O debate sobre as tragédias ocorridas neste Verão em Campinas, decorrentes de quedas de árvores de grande porte, ganhou definitivamente o ambiente político. Depois de uma série de iniciativas de parlamentares cobrando a verificação das condições do conjunto arbóreo dentro e nas imediações de creches e escolas públicas da cidade, mais um vereador coloca o tema em discussão.
Atuante em temas urbanos, o vereador Paulo Gaspar (NOVO) decidiu propor a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a eventual negligência do poder público no cuidado e manutenção das árvores da cidade. Trata-se de um dos temas de maior interesse da opinião pública, já que pedidos de poda e extração costumam lotar os escaninhos do Departamento de Parques e Jardins (DPJ).
A base do pedido da CPI é a dor das famílias que perderam seus entes queridos após a queda dessas árvores.
No requerimento, Paulo Gaspar lembra dos dois casos que impactaram a cidade. Em 28 de dezembro de 2022, uma figueira branca localizada no Bosque dos Jequitibás caiu na Avenida General Marcondes Salgado, atingindo um veículo. O motorista Guilherme Silva, de 36 anos, morreu na hora.
No último dia 24 de janeiro, terça-feira, outra tragédia chocou Campinas. A queda de um imenso eucalipto (entre 15m e 20m) na área próxima aos pedalinhos e à pista de caminhada da Lagoa do Taquaral, matou a menina Isabela Tiburcio Fermino, de 7 anos, que estava com a família no parque para comemorar o aniversário de uma prima. Uma mulher que caminhava na pista feriu-se gravemente e segue internada.
Imediatamente, o Parque foi fechado, assim como os demais da cidade.
Um dia antes a Pedreira do Chapadão também teve seus portões fechados ao público por conta do risco aos frequentadores. Pedras estavam caindo em razão das fortes chuvas das últimas semanas.
Negligência
Os dois casos e, em especial, a tragédia ocorrida na Lagoa do Taquaral geraram um imediato debate sobre eventual incúria dos gestores do parque, sob a responsabilidade da Prefeitura de Campinas. Reportagem do Hora Campinas mostrou que funcionários do Parque Portugal relatam a queda de outros eucaliptos em dias anteriores. O secretário de Serviços Públicos, Ernesto Dimas Paulella, negou.
De acordo com o vereador Paulo Gaspar, “o problema de quedas de eucaliptos sobre a pista de caminhado na Lagoa do Taquaral é antigo, pois já aconteceu em 01 de março de 2015”. De acordo com ele, “há inúmeros relatos de munícipes de que pedidos de poda e extração de árvores feitos pelo 156 e pelo Portal do Cidadão não são atendidos pela Prefeitura Municipal”.
“As pessoas aguardam anos pela resposta ou solução do problema que nunca vem”, afirma o vereador.
Gaspar salienta que os vereadores e vereadoras de Campinas “recebem todos os dias dezenas de pedidos para a poda e extração de arvores, que são objetos de indicações ou requerimentos de informações ao Executivo, visto que a população não consegue atendimento ou mesmo resposta clara por parte do Poder Executivo sobre a realização do serviço ou sua impossibilidade, como por exemplo a árvore estar saudável”.
“Outro problema é a realização de podas, muitas vezes altamente agressivas, que alteram o equilíbrio natural das arvores, seja pela Prefeitura seja pela concessionária de energia elétrica”, acrescenta o vereador. “No caso do Bosque dos Jequitibás há a suspeita que a poda as raízes da figueira contribuíram para a queda”, pontua.
O vereador afirma que a CPI, se criada, investigaria uma “eventual negligência na fiscalização do cumprimento das normas técnicas e legais na manutenção da arborização saudável e segura em parques e passeios públicos e eventuais falhas na realização de procedimentos técnicos e legais na execução, pelo Poder Executivo, de práticas de manejo preventivas na arborização pública”.
Ele toca ainda na questão do inventário. “A ausência realização de inventário arbóreo na cidade que possa apontar qual o estado das árvores existentes na cidade deve ser apurada, visto que sem este tipo de estudos novas tragédias poderão ocorrer”, finaliza Gaspar.
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