Ralph Tórtima Filho, advogado do presidente da Câmara de Campinas, o vereador José Carlos Silva, o Zé Carlos (PSB), afirmou que a denúncia que levou à investigação e operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) na manhã desta quarta-feira (17) foi feita pelo vereador Marcelo Silva (PSD), por motivação política. Silva confirma ser o autor da denúncia, mas nega motivação política.
“O vereador Zé Carlos acredita que a denúncia seja fruto de perseguição política por parte do vereador que fez a denúncia, o Marcelo Silva, em razão de desentendimentos já havido entre eles”, afirmou Ralph Tórtima Filho.
Marcelo Silva, inicialmente, ficou surpreso ao saber que a informação sobre ter sido ele o autor da denúncia ter se tornado pública. Preferiu consultar seus advogados antes de dar qualquer declaração. Mas, depois, admitiu que fez a denúncia e que estava de posse de três gravações que comprometem o presidente do Legislativo, desde o início de 2021.
“Me trouxeram três gravações dos agentes ora investigados, o advogado e o presidente da Câmara. Foi no começo do ano passado que a pessoa me trouxe isso. Conversamos, e após alguns meses ele entendeu que deveria levar ao Ministério Público (MP). Se eu não agisse dessa forma estaria prevaricando e prevaricação é crime. Qualquer parlamentar no meu lugar faria o mesmo”, afirma Silva.
“Eu recebi uma denúncia grave, com três gravações. Eu ouvi as gravações. Elas ocorreram no gabinete, na Câmara. Diante da gravidade das gravações que foram mostradas eu apenas fiz como qualquer parlamentar faria se recebesse um material desse. Eu só comuniquei ao MP e depois não tive mais contato nenhum com nada”, ressalta o vereador.
Ainda de acordo com Silva, ele foi procurado por uma pessoa que tem contrato terceirizado na Câmara, já com as gravações efetuadas no gabinete do presidente.
“Eu não vazei nada do material que eu tinha há mais de um ano. Para preservar a presunção de inocência do presidente da nossa Casa. Se fosse divergência política já teria colocado isso à tona”, argumentou.
Entenda o caso
Apuração do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do estado de São Paulo (MPSP) aponta que assim que o vereador José Carlos Silva, o Zé Carlos (PSB), assumiu a presidência da Câmara de Campinas, em janeiro de 2021, foi iniciado um esquema de exigência de vantagens indevidas. O órgão aponta ter gravações que comprovam ato corrupção passiva por parte do parlamentar e de seu advogado comissionado, identificado como Rafael Creato.
Segundo a investigação do MP, diversos fornecedores passaram a ser chamados para reuniões com o advogado e com o vereador.
“Eles pediam vantagens indevidas para que os contratos fossem mantidos ou renovados. Não pediam um valor ou porcentagem, diziam ‘como vocês podem nos ajudar’, com quanto podem nos ajudar'”, explicou o promotor Rodrigo Lopes, do Gaeco de Campinas.
Ainda segundo a promotoria, o parlamentar e o advogado ameaçavam cancelar os contratos caso não recebessem a vantagem solicitada.
“Existem gravações feitas por empresários que comprovam a prática. O crime de corrupção passiva está comprovado. Corrupção ativa e lavagem de dinheiro estão em investigação”, aponta a promotoria.
De acordo com a investigação, o presidente da Câmara, Zé Carlos, desconfiou que pudesse estar sendo gravados durantes essas reuniões com empresário.
“Quando as reuniões aconteciam no gabinete, o presidente orientava que celulares e relógios deveriam ficar no banheiro justamente para evitar ser gravado”, explica Lopes.
As investigações começaram no segundo semestre de 2021, a partir de uma representação de um vereador da Câmara de Campinas que denunciou o esquema que foi montado dentro do Legislativo.
“Nos contratos que foram verificados até agora não foi demonstrado o pagamento das vantagens. Os empresários se recusaram. Mas outros contratos estão em investigação. Detalhes não serão divulgados porque o caso está em segredo para não atrapalhar as investigações”, explicou a promotoria.
O Batalhão de Ações Especiais (Baep) da Polícia Militar (PM) fez uma incursão na manhã desta quarta-feira (17) nas dependências do prédio da Câmara Municipal, na Avenida da Saudade, e também no Teatro Bento Quirino, no Centro, espaço que tem abrigado as sessões ordinárias e extraordinárias em razão de reformas no edifício principal. A operação surpreendeu os vereadores e a direção do Legislativo. A ação é de busca e apreensão.
Varredura apura corrupção contra Zé Carlos, presidente da Câmara