“Dois eucaliptos caíram aqui na semana passada. Esse lugar tinha que ter sido interditado faz tempo.” O comentário foi feito numa conversa entre dois funcionários que trabalhavam no Parque Taquaral no momento da queda de um eucalipto que atingiu e matou a pequena Isabela, de 7 anos, na terça-feira (24) pela manhã. O diálogo foi presenciado por uma usuária do Parque. “Era entre 9h40 e 10h e eu estava caminhando, do outro lado de onde aconteceu o acidente”, diz a aposentada de 55 anos, que preferiu não revelar seu nome.
Questionado, o secretário de Serviços Públicos de Campinas, Ernesto Paulella, diz que não aconteceram as quedas dentro do Parque. “Caiu uma árvore na quarta-feira passada durante a chuva, mas foi no meio da pista”, afirmou.
Perplexa com a tragédia de terça, a aposentada conta com decidiu voltar a frequentar o Taquaral há pouco tempo, mas que agora vai rever seus planos. “Eu não entro na parte das árvores faz muito tempo, vou ao ginásio quando tem jogo do Renata, não sou frequentadora. Mas esse ano voltei para caminhar na parte de fora. Só que agora nem isso mais vou fazer.”
A aposentada conta que na conversa entre os funcionários no parque, terça-feira, na ocasião da tragédia, eles atribuíam o risco de queda à forma das raízes do eucalipto.
“O comentário era de que se tratava de árvores com raízes curtas.” Essa característica, aliás, é reconhecida por Paulella. “São raízes fasciculadas”, define o secretário. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o eucalipto não é uma árvore indicada para parques.
Questionado se não foi um erro da Prefeitura manter o Parque Taquaral aberto após as chuvas fortes da semana passada, Paulella diz que a secretaria agiu conforme as evidências históricas. “Nunca houve um acidente dentro do parque e esse encharcamento do solo é uma situação nova para nós.”
Na segunda-feira, a Pedreira do Chapadão foi fechada por causa do risco de deslizamento de pedras, e no dia seguinte a Prefeitura determinou a interdição de todos os parques da cidade após a tragédia no Taquaral. Na semana passada, as chuvas que caíram em Campinas entre terça e sexta-feira provocaram alagamentos, desalojamentos de famílias e a queda de mais de 200 árvores. O caos levou a Prefeitura a decretar estado de emergência.
Riscos antigos
No Taquaral, as árvores estão presentes desde à época em que o local era uma fazenda. Quando surgiu o parque municipal, em 1972, os eucaliptos já estavam no espaço. E os problemas na área são antigos. O Hora Campinas teve acesso a um ofício datado do dia 31 de julho de 2012 em que a Administração do Parque Taquaral solicita ao Departamento de Parques e Jardins a avaliação de sete eucaliptos com risco de queda.
Em outro ofício datado do dia 7 de agosto do mesmo ano, a Secretaria de Serviços Públicos solicita ao Conselho Municipal de Meio Ambiente a vistoria das mesmas árvores. Na sequência, o conselho autoriza a remoção e determina o plantio de mudas nativas em boas condições para que haja a “compensação ambiental”.
Prefeitura pede análise
Nesta quarta-feira (25), a Prefeitura emitiu um ofício à Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística para solicitar ao Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) uma análise do fragmento florestal, de cerca de 2 mil eucaliptos, na Lagoa do Taquaral. Paulella explica que as árvores são protegidas por leis ambientais e, a partir da análise do IPA, é que as medidas serão tomadas com o principal objetivo de garantir a segurança no parque.
“Dependendo da análise, é possível que se aconteça a remoção de todos os eucaliptos, mas vamos aguardar”, disse o secretário, adiantando que a área onde estão os eucaliptos ficará isolada mesmo após a reabertura do Parque, que acontecerá depois do período das chuvas.
Inspeção com aparelho
A Secretaria Municipal de Serviços Públicos reforçou ainda nesta quarta (25) que faz o acompanhamento dos eucaliptos na Lagoa do Taquaral. Segundo a Prefeitura, em abril de 2015 foram examinados diversos deles por meio de uma tomografia feita com um aparelho chamado resistógrafo. O exame, que analisa a estrutura interna das árvores, foi realizado pela empresa Plant Care, especializada em arborização urbana e áreas verdes, em parceria com a Unicamp e com o acompanhamento da Secretaria de Serviços Públicos.
No exame, o aparelho é encostado na árvore. A execução aconteceu em sete eucaliptos com suspeita de alguma instabilidade na estrutura. Após a análise, essas árvores foram completamente extraídas da área, afirma a Prefeitura. A avaliação, enfatiza a Administração, demonstrou a real necessidade, uma vez que ofereciam risco de queda. Desde então, a Secretaria mantém a rotina de manejo dos eucaliptos, garante a Pasta.
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