois deles, vem um segundo grupo com Stan Lee, Stephen King e Stanley Kubrick, até chegar naqueles que vendem menos, seja porque são pouco populares ou mais caros”, aponta.
Para quem tem predileção especial pelo gênero terror, a galeria de Caio Morel é um prato cheio, desde o boneco do escritor Stephen King totalmente manchado pelo sangue que jorra de seus livros, até a peça do ator Jack Nicholson enlouquecido e armado com o machado de Jack Torrance no filme “O Iluminado” (1980), do diretor Stanley Kubrick, baseado na obra homônima de King.
Na galeria de Caio Morel, apaixonados por cinema podem comer pipoca junto com o boneco do diretor Steven Spielberg, viajar ao passado com a ajuda do cientista Doc Brown, inventor da máquina do tempo em “De Volta para o Futuro” (1985), relembrar milhares de histórias com o engraçado sotaque de Tom Hanks em “Forrest Gump” (1994) e até aprender os passos da excêntrica dança de Joaquin Phoenix na escadaria em “Coringa” (2019).
Para quem é fã de rock, não faltam alternativas nas estantes: Jimi Hendrix, Mick Jagger, Keith Richards, David Bowie, Pete Townshend, Ozzy Osbourne, Roger Waters, David Gilmour, Angus Young, Geddy Lee, Slash, Bono, The Edge, entre outros. A música brasileira também está representada nas prateleiras por figuras como Tim Maia e Raul Seixas.
O medo e a tensão crescem com os bonecos do cineasta e mestre do suspense Alfred Hitchcock, acompanhado de um dos corvos assassinos de “Os Pássaros” (1963), e do ator Anthony Hopkins na pele do médico psicopata Hannibal Lecter pronto para devorar mais uma vítima. Isso sem falar nos bustos de “Nosferatu” (1922) e “Frankenstein” (1931). Ou seja, filmes de diferentes épocas para todos os gostos. Há espaço até para um personagem autoral chamado Bomb Kong, que poderia muito bem ganhar filme próprio.
A mais nova criação de Caio Morel, concluída no mês passado, foi uma caricatura em resina do gângster Tony Montana, personagem interpretado pelo ator Al Pacino no filme “Scarface” (1983), do diretor Brian De Palma.
“Revi várias cenas e dei muitos prints em ângulos que achava interessantes. Também peguei muitas fotos antigas e atuais do Al Pacino, que hoje está com mais de 80 anos, para entender quais são os seus pontos marcantes. Ele tem uma zona T muito peculiar no rosto, com olhos meio caídos, mas não como os do Sylvester Stallone, além de um nariz grande, só que não como o do Adrien Brody, por exemplo. É difícil acertar, é penoso, uma questão de milímetros. É um paradoxo: quanto mais evoluo, mais sofro e demoro para fazer”, define o perfeccionista artesão.
O grande diferencial da peça de Tony Montana foi a produção da metralhadora M16 utilizada por ele na cena final do filme. “Eu me aventurei no universo da impressão 3D e do programa ZBrush, que é um software de modelagem, o que facilita muito a vida. Eu consegui fazer a arma inteira com a impressora 3D, mas todo o resto do processo é artesanal, 100% handmade, algo que não quero abandonar, pois gosto muito de colocar a mão na massa”, destaca Caio Morel, que despachou as primeiras 60 peças de Al Pacino em pouco mais de uma semana de pré-venda.
“Eu não sou avesso, acho que a impressora 3D serve como mais uma ferramenta, então estou colocando uma nova tecnologia em prol da qualidade geral do produto”, ressalta Caio Morel.
“Um passo que eu quero muito dar, mas ainda não não consegui por dificuldades técnicas, é produzir dioramas, que são maquetes artísticas que contam uma história, com personagens, criaturas, como se se fosse uma cena com movimento acontecendo. É um universo que me encanta demais, inclusive tenho umas cinco ou seis ideias incríveis na mente, mas precisaria de uma impressora 3D”, revela Caio Morel.
Porém, antes de se aventurar no universo dos dioramas, o novo desafio agora é produzir uma peça do vilão Calvin Candie, personagem interpretado pelo ator Leonardo DiCaprio no filme “Django Livre” (2012), dirigido por Quentin Tarantino, um dos campeões de vendas na loja de Caio Morel.
A ideia é fazer o boneco de Candie com o braço direito estendido, em referência à clássica cena da morte do personagem no filme, na qual ele insiste por um aperto de mãos para fechar negócio com o Dr. King Schultz (Christoph Waltz) pela compra da escrava Broomhilda (Kerry Washington), paixão da vida de Django (Jamie Foxx).
“Coloquei o Leonardo DiCaprio em uma enquete junto com o Kurt Cobain, o Salvador Dalí e a Frida Kahlo, que são personagens muito pedidos pela galera, portanto eu já tinha feito uma pré-seleção para chegar nesses quatro nomes. Eu realizei duas vezes a enquete e deu exatamente o mesmo resultado em dias e horários diferentes, então me parece que se eu fizer um bom trabalho com o DiCaprio, terei uma venda interessante”, espera Caio Morel.
“Eu faço enquetes e quizzes no Instagram para ver a reação das pessoas e saber quantas conhecem determinados filmes. É a única forma de realmente fazer uma pesquisa e poder mensurar”, aponta Caio Morel.
Cerca de 50% das vendas dos produtos acontecem através da loja virtual de Caio Morel (acesse aqui). Já a outra metade provém do Instagram, onde o perfil do artista (acesse aqui) conta com quase 35 mil seguidores, que assumem papel importante e decisivo ao funcionar como um termômetro para a escolha de cada nova peça que será desenvolvida pelo artista.
Para saber mais detalhes, confira abaixo a entrevista completa com o artista Caio Morel:
Como e quando surgiu a sua vocação pela modelagem?
Como a modelagem se fundiu com suas paixões por cinema e música para se tornar a sua atividade profissional?
Desde quando você trabalha com o ofício da modelagem?
Desde quando você possui o estúdio de modelagem em Vinhedo?
Qual o tamanho da sua realização pessoal em trabalhar com modelagem?
Ao todo, quantos bonecos você já produziu em seu estúdio de modelagem? Quantos fazem parte do estoque atualmente?
Qual o tamanho e o peso médio das peças que você desenvolve?
Quais são os personagens mais procurados e vendidos?
Quais são os seus bonecos prediletos, se é que você tem algum?
Qual a sua média de vendas por mês?
Você já recebeu encomendas de pessoas famosas e influentes?
Qual foi o impacto na procura e nas vendas do boneco do Freud entre janeiro e abril deste ano, em função da exposição no Big Brother Brasil?
Além do Big Brother, seus bonecos já apareceram outras vezes na televisão? Se sim, em quais programas ou novelas? E isso também impactou nas vendas?
A sua mais recente criação foi o boneco do Al Pacino como Tony Montana em “Scarface”. Como você se inspirou e como se deu o processo de produção desse personagem?
Qual foi o grande diferencial da produção do boneco do Al Pacino?
Atualmente, você está trabalhando na produção do boneco do Leonardo DiCaprio como Calvin Candie em “Django Livre”. Qual o critério que você utiliza para escolher quais serão as próximas peças?
Quais novos personagens e produtos você pensa em incluir no catálogo?
Para quem se interessar em adquirir algum boneco, como proceder para entrar em contato com você e realizar a compra?